No fim de julho, um adolescente baleou a irmã ao manusear um revólver em Bom Jesus do Itabapoana O tiro acidental que deixou uma menina de oito anos em estado gravíssimo em Bom Jesus do Itabapoana, no Noroeste Fluminense, no último sábado (30), reacendeu a discussão sobre os riscos de se ter uma arma de fogo em casa. A criança foi atingida pelo próprio irmão, de 16 anos. O projétil entrou pelo nariz e se alojou na nuca, em uma área de difícil remoção. A origem da arma não foi revelada e o caso está sendo apurado pela Polícia Civil. O caso tomou grande proporção nas redes sociais e uma corrente de orações foi formada por pessoas comovidas pela tragédia envolvendo uma criança e um adolescente. A menina está internada na UTI pediátrica do Hospital São José do Avaí, em Itaperuna, e o irmão foi ouvido na delegacia e liberado. Na hora do ocorrido, os dois estariam sozinhos em casa.
Para se ter uma arma legalizada em casa é necessário passar por um rigoroso procedimento que pode ser avaliado pelo Exército Brasileiro ou pela Polícia Federal. O proponente não pode responder a processo criminal e precisa cumprir uma série de critérios, que englobam avaliação psicológica, uma vasta lista de certidões negativas e, finalmente, a prova de tiro. Ambas autorizações permitem a posse de arma em casa e o transporte apenas da casa para o clube de tiro. Já as autorizações de porte de arma são muito restritas, e dependem, principalmente, da natureza do trabalho do proponente.
No Estado do Rio, em 2021, foram concedidas pela Polícia Federal 13.984 autorizações para aquisição de armas de fogo. O Exército Brasileiro não informou o número de autorizações concedidas.
Instrutora de tiro diz que arma demanda cuidado
A advogada, empresária e instrutora de tiro Valéria Melo é defensora da posse de arma para defesa própria e ressalta que é necessário todo um cuidado para mantê-la fora do alcance de pessoas não habilitadas para utilizá-la. A recomendação, inclusive do Exército, é que a arma fique guardada dentro do seu quarto trancado e que você tenha um cofre para guardá-la. Inclusive, as inspeções do Exército pararam por causa da pandemia e vão ser retomadas, porque você tem que cumprir essa exigência”, ressalta.
Outra dica de Valéria é que a arma nunca seja manuseada na presença de crianças ou adolescentes. “A limpeza da arma, a desmontagem ou qualquer contato com ela deve ser feito a distância das outras pessoas. Eu tenho dois filhos e eles não têm nenhum acesso às nossas armas”, diz Valéria.
Valéria possui um clube de tiro em Campos, com mais de 1,1 mil sócios, dos quais 30% são mulheres. “Para se ter uma arma é importante estar preparado para utilizá-la. Não adianta ter e não praticar. Você precisa se manter treinado”, afirma.
Ela também explica que a posse de arma permite apenas que você a tenha em casa e a transporte até o clube de tiro, não permitindo andar armado na rua.
Para especialista, riscos aumentam
O especialista em segurança Roberto Uchôa afirma que ter uma arma em casa não torna a família mais segura.
“Há uma falsa ilusão de que uma arma de fogo em casa oferece segurança aos residentes, isso porque várias pesquisas nacionais e internacionais comprovam que a presença de arma de fogo fragiliza as pessoas e não torna as vidas delas mais seguras. Inclusive, uma pesquisa recente publicada nos Estados Unidos, onde se acompanhou milhares de famílias na Califórnia ao longo dos anos, comprovou que a simples existência de uma arma de fogo dentro de uma residência faz com que as pessoas tenham duas vezes mais chances de serem vítimas de homicídio, três vezes mais chances de serem mortas por armas de fogo e sete vezes mais chances de serem vítimas de violência doméstica por armas de fogo. Eu, enquanto pesquisador, posso afirmar que uma arma em casa fragiliza muito mais”, afirma Uchoa.
Jornal Terceira Via