Previsão é de chuva forte a partir de meados de outubro
Após um longo período de seca, além do racionamento de água, os moradores da Grande Vitória e de outros municípios do Estado vão enfrentar um outro problema: as enxurradas. É o que pode ocorrer, segundo estimativa dos meteorologistas, com a vinda das pancadas de chuva esperadas para meados de outubro.
O coordenador do Centro de Meteorologia do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), José Geraldo Ferreira da Silva, explica que os últimos três anos de estiagem deixaram o solo seco e degradado.
Neste cenário, quando as pancadas de chuvas mais fortes chegarem, o que está previsto para meados de outubro, a água não conseguirá ser absorvida. “Ela vai atingir o solo, impermeabilizá-lo e vai escoar. Como não há vegetação, o percentual de infiltração é muito pequeno”, explicou Ferreira.
E é neste momento que podem ocorrer as enxurradas, cuja força dependerá do volume de água da chuva. Um motivo a mais de preocupação, observa Ferreira. “Todo início de período chuvoso temos transtornos, principalmente nas áreas urbanas. O problema agora foi agravado pela longa estiagem”, acrescentou Ferreira.
Só para se ter uma ideia da situação, levantamento realizado pelo Incaper revela que na maior parte do solo do Estado (veja infografia ao lado) o armazenamento de água não supera os 10 milímetros. E a parte onde há um pouco mais de água – Região Serrana e Grande Vitória – não ultrapassa os 60 milímetros.
Previsões
Para o mês de setembro, a expectativa é de que chova dentro da média ou até um pouco abaixo e a temperatura permaneça alta. Mas tradicionalmente já é um mês de pouca chuva, oscilando em até 90 milímetros, de uma média máxima de 300 milímetros. “As chuvas deste mês não serão suficientes para resolver o problema de estiagem no Estado”, pondera Ferreira.
Em outubro a situação começa a mudar, principalmente na segunda quinzena, com chuvas de até 120 milímetros. É a partir deste mês que começam as preocupações com as enxurradas.
Já em novembro a expectativa é de chuvas mais fortes, até 250 milímetros. Mas ainda não é possível estimar se vão ocorrer enchentes como a registrada no Estado em 2013. “Só com 2 ou 3 dias de antecedência”, explica Ferreira. Em 2013, na Grande Vitória, por exemplo, choveu 4 vezes acima da média, que era de 200 milímetros.
“Temos 0,5% de chance de isto acontecer”, disse o coordenador.
Racionamento
Mas até as chuvas chegarem, a preocupação continua sendo o abastecimento humano. Dezenove cidades estão em situação extremamente crítica. Em 13 delas – atingindo 17 localidades – já estão sob racionamento. A maior parte está nas regiões Norte e Noroeste.
Uma situação que poderá atingir a Grande Vitória nos próximos 30 dias ou até antes, caso a vazão dos rios que abastecem a região seja reduzida pela seca. Há pouco mais de uma semana a Cesan solicitou a população que reduzisse o consumo de água.
20% das cidades têm Defesa Civil estruturada
Apenas 20% das cidades capixabas contam com uma Defesa Civil estruturada. O que representa um problema nos casos de enfrentamento de situações mais graves, como enxurradas, inundações e enchentes, como destaca o coronel Fabiano Bono, coordenador da Defesa Civil Estadual.
Ele relata que há pouca procura pelos cursos de treinamento, agora oferecidos em várias cidades. “Há pouco interesse dos municípios em se preparar. Há cidades que não contam nem com um funcionário destinado a Defesa Civil e 0% de servidores treinados para as situações de emergência”, relata Bono.
O argumento utilizado por muitas cidades tem sido a crise econômica, relata o coronel, o que os impediria de fazer investimentos no órgão. “Nas cidades mais carentes a situação é pior. Mas pode se complicar ainda mais em casos de tragédias naturais”, pontua.
Além de uma equipe estruturada, cada cidade precisa preparar seu plano de contingência, com os detalhes de como deverá atuar nas situações de emergência.
O Espírito Santo possui a identificação de todas as áreas de risco no Estado, feito pelo Serviço Geológico Nacional (CPRM). É com base nessas informações que cada município pode traçar o plano de suas áreas de risco. “Tem que identificar quantos vivem nestes locais, o grau de risco, para onde vão ser levadas estas pessoas, se há abrigo para todos”, explica Bono alguns detalhes do plano.
Para complicar a situação, sem o treinamento ou equipe estruturada, algumas cidades não têm acesso aos mecanismos de ajuda que podem auxiliá-los nos momentos de emergência. “Não fizeram o dever de casa e na hora de um problema maior não conseguem nem pedir ajuda”, assinala o coronel.
Na Grande Vitória a situação é melhor e as cidades contam não só com uma boa estrutura, mas também com equipes treinadas e com plano de contingências.
Estado
Mas o Estado também enfrenta problemas, como relata o coronel Bono: “Também temos nossas dificuldades. Este ano só recebemos R$ 100 mil para estruturar a Defesa Civil regional”.
Numa situação de emergência, em que é necessária uma resposta rápida, acrescenta, vai contar com o apoio do Corpo de Bombeiros. O passo seguinte será acionar o apoio de outras secretarias e órgãos que possam contribuir com máquinas e com equipes.
Vazão do Rio Jucu cai, e a do Santa Maria sobe
A vazão de um dos rios que abastecem a Grande Vitória, o Rio Jucu, vem diminuindo desde o último dia 1º. Mesmo com a piora, a Cesan informou que ainda está conseguindo fazer a captação de água no manancial. Desta forma, não precisou lançar mão do racionamento de água.
Mesmo assim, afirma por intermédio de nota, que a situação continua grave. “O que não descarta a necessidade extrema de economia e conscientização da população”, diz a Cesan.
Em cinco dias a vazão do Rio Jucu caiu de 4.061 litros/segundo para 3.680 litros/segundo. O seu limite crítico é de 5.292 litros/segundo. Já no Rio Santa Maria da Vitória a vazão aumentou no mesmo período, passando de 2.359 litros/segundo para 2.571 litros/segundo. O seu limite crítico é de 3.800 litros/segundo.
No último dia 31 foi solicitado a redução do consumo com o alerta de que poderia haver racionamento. O problema decorre da longa estiagem que afeta também a Grande Vitória.
O presidente da Cesan, Pablo Andreão, informou em entrevista concedida no último dia 31, que o racionamento pode ser uma alternativa caso não chova nos próximos 30 dias ou a vazão dos rios caia em pelos menos 10%.
De janeiro a julho do ano passado houve uma economia de 7,5 bilhões de litros de água. Um padrão de consumo que se manteve no mesmo período deste ano. “Estamos trabalhando com um quarto da vazão que os dois rios que abastecem a Grande Vitória já tiveram. Temos que nos preparar para um cenário pior”, observou Andreão.
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