O contato é feito por um número de celular, com DDD de área 27, onde um deles se identifica como doutor Plínio Ferreira, dizendo ser diretor de operações da Vigilância Sanitária Estadual (VSA). Para passar mais credibilidade, o homem afirma trabalhar há 28 anos no órgão.
Um dos comerciantes a ser importunado pelo suposto funcionário da VSA é empresário no ramo alimentício e prefere não se identificar por temer algum tipo de represaria dos golpistas.
O empresário conta que falou com dois homens ao telefone, ambos aparentando serem pessoas mais velhas, ao julgar pelas vozes. O primeiro se apresentou como secretário do diretor da Vigilância Sanitária e em seguida passou o telefone ao que conduziu a conversa, dizendo ser o diretor, explicando que a “megaoperação” contaria com o apoio da Delegacia do Consumidor, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil para fiscalizar 64 itens, entre eles, documentações da empresa, licenças e notas fiscais. “Inclusive ele disse que o delegado da cidade estaria junto na operação”, completou o comerciante.
“Foi um diálogo muito ‘aguerrido’, sem deixar respirar. Com ameaças, indiretamente, lógico. E no final, ele pediu uma quantia de R$ 1,5 mil. Eu disse que precisava conversar com meu sócio primeiro, para sair daquela conversa”, recorda.
Após a conversa, o empresário buscou informações junto ao seu advogado, ao contador e, também a Vigilância Sanitária do município. Foi então que ele descobriu que esse tipo de ação era ilegal e tratava-se de um golpe.
A reportagem da 90.5 FM ligou para o telefone do suposto doutor Plínio Ferreira, se fazendo passar por um empresário de Guaçuí. O homem que atendeu a ligação afirmou estar à frente de uma blitz fiscalizatória, que seria realizada juntamente com a Vigilância Sanitária estadual e municipal, Delegacia do Consumidor (por meio de um delegado identificado como Freitas) e Corpo de Bombeiros. O suposto servidor público, sem saber que estava conversando com a imprensa, disse ainda que toda a ação seria acompanha por jornalistas.
Ainda segundo ele, dos 18 estabelecimentos comerciais a serem fiscalizados em Guaçuí, quatro empresas foram escolhidas por ele para serem “avisadas” da ação.
E, em tom de ameaça, ele proferiu “a gente sabe que problema vamos encontrar. A melhor forma é evitar um confronto”. O suposto servidor público completou “Se der pra evitar, vamos evitar de mãos dadas. (...) Nós pedimos uma contribuição anual de R$ 1 mil”.
Mas ao ser questionado o porquê deter escolhido estas empresas para ligar, Plínio Ferreira se limitou em dizer “se tenho seu número é porque tenho amigos em comum”.
As entidades citadas
Vigilância Sanitária Municipal: A Vigilância em Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde, de Guaçuí, informa que está ciente sobre o fato e enfatiza que não foi comunicada sobre qualquer ação de fiscalização da Vigilância Sanitária Estadual. Logo, acredita que seja um tipo de golpe. Além disso, destaca que, se um agente público pede dinheiro para não fazer seu trabalho, se fosse o caso, seria um caso de corrupção, um ato criminoso.
Vigilância Sanitária Estadual: A Vigilância Sanitária Estadual afirma que não existe funcionário com o nome de Plínio Ferreira e que a ligação desse homem trata-se de um golpe, sem qualquer vínculo com a entidade. “Já recebemos várias ligações sobre esse assunto. Mas isso é um golpe”, afirma a Vigilância Sanitária.
A VSA pede aos empresários que forem vítimas do golpe que denunciem e registrem boletim de ocorrência, detalhando o máximo de informação possível, que ajude a identificar os suspeitos.
Corpo de Bombeiros: O Corpo de Bombeiros de Guaçuí diz não ter conhecimento do caso e explica que a instituição não realiza contato remoto com as empresas. “O Corpo de Bombeiros não entra em contato com o contribuinte por e-mail, telefone ou qualquer meio de comunicação. Em caso de fiscalização, uma equipe de bombeiros vai fardada ao local e pergunta apenas se o estabelecimento tem alvará. Mas não será pedido dinheiro, como foi pedido a esses empresários”, enfatiza.
Polícia Civil: A Polícia Civil de Guaçuí negou qualquer participação em operação cujo objetivo seja de fiscalizar o comércio local.
Delegacia do Consumidor: A Delegacia do Consumidor informa que não existe Delegado Freitas atuando naquela repartição, que não tem conhecimento desta prática e que dificilmente atua no interior do Estado.
90,5 FM