Elio Rodrigues, um dos sete homens presos nessa quarta-feira (06) em uma operação da Polícia Federal que apreendeu 246 kg de cocaína dentro de um contêiner, também responde a processo por participação no caso do helicóptero de cocaína, ocorrido em 2013, em um sítio localizado entre Brejetuba e Afonso Cláudio. Naquela época, a Polícia Federal encontrou 445 kg de cocaína no helicóptero.
A informação de que Elio Rodrigues está envolvido nos dois casos foi confirmada pelo delegado chefe da Delegacia de Repressão a Drogas da Polícia Federal, Leonardo Damasceno, durante coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (07).
Antes de ser adulterado pela quadrilha, o contêiner cheio de milho saiu do Recinto Especial para Despacho Aduaneiro de Exportação (Redex), no bairro Nossa Senhora da Penha, em direção ao Porto de Vila Velha. E foi no meio desse trajeto que o grupo se aproveitou para esconder a droga dentro do contêiner.
De acordo com Leonardo Damasceno, chefe da delegacia de repressão a entorpecentes, o grupo rompeu o lacre original do contêiner - colocado pela Receita Federal, camuflou a droga junto com a carga de milho e fechou novamente o contêiner com um lacre clonado. O grupo, que estava sendo investigado desde o último dia 29 de novembro, foi preso pela Polícia Federal assim que saiu do galpão.
"Começamos a levantar informações sobre o envolvimento de pessoas aqui do Estado com essa exportação de cocaína dentro de contêiner e na semana passada começamos a acompanhar alguns indivíduos. Um desses indivíduos que nós acompanhávamos se encontrou com um dos caras daquele caso do helicóptero em 2013. Isso nos chamou atenção e, por conta disso, nós enviamos toda a equipe para acompanhar esses indivíduos desde a semana passada", contou o delegado.
Segundo Damasceno, Elio respondia ao processo pelo helicóptero de cocaína - no caso em que a aeronave ficou conhecida como "helicoca" - em liberdade e estava dentro do galpão na tarde dessa quarta (06), quando o grupo tentava camuflar a droga dentro do contêiner. O destino da droga - avaliada em 17 milhões de dólares - era a Espanha.
"Ele (Elio) foi preso ontem (quarta), estava também dentro do galpão onde houve a ruptura do lacre do contêiner, a colocação da droga e a relacração com um lacre clonado. Ele estava lá dentro, presenciou isso tudo e é um dos indivíduos presos. Aquele processo (do helicóptero) até hoje não teve conclusão. E a gente espera que aquele caso ainda vai ter Justiça e vai ter a condenação de todos os envolvidos. Aquela droga que chegou no helicóptero era para exportação. Acreditamos que o esquema daquela vez seja parecido com o esquema de agora. Eles deveriam colocar aquela droga em algum contêiner, e isso explica por que um mesmo ator que estava naquela época, está também nesse esquema de agora", explicou.
PRESIDENTE DA TIVA ERA INTERMEDIADOR
O delegado explicou, ainda, que o presidente da Desportiva Ferroviária atuava como intermediador. "De uma maneira ou de outra, a maioria das pessoas que foram presas tem algum envolvimento na atividade portuária. Não tem nenhum indício de qualquer envolvimento de clube (de futebol) nesse caso", esclareceu ele, antes de explicar como funciona o transporte da droga nesses casos.
"A carga de milho ocupa grande volume, são muitos sacos, então eles misturam dentro dos sacos e não fica perceptível para o scanner, só com olhar muito atento. Eles precisam saber o destino do contêiner por que o comprador da droga na Europa precisa saber o porto de destino para conseguir fazer um esquema parecido lá de ruptura de lacre e retirada da cocaína, antes da entrega da mercadoria ao comprador. Essa é principal modalidade adotada por essas quadrilhas hoje. É sempre feito com trabalhadores do sistema portuário", concluiu.
Os sete presos na tarde desta quarta-feira (06) foram encaminhados para o presídio de Viana.
Em novembro de 2013, a Polícia federal apreendeu um helicóptero com 445 kg de cocaína em um sítio de Brejetuba. O helicóptero pertencia à empresa Limeira Agropecuária, cujo dono é o ex-deputado estadual e atual secretário nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, Gustavo Perrella, cargo atrelado ao Ministério do Esporte. Perrella alegou à Justiça que o piloto Rogério utilizou o helicóptero sem sua autorização. O secretário foi inocentado. As quatro pessoas presas em flagrante ao pousar um helicóptero, incluindo Elio, respondem pelo crime em liberdade.
O piloto da aeronave, Rogério Almeida Antunes, o copiloto Alexandre José de Oliveira Júnior e outras duas pessoas acusadas de serem os interceptadores da droga, Everaldo Lopes Souza e Robson Ferreira Dias, cumpriram cinco meses de prisão em regime fechado.
A aeronave utilizada para o transporte da droga, chegou a ser cedida pela Justiça Federal em janeiro de 2014 para o Governo do Estado, a pedido do governador da época, Renato Casagrande (PSB). No entanto, foi devolvida a Perrella em agosto. Segundo o Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), o modelo R66 da Robinson Helicopter, de prefixo PRGZP, pertence desde junho de 2016 à empresa Lar & Construção Empreendimento Imobiliário.
O mesmo helicóptero foi flagrado em setembro de 2016 fazendo manobras arriscadas sobre banhistas no Lago de Furnas, entre os municípios de São José da Barra e São João Batista do Glória, em Minas Gerais.
Os 445 quilos de cocaína apreendidos foram destruídos pela Polícia Federal, que guardou apenas parte da droga para o arquivamento, caso seja necessário fazer a contraprova do material. Além de parte da droga, o único item apreendido durante a ação da Polícia Federal que permanece sobre o poder da Justiça é um GPS aeronáutico utilizado pela aeronave, já que o instrumento, devidamente periciado, pode ajudar os investigadores a identificar as rotas por onde as drogas foram transportadas.
IRREGULARIDADES NA AÇÃO POLICIAL GERARAM A SOLTURA DOS ACUSADOS
Segundo consta nos autos do processo, a defesa sustentou que a prisão dos quatro suspeitos aconteceu de forma irregular, já que não havia mandados de prisão ou de busca e apreensão para que os agentes da Superintendência de Polícia Federal do Espírito Santo realizassem a operação em Afonso Cláudio.
No ato da prisão, os agentes teriam justificado que estavam investigando um esquema de compra de terrenos de forma ilícita na região e que, ao avistar o pouso do helicóptero, fizeram a abordagem. Posteriormente, o procurador da república Fernando Lavieri denunciou em janeiro de 2014, de que foram omitidas informações capturadas por meio de escutas telefônicas clandestinas realizadas por investigadores da Polícia Federal de São Paulo, que se debruçava sobre um trajeto internacional de tráfico de drogas. Cientes dos horários e locais de pouso para a entrega da droga, a Polícia Federal teria chegado até a fazenda no interior do Espírito Santo.
Diante da nova informação, a defesa dos réus pediu a nulidade da ação penal e que mais tarde fundamentou o alvará de soltura dos quatro presos envolvidos no caso. O processo ainda tramita na Seção Judiciária do Espírito Santo (SJES), da Justiça Federal. Na última sexta-feira (19) a ação foi movimentada, segundo o portal da SJES, e os envolvidos foram intimados para que o juiz possa dar a sentença.
Entre os desfechos possíveis para o caso, o processo pode ser remitido para outros Estados (onde se investiga o trajeto internacional de drogas que gerou as informações para a prisão em Afonso Cláudio), a nulidade da ação ou a definição da sentença dos acusados.
A Gazeta