“Estava lendo o estudo do Imperial College de Londres (que projetou para o Brasil um mínimo de 44 mil mortos pela pandemia da Covid-19), que são os maiores especialistas da área. Certamente vamos ter um aumento do número de casos importante nas próximas semanas. E, do meio ao final de abril, uma explosão no número de casos. E aí a gente trabalha a cada duas, três semanas. O que a gente pode afirmar hoje, categoricamente, é: o número de casos vai subir muito e até o final do mês nós estaremos na aceleração máxima do crescimento. Quanto tempo isso vai durar? Não dá para dar certeza, mas certamente não será algo rápido. A gente deve ter esse período de exceção, no mínimo mais um mês, 45 dias. Na melhor das hipóteses, daqui a 45 dias as coisas poderiam começar a diminuir e a gente ir afrouxando alguma medida (de confinamento). Certamente, o ano de 2020 não será um ano normal”.
Foi o que esclareceu ao programa Folha no Ar da manhã de hoje, na Folha FM 98,3, o médico infectologista Rodrigo Carneiro. Servidor da Saúde Pública de Campos no Hospital Geral de Guarus (HGG), ele trabalha também em outro hospital referência da região, o São José do Avaí, de Itaperuna. Apesar da gravidade do quadro que a população brasileira vai enfrentar a partir de meados deste mês de abril, passando por maio e com perspectiva de diminuição talvez só a partir de junho, ele acredita que Campos esteja se preparando bem para enfrentar a crise, com a instalação do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus, no prédio novo da Beneficência Portuguesa, que entrou em atividade em 30 de março. Assim como o hospital estadual de campanha no município na área da antiga Vasa, que o Governo do Estado promete entregar no final do mês:
— A gente está próximo do segundo centro maior centro do Brasil em número de casos e vamos pegar a rebarba disso, certamente. Teremos muitos casos em Campos. Eu vejo como muito boa a ideia a ideia da abertura da Beneficência, a gente tinha que ter um Centro de Controle. Vai ser essencial, assim como o hospital de campanha. Na minha opinião, Campos vai estar adequadamente servidos para atender os pacientes que precisem de hospital. O que a gente vai ter que melhorar é a parte primária, é na parte de orientação à população — disse o médico infectologista. Rodrigo Carneiro esclareceu também outros pontos sobre o novo coronavírus, em entrevista à Folha FM:
Sintomas mais comuns — A falta de olfato e paladar geralmente vem com a fase de melhora da condição respiratória. Com o aumento de caso e uma mostra maior, a gente está vendo que a febre não está sempre presente. A maioria começa com mal estar, dores pelo corpo, dor de cabeça, febre e, aí, os sintomas respiratórios nas primeiras 24 horas após esses sintomas. Isso é o clássico. A maioria dos casos são oligossintomáticos (poucos sintomas) ou até assintomáticos.
Contaminação — As pessoas perguntam sobre a quarentena. Por que ficar 14 dias? Foi visto nos pacientes chineses que os pacientes infectados podem eliminar o vírus por até 14 dias, no quadro leve. Os pacientes que ficam internados e necessitam de UTI, esses podem eliminar o vírus por até 21 dias. Isso é importantíssimo. Por quê? Porque eu tenho que ter rigor com as medidas de prevenção do profissional de saúde por um período ainda maior. A gente vai ter que estar com a paramentação adequada para atendê-los
Sequelas — Nos casos leves, o paciente não fica com nenhuma sequela. Nos casos graves, há sequelas pulmonares. Mas há inclusive manifestações não respiratórias, inflamações de pericardite, na membrana que envolve o coração e não é tão raro; encefalite, com quadros que lembram a meningite bacteriana; insuficiência renal. Não são os mais comuns, mas também são descritos. Mas eles podem aparecer normalmente naqueles indivíduos propensos a caos mais graves, que são os idosos e os imunocomprometidos.
Drama e apelo — Esses indivíduos propensos a problemas respiratórios são aqueles que precisam de ventilação mecânica durante muito tempo. E o que os intensivistas (médicos de UTI) passam para a gente é que são pacientes difíceis de você conseguir oxigenar o sangue, o pulmão fica todo inflamado. As medidas têm que ser o que a gente chama de heroicas. Você aumenta muito a pressão no ventilador para empurrar o oxigênio para o paciente e mesmo assim ele não oxigena. São quadros bastante complexos. Idosos, principalmente, não saiam de casa. Para quem tem pai, mãe e avós, cuide, deixe lá em casa e não tenha contato, por favor.
Lições — Está um pouco cedo. A principal é: o homem não está preparado para lidar com uma doença causado por um vírus, um microrganismo com letalidade moderada. A gente nem pode classificar a letalidade do coronavírus como alta, quando compara com outros microrganismos. Está mais do que demonstrado que a humanidade não está preparada para lidar com isso. E poderia ser muito pior. A gente poderia ter um vírus com uma letalidade muito pior. É o principal recado que a natureza está dando para a humanidade. A gente tem que cada vez mais pensar em questão ambientais e como higiene pessoal. A gente precisou passar por uma pandemia para ver a importância de lavar as mãos. A humanidade vai sofrer muito, vai passar por perdas dolorosas. Mas talvez use isso para mudar a importância que os políticos dão à atenção básica em saúde, ao saneamento básico, de termos mais leitos hospitalares, planos de contingência que possam ser rapidamente implementados. O dado positivo é mostrar como a ciência é importante. Nós infelizmente temos em nosso país um administrador que não pensa assim.
Confira abaixo em vídeo os três blocos da entrevista do médico infectologista Rodrigo Carneiro no Folha no Ar:
Folha1
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