Depois de mexer no celular de sua companheira e de ver uma mensagem que não o agradou, Davi Pereira de Souza, de 24 anos, espancou a mulher e a torturou, usando um alicate e um soquete de carne, por seis horas seguidas. Após fugir para uma mata e de procurar socorro em um hospital, ela denunciou o espancamento à polícia e Davi foi preso. O caso, que aconteceu na terça-feira de carnaval, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, não é um fato isolado. De acordo com a delegada Mônica Areal, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) da cidade, mensagens de WhatsApp já são o segundo maior motivo alegado por agressores.
O motivo só é superado pelo consumo excessivo de álcool e de drogas de maridos e companheiros, que ocupa o primeiro lugar no ranking da violência doméstica feito pela Deam. À frente da unidade de Nova Iguaçu há 40 dias, a delegada já prendeu 15 homens, apontados por mulheres como autores de algum tipo de agressão. Deste total, em pelo menos cinco casos, os episódios de violência doméstica tiveram origem a partir da descoberta de mensagens do aplicativo.
— Um juiz passou este dado numa palestra de violência doméstica, mas também vivo isso no dia a dia da delegacia. Fiquei cinco meses na Deam de Volta Redonda e lá era a mesma coisa que aqui em Nova Iguaçu. Atualmente, mensagens de WhatsApp são a segunda maior causa das agressões. Geralmente, os companheiros invadem a privacidade e leem mensagens que não gostam ou acham que estão sendo traídos. E aí, agridem, espancam e torturam por isso. Peço sempre para a mulher não ter vergonha de procurar a polícia e de denunciar. Ao notar que está num relacionamento abusivo, a mulher deve sair dele — disse a delegada.
No caso da vítima espancada por seis horas, que também teve o cabelo cortado com uma faca, o autor da agressão confessou o crime ao ser ouvido na delegacia. Ele ainda tentou justificar o comportamento agressivo .
— Ele confessou. Disse ter lido as mensagens e pensou em traição e por isso a agrediu. Não há justificativa para este tipo de coisa — ressaltou Mônica Areal.
A delegada Juliana Emerique, coordenadora geral das 14 Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam) do estado, diz que os agressores também têm utilizado as redes sociais para fazer ameaças contra mulheres. Emerique frisa que, em casos assim, as vítimas devem salvar as postagens, que poderão servir como provas.
— Eles (agressores) também ameaçam por aplicativos. Por isso, é importante guardar a mensagem como prova. Isso pode ajudar, inclusive, para uma futura medida protetiva — ensinou a coordenadora.
Há ainda o outro lado da moeda, quando os agressores utilizam as redes sociais. Em alguns casos de violência doméstica, os autores deste tipo de crime acabam sendo identificados e presos após a agressão ser divulgada na internet. Foi o que aconteceu, por exemplo, num caso de estupro de vulnerável em Volta Redonda, no ano passado.
—Às vezes a rede social mostra os crimes. Tivemos um caso de estupro de vulnerável em que chegamos a todos os envolvidos através das redes sociais. Eles foram identificados e presos — disse a delegada Mônica Areal.
Davidson Gomes da Silva está preso desde 28 de fevereiro, por suspeita de torturar a professora Rosana Louzada, por 12 horas seguidas. A agressão ocorreu no dia 18 do mesmo mês, depois que ele visualizou mensagens no telefone da vítima e desconfiou de uma traição. Na última terça-feira, a delega Fernanda Fernandes, da Deam de Duque de Caxias, pediu à Justiça que a prisão temporária de Davidson fosse convertida em prisão preventiva.
A Justiça deve decidir se atende ou não o pedido até a próxima sexta-feira, data em que se esgota o prazo de validade da prisão temporária. A hipótese de que Davidson saia da prisão deixa a vítima de tortura apavorada.
— Eu me mudei da casa onde morava . Estou apavorada! Tenho certeza de que, se ele sair, virá atrás de mim — disse a professora.
A Polícia Civil já ouviu uma ex-namorada de Davidson. X. foi agredida por ele, durante seis horas, em 2016:
— Ele pegou meu telefone e pediu para que eu desbloqueasse o acesso. Começou a dizer que eu deveria confessar que tinha outra pessoa. Em seguida, me agrediu de dez da noite às 6h do dia seguinte.
Jornal Extra