— É uma tendência influenciada pelo Tik Tok e outras redes sociais. Os meninos postavam vídeos clareando os cabelos, barbas e bigodes, até deixá-los com aspecto nevado. O termo surgiu porque, nas postagens, eles também recorriam a aplicativos com efeitos simulando neve caindo em cima da cabeça, e daí postavam “nevou” ou “nevada”. Então, ficou esse nome. É uma febre. É muito a cara dos garotos praianos cariocas — diz Mauro Brettas, cabeleireiro e maquiador do salão Care, em Ipanema, ele mesmo um adepto do visual, que experimentou pela primeira vez no último carnaval.
Cabeleireiros e donos de salão apostam que o modismo resiste com força pelo menos até os dias de folia. A novidade deste ano é que a descoloração global substituiu o amarelado, em um tom mais para o louro, feito com água oxigenada e amônia, quase sempre em casa, por conta própria. Agora estão sendo usados produtos como pó descolorante, tinta branca e matizador, de resultado melhor e mais duradouro, que demandam ajuda profissional.
Para seguir o modismo é necessário desembolsar valores que vão de R$ 50 a mais de R$ 500, dependendo do salão. Também é possível arriscar fazer em casa, gastando só com produtos — em torno de R$ 100 —, mas sem garantia de resultado satisfatório, e com riscos ao couro cabeludo.
O principal público-alvo é masculino, composto por jovens entre 15 e 20 anos. Uma turma numerosa nessa faixa etária tem lotado a Barbearia do Ratinho, com filiais no Vidigal e em Bonsucesso. Nos dois estabelecimentos, os barbeiros Matheus Gaspar, o Pinguim, e Altair de Jesus Oliveira, o Ratinho, respectivamente, é que fazem as cabeças.
— O modismo começou nas favelas — defende Pinguim. — Antes, a garotada usava água oxigenada e amônia para descolorir por conta própria, e o resultado era que o cabelo ficava amarelado, além de arder muito o couro cabeludo. No fundo, o que todo mundo queria era o branco total, possível agora porque os produtos estão mais avançados.
O estudante Thomas Joubert Fernandes Rodrigues, de 18 anos, morador do Vidigal e frequentador da Praia do Arpoador, era um dos mais de dez jovens que, na manhã da última terça, enfrentavam a cadeira do barbeiro Pinguim. Após duas horas de espera — tempo para o platinado perfeito —, o jovem aprovou o resultado:
— Já é uma tradição de final de ano e começo de verão. Queima um pouco, mas vale a pena. Dá um resultado diferenciado, melhora o visual e aumenta a autoestima, além de, é claro, fazer sucesso com as mulheres.
Encobrindo grisalhos
Localizado no Jardim América, o WM Barber Club é um dos salões que atraem a garotada da Zona Norte, mas também figuras conhecidas como o jogador Andrey. O atleta revelado no Vasco da Gama e que hoje atua no Coritiba tem casa na Barra, mas sempre que está no Rio retoca o platinado no estabelecimento, como fez há uma semana.
— A moda no Rio de Janeiro 40 graus é neve o tempo todo — brinca West Pereira, dono do salão, que ao longo da quarta-feira passada enfileirava meia dúzia de clientes em busca do “nevou”.
Entre eles, estavam o lutador de jiu-jítsu BrunoBruno Paixão, de 32 anos, e o músico Júnior Oliveira, de 34, que fogem ao perfil da maioria do público “nevado”. Entre os mais velhos — na casa dos 30 —, a mudança muitas vezes é guiada pelo desejo de disfarçar os primeiros grisalhos naturais.
— Tinha uns fios grisalhos aparecendo. Incentivado pelo barbeiro, tomei coragem e descolori tudo. Ficou maneiro. Deu até uma rejuvenescida. Acho que vou adotar — aprovou o lutador.
Além de Brettas, outro profissional que também abraçou o estilo “nevado” foi Fabyano Coelho, de 26 anos, da filial Leblon do Werner Coiffeur. Ele sempre gostou de descolorir os cabelos e acaba servindo de inspiração para os clientes:
— É um estilo com o qual me identifico muito. Hoje existem produtos que contribuem para um efeito ainda mais bonito. Muita gente tem aderido ao modismo, de esportistas a influenciadores digitais.
Ratinho, que comanda o salão de Bonsucesso batizado com seu nome, recomenda, para manter o platinado em dia, cuidados como evitar xampu com colorante ou mergulhar em piscina com cloro — o que, segundo ele, pode acabar deixando os fios no velho tom amarelado.
A dermatologista Renata Domingues explica que os produtos utilizados podem enfraquecer os fios e, por isso, a despigmentação deve ser feita sempre com a ajuda de um profissional e nunca em curtos espaços de tempo. Ela não recomenda a ousadia capilar para crianças com menos de 13 anos:
— O fio de cabelo tem sua cutícula toda aberta no processo de descolorir. Em alguns casos, o fio vai ser impregnado pela coloração, e isso provoca desgaste da haste. Como é um modismo, espero que seja algo a ser feito uma vez só. No caso das crianças, pode haver risco de queimadura ou alergia, entre outros problemas.
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