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domingo, 2 de abril de 2023

AOS 12 ANOS, 'MIGUELZINHO DO CAVACO' DE ITAPERUNA FAZ SUCESSO NA INTERNET E TEM IZA E NEYMAR COMO FÃS

Menino se apresentou, na semana passada, no Threatro Municipal, sob os olhares do presidente Lula e da ministra da Cultura Margareth Menezes
Ao participar da solenidade de assinatura do novo decreto federal de fomento à cultura no Theatro Municipal do Rio, no último dia 23, Miguel Vicente, de 12 anos, roubou a cena. Após cantar “Andança”, sucesso na voz de Beth Carvalho, ele quebrou o protocolo e tomou a palavra. Discursou sobre a importância da educação e da cultura, e se ofereceu para ser o “embaixador da alegria e da esperança” de todos aqueles que se inspiram nele. Foi acompanhado em coro, durante a música, e, depois da fala, aplaudido por uma plateia que incluía o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Cultura, Margareth Menezes — ambos saudados pelo menino. O episódio foi um ponto alto na trajetória do garoto pobre de Itaperuna, no Noroeste do estado, que vem emocionando multidões desde a primeira publicação despretensiosa na internet de um vídeo tocando cavaquinho.
— Segura essa pedrada aí! A favela venceu! — disse Miguel, finalizando o discurso no Municipal com um de seus bordões.
Miguelzinho do Cavaco faz sucesso nas redes sociais e nos palcos
Apenas 48 horas depois de comover as autoridades com sua ousadia inocente, o menino voltou a roubar a cena. Foi no Navio da Xuxa, evento realizado pela Rainha dos Baixinhos para comemorar seus 60 anos de idade em alto-mar. Era para Miguel fazer uma pequena apresentação na abertura do show da cantora Daniela Mercury. A baiana gostou do que viu e acabou convidando-o para dividir os microfones com ela em “Não deixe o samba morrer”, clássico do repertório de Alcione. Ontem, ele voltou ao Rio, convidado a participar de um evento ao lado de Thiaguinho, seu ídolo, com quem já dividiu o palco no “Domingão com Huck”, programa da TV Globo.
Iza e Neymar como fãs
No começo do ano passado, quando postou no Instagram um vídeo tocando cavaquinho e interpretando “Gratidão”, canção gravada por Xande de Pilares, Miguel não tinha ideia do que o talento e a internet fariam de sua vida. Contava então com menos de 30 seguidores na rede social — hoje são mais de 850 mil. Sua interpretação foi vista pelo sambista, que repostou e mandou uma mensagem para o garoto, elogiando o seu modo de tocar o instrumento. Pouco tempo depois, Xande o convidou a dividir o palco, numa apresentação na Barra da Tijuca, e o presenteou com um cavaquinho profissional.
Mais um vídeo seu foi repostado por pesos-pesados como Neymar, Iza, Martinho da Vila, Anderson Silva, Teresa Cristina e Sorriso Maroto, entre outros famosos. Bastou para o menino autodidata, que tocava um instrumento de brinquedo dos três aos cinco anos, sonhar alto e passar a pensar em ser artista.
— Meu sonho é viver da música e dar uma condição de vida melhor para meus pais e minhas irmãs, viajar pelo Brasil e até para fora do país, levando a minha alegria e minha arte — diz o jovem, que lançou nas redes sociais a música “Minha Inspiração”, onde homenageia as primeiras personalidades que reconheceram o seu talento.
Miguelzinho mora com os pais Rafael, de 40 anos, e Daniele Vicente, de 42, além das irmãs Rafaela, de 22, e Gabriela, de 21. Sua família trabalha em uma empresa própria, a Evidências Formaturas e Eventos, que presta serviços de fotografia. A atividade, no entanto, acabou ficando em segundo plano diante do sucesso do caçula, que já participou de diversos programas de TV, shows e fez até a propaganda de um grande banco, veiculada nos intervalos dos jogos da Copa do Mundo, em novembro passado. Hoje o pai se desdobra entre as formaturas e a organização da agenda do filho.
—Não estava acostumado com isso. Como pai fico orgulhoso. É uma coisa que ele gosta de fazer. Não é nada forçado. A hora que ele quiser parar, para mim tudo bem. Mas sinto que ele não quer. Vou apoiá-lo sempre — disse o pai.
O menino ganhou o primeiro cavaquinho de verdade de seu tio Alvino Junior e começou a aprender sozinho. Chegou a fazer aulas apenas por alguns meses. Quando esse tio morreu, Miguel ficou sem tocar por mais de um ano, até que voltou em 2020. Após nova perda, dessa vez do avô Alvino, em vez de deixar o cavaquinho de lado, ele transformou a dor em música. Por semanas, tirou das cordas do instrumento a música favorita do parente morto: “Naquela mesa”, de Sérgio Bittencourt.
Com o reconhecimento do público nas redes e dos fãs famosos, além dos convites para apresentações que não param de chegar, Miguel concluiu que era hora de se dedicar aos estudos de canto e do instrumento para se aperfeiçoar. O projeto agora é gravar um álbum autoral, mas faltam recursos.
— Veio a fama, mas não veio a grana — resume o pai.
Enquanto a oportunidade não chega, Miguelzinho do Cavaco posta seus vídeos nas redes sociais. O samba “Quando a Gira Girou”, sucesso de Zeca Pagodinho, já ultrapassou 3,8 milhões de visualizações no TikTok e tem mais de 1,7 milhão de curtidas. Elevado a celebridade, ele busca levar a vida normal de um garoto de Itaperuna, que cursa o 7º ano do ensino fundamental numa escola particular — entre um sucesso e outro nas redes.

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