Quase 34 anos após sua inauguração, a loja Comercial Keco está prestes a encerrar as atividades. O empreendimento que sobreviveu a crises, sucumbiu após a aprovação da lei que proíbe, em Cachoeiro de Itapemirim, a comercialização de fogos de artifício que produzam ruídos, um dos carros-chefes da loja. A medida foi aprovada em setembro na Câmara Municipal.
"Atravessamos diversas crises financeiras, enchente, pandemia, tudo afetou a economia, mas no momento, o que mais me deixou frustrado e aborrecido foi essa lei aprovada na Câmara Municipal, de proibição de venda de fogos de artifícios legalizados, sendo que eu sou o único no sul do Espírito Santo", desabafa o empresário Mário de Jesus Temporim.
Pioneiro no ramo na região, ele se ressente de sequer ter sido consultado antes da elaboração da lei. "Onde existem celebrações oficiais, inaugurações e eventos sem fogos de artifícios?"
Sancionada em setembro, a lei proíbe a utilização, a queima e a soltura de fogos de artifícios, estampidos e rojões com efeitos sonoros e estabelece advertência e, em caso de reincidência, terá de pagar multa de R$ 400,00, a quem descumprir.
A proposta foi gestada pelos vereadores Allan Ferreira (Podemos) e Sandro Delabela (PSD), que à época disseram que a medida é importante resguardar a saúde de crianças e adultos portadores de transtorno do espectro autista, posto que, possuem hipersensibilidade sensorial. "Mas não é só: a prática causa danos irreversíveis aos animais, ambiente e pessoas, podendo ser entendida como uma forma de poluição atmosférica e sonora".
A LOJA
A Comercial Keko foi tem esse nome em homenagem à filha do proprietário, que ganhou esse apelido. Fernanda Temporim foi a inspiração do pai. Era a loja do "Tem quase de tudo", como dizem diversos clientes. Além de fogos de artifício, a loja é, referência também na comercialização de material de camping, pesca, cutelaria e armas, tudo de maneira legalizada, como Mário faz questão de destacar. "Sempre fomos extremamente corretos", ressalta.
A Comercial Keko sempre funcionou no mesmo endereço. Nem mesmo a ampliação de um supermercado a tirou de lá. O estacionamento passa por trás da loja, após a recusa de propostas para se retirarem, eles permaneceram no mesmo local, "no meio do supermercado".
Mário é inquilino de uma simpática senhora que se tornou amiga dele ao longo destes 34 anos: Marluza Cheim Moulin, de 78 anos mora, em cima do comercial Keko e não imagina sua rotina sem o Mário, que segundo ela e a filha Betina "fazem parte da família".
"Moro aqui há mais de 50 anos, sempre fomos amigos, acima da relação comercial. Já choramos muito, já rimos muito e tenho muito pena dele: perto dos seus 70 anos, considero muita maldade o que fizeram", diz a Marluza, sobre a lei contra a comercialização de fogos de artifício.
A filha, Betina Chein Moulin, comentou a relação de sua mãe com o Mário do Comercial Keko: "Desde que me entendo por gente, acompanho essa amizade com minha mãe. É mais que um inquilino. Lamento muito o fechamento da loja, se fosse decisão dele tudo bem, a gente compreenderia, mas ele está sendo obrigado a fechar as portas por decisões de terceiros, o que é pior", relata.
O fechamento
Amigos e frequentadores da loja lamentam o encerramento das atividades do Comercial Keko.
E um dos clientes mais antigos que também se tornou amigo, estava na loja durante a reportagem. Valdir Volpato disse que ao pensar no Mário da Keko, a primeira coisa que vem à cabeça é "Inigualável. Ele é diferente, na forma de retidão, honestidade, e na seriedade. Se ele desconfiar de algo errado, ele não entra de jeito nenhum", declara o amigo. Desde que decidiu pelo fechamento, Mário tem recebido mensagens de apoio de clientes. É mais uma empresa tradicional de Cachoeiro que chega ao fim.
FUNCIONÁRIOS
Mário Temporim foi o primeiro empregador de muita gente. Na contagem regressiva para o fechamento, duas funcionárias trabalham na comercial Keko: Tina Henrique, contratada há 4 anos, e Ludmila Carvalho, há dois. Elas elogiam o patrão, que já encaminhou muitos profissionais ao mercado. Elas estão na expectativa de conseguir se manter empregadas com tudo o que aprenderam na loja.
"Temos experiência e estamos aptas a trabalhar bem no comércio", destaca Ludmila.
Atualmente, na contagem regressiva para o fechamento, duas funcionárias estão trabalhando no comercial Keko: Tina Henrique que está ali há 4 anos revela como é atuar na loja: "às vezes a gente puxa a orelha dele", diverte-se, mas emenda: "É um coração maior que ele, ajuda todo mundo que precisa e aparece aqui".
Ludmila Carvalho, trabalha com Mário há dois anos e também conta que é muito tranquilo: "Coração mole, mais fácil a gente brigar com ele que ele com a gente, mas respeitamos muito, ele é sensacional" completa.
Jornal Fato