Ex-governador Sérgio Cabral-Reprodução
O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse nesta sexta (5) que o suborno a políticos do estado pela Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) vem desde os anos de 1980, primeiro governo de Moreira Franco, até o de Luiz Fernando Pezão.
Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, Cabral citou os nomes do ex-ministro Moreira Franco, do ex-prefeito Eduardo Paes e do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, como beneficiários de propinas por parte de empresas de ônibus, e do empresário Eike Batista.
Cabral pediu para ser interrogado, dentro do processo Ponto Final, que investiga as relações entre empresários de ônibus e políticos fluminenses. No início do interrogatório, o ex-governador fez questão de frisar sua nova atitude, de confissão e colaboração com a Justiça, ao contrário da maioria das audiências anteriores, em que ele sustentava que o dinheiro era fruto apenas de caixa dois eleitoral.
“Em nome de Deus, da minha família, da minha esposa, decidi colaborar, confessar, do arrependimento à Justiça e à sociedade. Venho aqui com o coração aberto, com disposição de falar amplamente tudo o que desejarem, colaborar com a Justiça, com a verdade, com o Rio de Janeiro, revendo os meus erros. É hora de falar dos erros”, iniciou Cabral.
Ele começou fazendo um longo histórico da política do Rio de Janeiro, desde quando o ex-governador Leonel Brizola, em seu primeiro governo, havia decidido estatizar as empresas de ônibus, o que gerou grande contrariedade dentro do setor. Disse que, no governo seguinte, de Moreira Franco, foi criada Fetranspor, quando se iniciou o recolhimento sistemático de dinheiro para os políticos, por meio das chamadas caixinhas.
“A partir daí, surge a Fetranspor. O Moreira Franco é o governador. Cria-se na Alerj a primeira propina instituída. O procurador-geral de Justiça era o Carlos Navega, que criava soluções às empresas. Recebia, junto com o Moreira Franco, propina por isso. No plano Legislativo, Navega e Moreira trabalhavam para o retorno das empresas aos seus donos”, disse Cabral.
Segundo Cabral, todos os governos posteriores a Moreira Franco, incluindo o segundo mandato de Brizola, através de um secretário de Transporte, passando por Marcello Alencar, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, os dois mandatos dele, e o de Pezão tiveram caixinha dos empresários de ônibus da Fetranspor.
Paes e Crivella
Cabral disse a Bretas que a Fetranspor destinou R$ 6 milhões para a campanha do ex-prefeito Eduardo Paes. Em 2008, nas eleições municipais para a prefeitura do Rio de Janeiro, Paes e o então deputado federal Fernando Gabeira foram para o segundo turno, ficando o então senador Marcelo Crivella em terceiro. Segundo Cabral, Crivella o procurou no Palácio Laranjeiras, pedindo dinheiro para apoiar Paes.
“O Crivella me liga e pede uma conversa no Laranjeiras, eu o recebo, em 2008, no início do segundo turno. Diz que está sendo pressionado a apoiar o Gabeira. Disse que o Armínio Fraga ofereceu um US$ 1 milhão para apoiar o Gabeira. Eu e ele, sem testemunhas, no Palácio das Laranjeiras. Eu liguei para o Eike Batista. Fui à casa do Eike. Chamei ele num canto e disse que combinei em dar US$ 1,5 milhão para o Crivella. Ele disse tudo bem. Marquei com o Paes às 6h. Contei a ele. Me recebeu o Eike e o executivo dele. O Crivella chegou com o sobrinho, Mauro Macedo. Tinha um café da manhã. Falamos 30 minutos. Gravamos um spot do Crivella apoiando o Eduardo Paes”, disse Cabral.
FGV
O ex-governador também disse que a Fundação Getúlio Vargas (FGV) recebia para dar soluções legais aos projetos de governo. “A FGV era o biombo legal para efetivar ilegalidades. A FGV Consultoria, comandada pelo César Campos. Ela fugia da licitação e dava amparo legal. Sabia que havia ilegalidades. Quem tratava com o Fichtner era o César Campos. Casos como Metrô e o Maracanã”.
Respostas
O prefeito Crivella gravou um vídeo, no Facebook, afirmando que as declarações de Cabral são mentirosas, ataques, infâmias, injúrias e calúnias. “Diante de Deus, eu quero afirmar a todos que eu jamais venderia o interesse das pessoas para ganhar vantagens pessoais”, disse Crivella.
A defesa do ex-ministro Moreira Franco se pronunciou em nota. “Em situação processual e jurídica difícil, com diversas condenações que lhes ultrapassam a existência, condenados - candidatos a delatores - sentem-se imunes aos riscos da calúnia e da difamação, assim, volta e meia ousam imputar algo, de forma leviana, a alguém. Espera-se que esse desatino não conte com oculto estímulo de acusadores, ou magistrados, que lhes acenam com vantagens futuras na execução da pena.”
Procurada, por meio da assessoria, a FGV disse que não teve conhecimento do depoimento e que tomará as medidas cabíveis para preservar sua imagem. “A FGV não teve conhecimento ou acesso a qualquer depoimento do ex-governador Sérgio Cabral, porventura prestado nessa data e, tão logo seja cientificada a respeito, adotará as providências cabíveis para preservação de sua imagem e defesa de sua trajetória, que tanto tem contribuído para o desenvolvimento do Brasil ao longo dos últimos 74 anos, a ponto de ser atualmente, a mais respeitada instituição educacional da América Latina. Sua atuação, bem como de seus membros, sempre foi pautada pelo respeito a ética, à legalidade e ao interesse público, sendo abominável e atentatório ao próprio país a tentativa de macular a história de uma instituição que está entre as dez mais conceituadas do mundo em seu segmento de atividade.”
A defesa dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho se pronunciou em nota, afirmando não haver uma única verdade no depoimento do ex governador, sendo fantasiosas as acusações imputadas aos mesmos.
“Assim, necessário esclarecer que durante a gestão dos ex governadores (família Garotinho), nunca ocorreu, ou chegou ao seu conhecimento, o pagamento de propina ou qualquer atividade inidônea em relação ao setor de transportes, bem como a aquisição de emissora de televisão e rádio. Ressalta-se que em 1999, após estudos técnicos, Anthony Garotinho foi o responsável por ação pioneira: redução das passagens de ônibus na região metropolitana do Rio de Janeiro, tendo tal ato revogado posteriormente por decisão judicial.”
A defesa do empresário Eike Batista informou que ele não é parte no processo e que sempre desenvolveu suas atividades empresariais dentro do marco da legalidade.
A reportagem continua tentando contato ou aguardando retorno dos demais citados.
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário