Cláudio Castro e o governador Wilson Witzel-Foto: Marcelo
Theobald
O processo de impeachment aberto pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) contra o governador Wilson Witzel fez um nome ganhar projeção nos bastidores do poder: o do vice, Cláudio Castro. Há quatro anos, Castro era chefe de gabinete do deputado estadual Márcio Pacheco (PSC), com quem trabalhou na Alerj por 11 anos. No período, perdeu uma eleição para vereador do Rio, em 2012, mas conseguiu a cadeira no pleito de 2016. A atuação na Câmara foi interrompida de forma inesperada. Em 2018, aceitou ser vice de um ex-juiz federal desconhecido da maioria do eleitorado, em uma chapa puro-sangue do PSC. Com a vitória do azarão Wilson Witzel, Castro foi a reboque para o Palácio Guanabara. A carreira meteórica do político de 41 anos pode culminar, este ano, com o comando do governo do estado. No entanto, estar na linha sucessória em meio ao processo de impeachment se apresenta como uma faca de dois gumes.
A aliados, Castro tem se queixado de que virou alvo do próprio Palácio Guanabara, que estaria fazendo um levantamento sobre sua vida e divulgando informações comprometedoras com o intuito de enfraquecê-lo politicamente. O vice, que assumiu a articulação política de Witzel na Alerj com a saída de André Moura, acredita que foram assessores do governador que forneceram dados para uma reportagem que mostrou que Castro tem dois irmãos de criação e uma cunhada nomeados para cargos em comissão no estado.
O Cláudio Castro tem certeza de que foi o pessoal do Witzel. Ele diz que não deve ter tido o dedo do governador. Mas sabe que partiu do pessoal dele — revela um amigo do vice.
Procurado pelo EXTRA, Castro limitou-se a dizer que “tomou conhecimento do assunto pela imprensa”.
A “fritura” política teria começado na semana passada, quando o nome de Castro ganhou força entre os deputados estaduais.
— O Witzel é um cara do bem, mas tem uma postura soberba. Foi juiz por muitos anos, então adota aquele tom formal, meio que olhando de cima para baixo. Já o Cláudio é conhecido dos deputados desde que era assessor do Márcio Pacheco. É cria da Alerj. Então o deputado pensa: “Se eu tenho ‘x’ cargos no governo com o Witzel, com o Cláudio posso ter muito mais”. Fica até difícil para Witzel barganhar — avalia um parlamentar.
Outros dois deputados de partidos diferentes disseram também ter a mesma visão. Witzel precisa de 35 votos (metade do parlamento) para evitar o impeachment.
Intenção de pacificar relação com presidente
Outro ponto visto como favorável a Castro na Alerj é o fato de o vice se manter preservado da rixa com a família Bolsonaro. A interlocutores, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) diz ter relação cordial com o vice de Witzel. Castro, por sua vez, tem dito que, se assumir o estado, vai procurar o presidente para “pacificar a relação” entre as esferas.
— Sempre fui contra a briga entre o Wilson e o Bolsonaro. Essa briga é muito prejudicial para ambos — confirmou ao EXTRA e acrescentou: — Quando digo que vou procurar o Bolsonaro, estou seguindo a linha do próprio governador, que já vem pedindo agenda com o presidente para tratar das questões do estado. Reforço que sou contra o impeachment, pois não vejo crime de responsabilidade do Wilson.
Na origem, a religião
A religião abriu as portas da política para Cláudio Castro. Cantor gospel, foi na Paróquia São Francisco de Paula, na Barra, que teve o primeiro contato com Márcio Pacheco. Em 2004, o deputado chamou Castro para ser seu chefe de gabinete. Com a amizade, um foi padrinho de casamento do outro. Outro político muito próximo ao vice é o deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ). Ambos se conheceram em 2003, Leal presidia o Detran e Castro foi estagiário na autarquia.
Jornal Extra