A Rede decidiu neste sábado lançar o nome de Marina Silva como pré-candidata à Presidência da República em 2018. A decisão foi tomada em reunião dos grupos regionais do partido, os chamados “elos”. Em quase uma hora de discurso, Marina disse que depois de um longo processo de reflexão decidiu encarar pela terceira vez o desafio de concorrer à Presidência. Ela reconheceu que será “uma campanha ralada” e apontou como desafios o financiamento e o tempo de TV de que disporá. A Rede terá apenas 12 segundos de aparição no horário eleitoral gratuito. Como é um partido novo, não elegeu deputados em 2014, critério usado na repartição do fundo partidário.
— Sei que vai ser muito difícil, que vai ser uma campanha ralada, mas uma campanha ralada dói bem menos do que um país partido — disse.
Marina, que é evangélica, afirmou que é uma mulher de fé e disse que, embora na política isso não seja muito comum, é preciso “oferecer a outra face”. Ela disse que enfrentará a supremacia de seus adversários com uma estrutura “franciscana”.
— Se eles vêm com uma campanha milionária, vamos com uma campanha franciscana. Onde houver ódio, que levemos o amor. Não vamos tratar ninguém como inimigo, vamos travar o bom combate — propôs.
OPERAÇÃO ‘LAVA-VOTO’
Os motes de sua campanha deverão ser o combate à corrupção e a “prosperidade”. Ela reconheceu que há uma leve retomada da economia em curso, mas avaliou que não é algo sustentável. Em referência à operação Lava-Jato, propôs que nas eleições de 2018 os eleitores promovam a operação “Lava-voto”. E sugeriu que tanto o seu antigo partido, o PT, quanto o partido de Michel Temer e seus aliados tirem um período sabático, abrindo espaço para que a Rede assuma o Palácio do Planalto. Ela não citou nominalmente nenhum de seus prováveis rivais na disputa presidencial.
— A gente tem que dar para o PT, PMDB, PSDB, DEM e seus aliados um sabático de quatro anos para que eles possam reler seus estatutos, olhar na cara das pessoas e se reinventar, e depois se colocar de novo na disputa. Quem tem que pagar na Justiça paga. Ninguém está acima da lei. Para nós, Justiça não é vingança, é reparação. Não podemos concordar com essa lógica do ‘rouba, mas faz’, ‘rouba, mas é de direita’, ‘rouba, mas é de esquerda’ — apontou.
Ela refutou o carimbo de mulher fraca, que sempre é usado por adversários durante as campanhas. O nome de Marina ainda será levado à convenção para ser ratificado como pré-candidata. Hoje foi uma espécie de aclamação, na qual o partido a escolheu como candidata, e ela disse “sim”.
— Eu vim ouvir o sim da Marina. Nós somos noivos no altar querendo ouvir o sim. Sabemos que nós vamos enfrentar o que se imaginar de mais pornográfico na política. Nós somos é rebeldes, não nos conformamos com o que está se passando no Brasil — disse o deputado federal Miro Teixeira (RJ), que é pré-candidato ao governo do Rio.
Já o senador Randolfe Rodrigues (AP) disse que a candidatura de Marina será a primeira candidatura “anti-sistêmica” do Brasil.
CRÍTICAS AO GOVERNO TEMER
Antes da fala de Marina foi lida uma carta repleta de críticas ao atual governo e à ação política do “conluio”. O documento também condena as reformas ora propostas. O presidente Michel Temer batalha para tentar aprovar ainda este ano a reforma da Previdência.
“Não aceitamos mais como regra da ação política o conluio que coloca o patrimônio de toda a sociedade a serviço de interesses individuais ou de grupos. Sem falar daqueles que assaltaram – e dos que continuam assaltando – os cofres públicos para enriquecimento próprio ou para irrigar seus projetos de poder, e que, com impressionante cinismo, falam hoje em ‘reformas imprescindíveis’ para ‘salvar o país'”, diz a carta.
O texto diz ainda que a Rede fará coligações com partidos que tenham “protagonismo ético, compromissos sociais e ambientais”. A questão das alianças partidárias é um dos principais obstáculos que a legenda de Marina deve enfrentar nas eleições. No pleito passado, quando concorreu primeiro como vice de Eduardo Campos e depois como cabeça de chapa, após a trágica morte do pessebista, a ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora conquistou mais de 20 milhões de votos. Ela ficou em terceiro lugar na disputa e, no segundo turno, apoiou o tucano Aécio Neves contra Dilma Rousseff.
O partido diz que, em 2014, Marina sofreu com tentativas de “desconstrução de sua liderança”, mas que hoje representa uma alternativa rela para “unir a sociedade e superar o ódio, as mentiras, a polarização e a descrença”. Nesse primeiro manifesto pré-eleitoral, a Rede lança como uma de suas bandeiras o combate à corrupção. A questão ambiental e social também são apontadas como prioritárias. No evento, também estava presente a ex-senadora Heloísa Helena, que ainda não decidiu se concorrerá ao Senado ou à Câmara dos Deputados.
O Globo/Campos 24 Horas