Segundo a médica legista Kesley Couto de Castro, do Instituto Médico-Legal (IML) de Araruama, para onde o corpo foi levado, Fabiane Fernandes, de 32 anos, teve traumatismo crânio-encefálico e traumatismo de face motivado por ação contundente, ou seja, ocasionado por golpes com algum objeto. No local do crime foram encontradas pedras com manchas de sangue.
Agora, O IML faz uma pesquisa do material recolhido da unha da vítima e também tenta identificar a presença de semen para saber se houve um possível estupro. Os materiais, se existirem, poderão ajudar na identificação do criminoso. De acordo com Kesley Couto, Fabiane foi morta quatro dias antes do exame de necropsia, ou seja, no domingo. Ela disse que o corpo chegou ao IML em adiantado estado de decomposição.
Pelo menos sete pessoas já foram ouvidas como testemunhas no inquérito que apura as circunstâncias da morte da turista catarinense que foi encontrada cerca de três quilômetros dentro da Trilha da Prainha, em Arraial do Cabo. Entre as pessoas ouvidas está uma mulher que foi abordada pela vítima próximo à entrada da trilha para perguntar o caminho para o Mirante da Praia do Forno, um dos atrativos turísticos do município, na Região dos Lagos. Ela contou ao delegado titular da 132ª DP (Arraial do Curso), Renato Mariano, que viu um homem a uma certa distância de Fabiane, mas que não pode afirmar se estava com ela.
- Estamos trabalhando na coleta de informações. Essa testemunha disse que não pode dar detalhes das características desse homem, porque ele estava em meio a uma penumbra. Era moreno, com cerca de 1,70m de altura. Ainda não sabemos quem é. Nem se estava com ela. Importante é que ela, com certeza, foi a última pessoa a ver Fabiane com vida além do criminoso. O que pode complicar ainda mais as investigações é a possibilidade de o assassino ser outro turista, já que ela foi morta no fim de semana de cidade cheia por causa do feriadão - explicou o delegado.
Outra testemunha ouvida no inquérito foi Cassius Machado, que motivou a ida de Fabiane para Arraial do Cabo. Segundo o delegado, ele mora em Porto Alegre, trabalha com venda de produtos e tem negócios na região.
- Foi ele quem comunicou o desaparecimento de Fabiane ao Corpo de Bombeiros. Ele contou que era amigo dela, e que em conversas pelo aplicativo Instagram a mulher viu fotos de Arraial do Cabo e quis muito conhecer a cidade. Foi alugado um apartamento para ela, e Cassius foi trabalhar. Por volta das 10h do domingo, Fabiane enviou uma mensagem pelo WhatsApp perguntando a ele como pedir um Uber na cidade, mas ele disse que só foi ver por volta das 14h daquele dia. Ele mandou mensagens de volta, mas ela não visualizou. Por volta das 19h30m ele telefonou, mas Fabiana não atendeu.
No sábado, entre 12h e 13h, Fabiane esteve no Méditerranée Hotel, que fica na Prainha, próximo ao acesso à trilha. Imagens de câmeras de segurança mostram Fabiane sendo recebida por funcionários e visitando um dos quartos na intenção de se hospedar. A gerente chegou a fazer uma oferta, porque Fabiane teria dito que ficaria sozinha. Depois, disse que o namorado ficaria também. Uma funcionária disse que ele poderia visitá-la e frequentar as dependências do hotel, mas não subir ao quarto. A diária no feriadão estava em R$ 450. E Fabiane chegou a fazer um cadastro. Porém, segundo uma funcionária, Fabiane recebeu um telefonema e, ao desligar, disse que cancelaria a hospedagem porque seu namorado teria conseguido um lugar com preço mais em conta.
Iago Patrick, de 21 anos, funcionário de um posto de combustíveis perto da Prainha, foi quem conversou com Fabiane na noite de sábado, poucas horas antes do crime. Ele disse que ela perguntou onde ficava o caixa eletrônico mais próximo.
Corpo encontrado em local com urubus
Fabiane foi encontrada morta com sinais de ferimentos supostamente provocados por pedradas na cabeça. Seu corpo foi localizado por uma das sete testemunhas, um vigia que foi um dos voluntários na busca. Cearense, o homem contou ao delegado que, na sua terra, animais mortos pela seca ou por outras circunstâncias eram perseguidos por urubus.
- Ele disse ter visto sobre a mata, no ponto da trilha da Prainha, muitos urubus sobrevoando. Ele notou que ali poderia estar algum animal morto. Seguiu pela trilha tentando se orientar pelos urubus até que achou o corpo, no meio da vegetação. Já havia fauna cadavérica, o que indica que o corpo já estava lá há um certo tempo, algo que somente a perícia poderá dizer - contou Renato Mariano.
Uma outra testemunha disse ao delegado que acha muito perigosa aquela trilha por causa de assaltos que já aconteceram nela:
- Ele disse, inclusive, que costuma alertar turistas que se aproximam da trilha sobre o risco que correm e até mesmo tenta dissuadí-los do passeio. Nos últimos cinco anos, já tivemos pelo menos três casos de estupros seguidos de morte na cidade. No caso de assalto, soubemos que houve um naquela trilha, só que do outro lado da Praia do Forno, há cerca de um ano. Um casal foi assaltado, e o rapaz foi ferido com um tiro. Certamente pode haver subnotificações, já que muita gente que fica sem um aparelho celular, por exemplo, deixa de registrar o roubo na delegacia.
Família não tem dinheiro para o translado do corpo
Um amigo da família de Fabiana está na Região dos Lagos para fazer o translado do corpo. Ele contou que a família tem poucos recursos financeiros. Eles estão tentando ajuda de autoridades públicas para levar o corpo para o sepultamento em Florianópolis, Santa Catarina.
- A família não tem recursos e precisa de ajuda para fazer o translado do corpo. Não foi uma morte natural. Foi um crime, é questão de segurança pública. Alguém precisa se responsabilizar pelo que aconteceu. A família, infelizmente, não tem recursos disponíveis. o irmão de Fabiane está tentando dinheiro para pegar um voo e fazer o reconhecimento oficial do corpo da irmã - relatou o amigo de Fabiane, que está acolhendo o filho dela de 9 anos e a mãe, que tem paralisia em um lado do corpo.
Fonte: site do jornal EXTRA do grupo Globo.com