Das 24 substâncias, 10 causam doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos
Um coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água de 1 em cada 4 cidades do Brasil entre 2014 e 2017. Desses, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas.
Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Agência Pública e a organização suíça Public Eye. As informações são parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento.
A falta de monitoramento também é um problema grave. Dos 5.570 municípios brasileiros, 2.931 não realizaram testes na sua água entre 2014 e 2017.
Os estudos feitos na água de Mimoso do Sul apontaram 24 substâncias agrotóxicas, desse número 23 estão acima do limite considerado seguro na União Europeia entre 2014 e 2017.
Das 24 substâncias, 10 causam doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos.
Segundo a diretoria do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Mimoso, agrotóxico na água não tem solução, não existe nenhum tipo de tratamento ou filtro que o elimine.
O Ministério da Saúde também foi questionado em relação a medidas tomadas em relação aos vários problemas de saúde estarem ligados a contaminação da água, efeitos nocivos que podem gerar “puberdade precoce, aleitamento alterado, diminuição da fertilidade feminina e na qualidade do sêmen; além de alergias, distúrbios gastrintestinais, respiratórios, endócrinos, neurológicos e neoplasias.
De acordo com o Ministério de Saúde, A responsabilidade pelo monitoramento de controle da qualidade da água é dos prestadores de serviço de abastecimento de água para consumo humano. Já a responsabilidade de cobrança pelos resultados desse monitoramento é da autoridade de saúde pública local. O acompanhamento desse monitoramento é realizado por meio das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, e pelo Ministério da Saúde, a partir do Sisagua.
O monitoramento de controle da qualidade da água para consumo humano, que inclui o monitoramento de agrotóxicos, deve ser realizado pelos prestadores de serviço de abastecimento de água, com base nas exigências da norma de potabilidade, que estipula as substâncias a serem monitoradas, bem como o número de amostras e a freqüência de amostragem.
As Secretarias de Saúde dos estados e municípios realizam o monitoramento de agrotóxicos, seguindo a diretriz elaborada pelo Ministério da Saúde denominada “Orientações Técnicas para o monitoramento de agrotóxicos na água para consumo humano”.
De acordo com o artigo 42 do Anexo XX da Portaria de Consolidação nº 5 de 2017, “serão aplicadas as sanções administrativas previstas na Lei nº 6.437, de 20 de agosto de 1977, aos responsáveis pela operação dos sistemas ou soluções alternativas de abastecimento de água que não observarem as determinações constantes desta Portaria, sem prejuízo das sanções de natureza civil ou penal cabíveis”.
Quando encontrados valores acima do padrão de potabilidade ou até mesmo diante da presença constante das substâncias, a vigilância deve notificar os prestadores de serviços de abastecimento de água para que tomem as providências de melhoria no tratamento da água.
Deve-se analisar o histórico de dados e as características da bacia de contribuição do manancial para definir a medida mais adequada. Por exemplo, caso os dados não sejam suficientes para se proceder a análise, deve-se cobrar o devido monitoramento, eventualmente determinando sua intensificação.
Caso os dados demonstrem que o problema ocorre de forma sistemática, é preciso buscar soluções a partir da articulação com os demais setores envolvidos na bacia de contribuição, como órgãos de meio ambiente, prestadores de serviço, os produtores rurais.
O Ministério da Saúde está elaborando as Diretrizes Brasileiras para diagnóstico e tratamento das intoxicações dos principais agrotóxicos utilizados no Brasil, que tem por objetivo auxiliar os profissionais de saúde na identificação e tratamento das intoxicações, com base nas melhores evidências disponíveis, melhorando a qualidade do serviço público de saúde do SUS.
Fonte: M1