RIO — Pessoas que aplicaram recursos na empresa do ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, de 38 anos, conhecido como 'faraó dos bitcoins', para que fossem investidos em criptomoedas, têm recorrido à Justiça pedindo a devolução dos valores. A corrida pela recuperação do dinheiro ocorre após a prisão do empresário, no fim do mês passado, por suspeita de montar um esquema de pirâmide financeira.
Um levantamento feito pelo GLOBO localizou 13 ações em andamento no Tribunal de Justiça do Rio na qual os autores pedem o valor aplicado de volta. Em uma delas, um aposentado de Niterói requer R$ 460 mil, transferidos através de quatro depósitos distintos entre maio e julho deste ano, afirmando que Glaidson se passava por uma empresa de investimentos em criptoativos e prometia rentabilidade de 10% sobre o valor aplicado. O investidor ainda pede rescisão do contrato com a G.A.S Consultoria, empresa do ex-garçom, e indenização por danos morais de R$ 15 mil.
Outra vítima, um motorista que mora em Botafogo, afirma ter aplicado R$ 15 mil e pede, na Justiça, além da devolução da quantia, o pagamento de danos morais no mesmo valor. Segundo ele, o contrato estipulava que o dinheiro teria que permanecer investido por 24 meses, mas prometia uma remuneração mensal. Como começou a receber R$ 1.500 a cada subsequente dia 1º, não desconfiou a ilegalidade da operação. O homem só tomou conhecimento ao assistir pela televisão que a Polícia Federal comandava a “Operação Kryptos”, na qual Glaidson foi preso.
— O meu cliente está muito preocupado porque esse era o restante de um dinheiro que ele tinha da venda de um apartamento e, com a pandemia, ele teve sua renda reduzida — conta a advogada Maiara Almeida da Conceição: — Como alguns amigos dele investiram no início do ano e estavam recebendo os rendimentos, se convenceu que seria uma boa opção para ter alta rentabilidade. Depois de aplicar, ele passou a contar com esse crédito mensal para pagar suas contas essenciais.
A advogada ainda afirma que possui outros dez clientes na mesma situação, cujos processos serão protocolados nesta próxima semana. Em sua maioria, são pessoas humildes, de Saquarema, Cabo Frio e do Rio de Janeiro, que investiram todas as suas economias.
Em caso semelhante, uma autônoma depositou R$ 40 mil para que fossem alocados em criptomoedas, pactuando com o depósito mensal do rendimento de 10%, ou seja, R$ 4 mil. No entanto, um mês após a negociação, foi decretada a operação da PF e Glaidson foi preso. A vítima ficou "totalmente transtornada", temendo não recuperar o dinheiro fruto de muitos anos de trabalho. Na ação, ela pede pagamento de um total de R$ 60 mil, que incluem a quantia aplicada e indenização.
Já uma empresária de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, pede a devolução de R$ 270 mil, valor investido em quatro parcelas entre agosto do ano passado e junho de 2021. A mulher pede que a Justiça declare a nulidade do contrato celebrado com a G.A.S, uma vez que Glaidson está sendo investigado por operações ilícitas. Além da devolução da quantia investida, a empresária também pede pagamento de R$ 15 mil por danos morais "a fim de reparar os danos sofridos e que tal punição atenda, ainda, o caráter pedagógico e punitivo do instituto para que reiteradas práticas abusivas como essa não voltem a lesar o consumidor".
Em regra, as pirâmides financeiras são esquemas que prometem lucros altos em um espaço curto de tempo, considerados crime contra a economia popular segundo a lei nº 1.521/1951. Para manter o negócio funcionando, o foco não é venda de produtos ou serviços, mas sim novas pessoas entrando e realizado aportes financeiros. A tática começa a dar errado quando não existem mais novos investidores. Segundo especialistas, ao identificar uma proposta extremamente atrativa, com promessa de ganho extra e fácil, é importante investigar a empresa responsável no Procon, na junta comercial, na Comissão de Valores Mobiliários, além de em sites de reclamação como o 'Reclame aqui'.
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