Prefeitura prometeu fiscalizar a situação.
De segunda a sexta-feira, Gabriel, de 13 anos, acorda às 5h e leva o irmão mais novo Emanuel, de 7, para a escola, no interior de Santa Maria de Jetibá, região Serrana do Espírito Santo. Sem transporte escolar, os irmãos fazem um percurso de ida de cinco quilômetros em uma hora e quarenta minutos, mas o problema é que o mais velho não estuda na mesma instituição, então acaba se atrasando e perdendo a van que o levaria para a escola, que para em um ponto longe da casa. Por isso, Gabriel não consegue estudar e passou a ajudar o pai na lavoura. Assim como ele, outras crianças do município enfrentam a situação. A prefeitura prometeu fiscalizar.
A família descendente de pomeranos tira os sustento do trabalho no campo, e por causa desse serviço, os pais não conseguem manter a obrigação de levar os filhos à escola. Sem o transporte, as crianças da região têm que andar debaixo de sol forte ou de chuva por uma estrada que leva à escola Unidocente Cabeceira do Rio Possmoser, local que o irmão de Gabriel estuda e que pertencente à prefeitura.
A dele fica ainda mais longe: a escola Alto Rio Possmoser, que pertence ao estado e fica no centro urbano da cidade. “Eu acordo às 5h e coloco a roupa. Aí pego a mochila e vou. Levo meu irmão por cinco quilômetros e depois tenho que percorrer mais um para chegar ao ponto da minha van. Mas parei de ir porque é muito longe, se eu atraso um minuto a van já foi embora. Tem vezes que ela não aparece. Amigos meus que moram perto da minha casa também pararam”, desabafou o adolescente.
Com isso, o sonho de estudar para ser maquinista vai ficando cada vez mais distante. "Sei que ficar sem ir à escola me prejudica. Depois os outros têm uma profissão e eu estou na roça. E eu não quero ficar para sempre na roça", disse Gabriel.
O percurso dos irmãos é feito em uma estrada de chão com trechos esburacados e passa por propriedades com plantações de milho, vagem, quiabo e repolho, o mesmo percorrido por outras crianças da região. São cinco quilômetros na ida e mais cinco na volta. Em uma semana de aula, estudantes com idades de 6 a 13 anos andam 50 quilômetros, totalizando no final de um mês 200 quilômetros de caminhada.
Além disso, ainda há o perigo causado pelos cachorros que protegem as fazendas. "Tem um cachorro que sempre pula e mim, sempre quer me morder", contou Carlos Luan, de 11 anos.
Saúde
O lavrador Valdir Gabriel, de 27anos, é pai de uma menina de quatro. Ele contou que não se conforma com a situação e afirmou que jovens e adultos têm transporte escolar na região, mas as crianças da localidade não. Por causa da caminhada longa e cansativa, muitas adoecem.
"As criancinhas, coitadas, enfrentam o calor, o frio. Muitas adoecem. Então fica difícil você olhar a entender essa situação, tinha que ter transporte para atender todas elas", disse o lavrador.
Trauma
A adolescente Carla Janckott, de 13 anos, parou de estudar há dois anos e contou que está traumatizada. Segundo ela, nem se a van escolar parasse na porta de casa, ela voltaria a frequentar as aulas. "Não vou mesmo, cansei dessa situação, de tudo que já passei para ir à escola. Tinha que andar muito. Aqui na região, quem ainda continua indo está se sacrificando", relatou a menina.
Enquanto fica em casa, Carla ajuda a mãe Selmarinde Janckott. Ela contou que viu toda a beleza se perder no trabalho na roça, e que sonhava um futuro diferente para a filha. "É muito triste, a gente pensa em um futuro melhor para nossos filhos. Não queria ela na roça", declarou.
Prefeitura
A controladora geral de Santa Maria de Jetibá, Catarina Modenese, disse que a lei determina que a prefeitura ofereça transporte quando a distância for de 3 km entre a casa do aluno e o ponto, o que segundo ela, vem sendo feito. Mas a reportagem acompanhou a história dos dois irmãos e constatou que eles percorrem uma distância maior. Dessa forma, o secretário municipal de Educação, Charles Netto, disse que a Secretaria Estadual de Educação vai mudar o ponto de encontro do transporte escolar, e Gabriel vai caminhar menos 400 metros.
O secretário ainda afirmou que a prefeitura conta com 180 veículos escolares, que percorrem 9 mil quilômetros diariamente. Ele contou que que existe uma parceria entre estado e prefeitura, e que o transporte contempla até universitários.
O prefeito Eduardo Stuhr disse que o transporte escolar tem a maior licitação do município: R$ 4 milhões por ano. E por conta disso, vai fiscalizar o problema e investigar se os transportadores não estão fazendo a rota completa.
Do G1 ES, com informações da TV Gazeta