Páginas

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

UMA AVENTURA CANSATIVA E DESCONFORTÁVEL NA REGIÃO DO CAPARAÓ

O ajudante de caminhão, Magno Souza, sentiu na pele o que é viajar mais de cinco horas em um ônibus intermunicipal, sem ar-condicionado, e tendo que parar várias vezes, ao longo das rodovias que ligam São José do Calçado a Vitória. O caminhão de entregas no qual ele trabalha apresentou problemas mecânicos e a saída foi encarar o coletivo sem conforto, calorento e empoeirado.
“O caminhão da empresa, apesar de ser mais pesado e bruto, é muito mais confortável que esse ônibus. A viagem é desgastante, o calor é de matar e as estradas não ajudam. O único conforto é o banheiro, mas, mesmo assim, são muitas paradas no caminho, o que aumenta o tempo de viajem”, reclama. Mas o que Magno não sabe é que existem trajetos bem piores que o que ele percorreu na tarde de ontem.
Para a estudante Ivy Zini, 16 anos, a situação é bem pior. Ela estuda em Dores do Rio Preto e vai para Espera Feliz, em Minas Gerais, toda semana. Além de não ter ar-condicionado, o ônibus que ela utiliza não tem banheiro. “É um sufoco. Eu lancho no ônibus. Então, não tem água, nem pia para fazer higiene bucal. Além disso, apesar das paradas, sempre bate uma vontade de usar o banheiro fora do ponto, piorando a situação. Já vi grávidas sofrendo por isso”, desabafa.
O motorista que faz a linha Espera Feliz x Dores do Rio Preto há alguns anos, José Kleber, concorda com os passageiros e diz que, sem ar e sem banheiro, todo mundo reclama. “Faço esse trajeto há muitos anos e realmente é sacrificante. Preciso parar em diversos pontos e fora deles, para atender pedidos dos passageiros. Grávidas, crianças e até pessoas que ingerem cerveja são os que mais pedem para parar, e isso atrasa a viagem”, revela.
Falta de educação
E quando o motorista não é lá muito educado e acaba constrangendo os passageiros? Foi exatamente o que aconteceu com a micro-empresária Adjani Francisca de Oliveira, 36, que ontem estava na rodoviária de Guaçui. “Já me deparei com motorista que faziam curvas de qualquer jeito. Reclamamos e ouvimos todo tipo de grosseria. Sem conforto, no calor, sem banheiro e com um profissional irresponsável. As empresas precisam melhorar muito, para levar um bom serviço aos usuários do transporte coletivo”, afirma.
Um motorista que preferiu não se identificar disse que passou da hora das empresas oferecerem mais conforto aos passageiros e aos funcionários. “Não é muito grande a diferença de preço de um ônibus com ar condicionado e um sem. E isso se refletiria no conforto do usuário”, comenta. Outro encarregado de pista foi mais ríspido, chegando a dizer que “quem quer conforto precisa viajar de veículo próprio”.
Nas empresas procuradas para falar sobre o assunto, a resposta veio por meio da legislação. Todas foram unânimes em afirmar que cumprem a lei, a qual diz que, para distâncias até 200 quilômetros, os ônibus não precisam de banheiro.
Lei
Quanto ao ar condicionado, desde maio de 2013, tramita na Câmara de Deputados um projeto de lei que determina que todos os veículos de transporte coletivo do País devem ser equipados com aparelho de ar-condicionado. A proposta foi apresentada pelo deputado Democrata fluminense, Rodrigo Maia.
O empresário do setor de transportes, Liemar Pretti, disse que a instalação de banheiros em coletivos destinados à distâncias de até 60 quilômetros fica muito cara. “Perdemos quatro passageiros retirando duas poltronas para colocar os sanitários. Isso sem contar com a manutenção e os roubos até de papel higiênico. Fica mais barato parar em pontos estratégicos na estrada”, revela. Quanto ao ar-condicionado, Pretti diz que o serviço é ainda tratado como uma cortesia para o usuário, já que a lei não esta regulamentada.
Enquanto isso, o cidadão sofre pelas estradas da vida, tendo poucos recursos para reclamar e aliviar o cansaço.

Aqui Notícias

Nenhum comentário:

Postar um comentário