Dando sequência à série “Cidade que temos, cidade que queremos”, hoje abordamos o município de São José do Calçado. A descrição de um site diz: “uma cidade bucólica, onde a paz escolheu para morar”. Em se tratando de São José do Calçado, na região do Caparaó, com população de 11.036 habitantes em 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a frase acima faz todo sentido.
O bucolismo é uma marca da popular “Calçado”, não que isso seja de tudo positivo, na opinião dos moradores ouvidos pela nossa reportagem. Apesar da paz, traduzida para baixos índices de violência, o calçadense quer uma cidade com mais emprego, saúde e lazer.
Natural de Calçado, o motorista Cláudio Lira, 29, afirma que os jovens estão saindo da cidade diante da falta de oportunidade. “Temos poucas opções de emprego. Faltam empresas se instalarem no município. Se isso acontecesse, São José do Calçado daria um salto”.
A empregada doméstica Rosilene de Oliveira Souza, 39, compartilha da mesma opinião. “Falta algo que gerasse mais postos de trabalho, talvez uma fábrica. A única opção que sobra é o comércio, com destaque para supermercados e farmácias”, diz.
Dados do IBGE de 2010 revelaram que Calçado era o município com maior percentual de idosos (11,82%) naquele ano no Espírito Santo, seguido de Itaguaçu e Laranja da Terra. Com um giro pelas ruas, é possível confirmar o levantamento.
Encontramos moradores da terceira idade com dificuldade de acessar serviços de saúde. “A área de saúde fica a desejar. Minha esposa tem problemas, e as consultas estão cada vez mais difíceis de agendar atendimento”, relata o aposentado Carlos Luiz de Souza, 68.
Outra aposentada, Nair de Oliveira Porfiro, 65, afirma que o município não libera a realização de exames. “A saúde está péssima. Tenho que recorrer para exames no particular em Bom Jesus ou Guaçuí. Os testes e medicamentos estão caros”.
Lazer e diversão
E no quesito lazer e diversão, São José do Calçado está longe do tempo em que os clubes movimentavam a cidade. A declaração da professora aposentada Maria Elena Resende, 76, traduz o quadro atual. “Não há motivação. Quando passo à noite na praça, tenho pena dos jovens. Eles vão à igreja e depois acabou”.
Nós tentamos por diversas vezes contato com o prefeito de Calçado, José Carlos de Almeida (PMDB), durante o último mês, por meio da chefia de gabinete, mas não obtivemos retorno a tempo desta edição.
Fala morador
Cláudio Lira, 29, motorista – “Temos poucas opções de emprego. Faltam empresas se instalarem no município. Se isso acontecesse, São José do Calçado daria um salto. Os jovens estão crescendo e saindo da cidade”.
Rosilene de Oliveira Souza, 39, empregada doméstica – “Calçado tem vários motivos para a gente gostar. Aqui as pessoas todas se conhecem. Falta algo que gerasse mais postos de trabalho, talvez uma fábrica”.
Nair de Oliveira Porfiro, 65, aposentada – “A saúde está péssima. Tenho que recorrer a exames no particular em Bom Jesus ou Guaçuí. Os testes e medicamentos estão caros”.
Roberto Barboza de Souza, 43, campeiro- “O sossego é algo motivador, mas começaram a ocorrer pequenos furtos. Mas ainda é um lugar para criar os filhos. O município poderia melhorar a área de saúde”.
Carlos Luiz de Souza, 68, aposentado- “A área de saúde fica a desejar. Minha esposa tem problemas de saúde, e as consultas estão cada vez mais difíceis de agendar”.
Maria Elena Resende, 76, professora aposentada- “Não há motivação na cidade. Quando passo à noite na praça, tenho pena dos jovens. Eles vão à igreja e depois acabou”.
OPINIÃO
Calçado não pode ficar só na sola
O ar de cidade interiorana típica é um motivo para o calçadense ser um povo feliz. Subir as escadas da praça da Igreja Matriz é um prazer que, embora pareça simples, não é comum em outras cidades capixabas.
Não existe problema em São José do Calçado ser bucólica, desde que seus moradores não fiquem presos no saudosismo e comecem a pensar o presente e o futuro da cidade. Extrair o suprassumo daquilo que lhe confere mais identidade e tornar a prática cotidiana mais produtiva, com a união de todos.
Quando o calçadense descobrir o que torna seu lugar tão especial, o êxodo para outros centros diminuirá. Qualidade de vida e trabalho digno devem estar do mesmo lado da moeda. Com o perdão do trocadilho, que calçado seja plataforma, e não rasteirinha.
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