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segunda-feira, 20 de abril de 2020

‘É DIFÍCIL SAIR DO HOSPITAL COM A SENSAÇÃO DE DEVER CUMPRIDO’, DIZ CHEFE DA UTI DO HOSPITAL DE ACARI

Sandro Oliveira, médico que é o chefe da UTI do Hospital Ronaldo Gazolla.
Sandro Oliveira, médico que ´´e o chefe da UTI do Hospital Ronaldo Gazolla
Coordenador médico de Terapia do Hospital municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, referência para a Covid-19, Sandro Oliveira conta que tem dormido apenas três horas por dia e que emagreceu nove quilos desde o começo da pandemia. Ele, que tem 39 anos, é pai de Camile, de 11 anos, e Bernardo, de 7. O médico não vê os filhos há um mês. Os dois estão com a mulher, em Jacarepaguá, enquanto ele fica na Barra da Tijuca. Seu maior medo, além de contaminar a família, é se infectar e ter que deixar o front no combate ao coronavírus
"Mas a nossa missão é essa, não podemos fugir da luta. A nossa parte é contribuir para melhorar a saúde da população. E a parte da população é se manter em isolamento, ficar em casa para e diminuir o risco de contaminação.
"Fui o responsável pelo atendimento a gestantes com H1N1 no Hospital estadual Albert Schweitzer (em 2009) e pelo atendimento dos adolescentes e crianças da tragédia da escola em Realengo (em 2011). Mas não há nada parecido com a pandemia atual.
"Hoje chego ao hospital por volta das 6h30 e saio por volta das 21h para ainda, em casa, estudar as novas publicações médicas e desenvolver, conforme mudanças na literatura, protocolos e treinamentos para a equipe. Nos finais de semana, tenho ficado de sábado de manhã até domingo à noite direto no hospital. Atualmente, durmo em torno de três horas por dia.
"Minha rotina de trabalho antes era estar no hospital no período da manhã e tarde; raramente, vinha ao hospital nos finais de semana. Atualmente, são todos os dias – de manhã, tarde e noite – e, regularmente, na madrugada orientando a equipe pelo telefone, estudando ou montando conteúdo. Já emagreci nove quilos desde o início da pandemia por falta de tempo para comer adequadamente. Acabou que isso não entrou como prioridade.
"Os pacientes que chegam à UTI são muito graves, com necessidades particulares, principalmente da parte respiratória. Tive contato com diversos pacientes e cheguei a comunicar famílias sobre óbitos. Em alguns casos, principalmente pela rápida evolução, fiquei com a sensação de impotência em relação a essa doença.
"Hoje, vendo pacientes muito graves na UTI, é difícil sair do hospital com a sensação de dever cumprido. Mas saio porque preciso no mínimo parar meu corpo para o próximo dia."

Jornal Extra

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