Por Lucas Francisco Neto | Já há algum tempo eu tenho discutido se a fama de Guarapari e sua consolidação como destino turístico na segunda metade do século passado realmente se deve às areias radioativas. A tese é de que as descobertas de tratamento de inúmeras doenças, catalogadas por Antônio da Silva Mello em seu livro “Guarapari Maravilha da Natureza”, tenham começado um processo que se consolidou graças a outras atividades, nem tanto radioativas.
A Câmara do Deputados aprovou na última quarta-feira (23) um projeto de lei que regulamenta os “jogos de azar”. Os moradores mais antigos da cidade irão lembrar do Radium Hotel, cassino oficial, luxuoso e conhecido, que elevou o padrão turístico local e de outros cassinos nem tanto oficiais e luxuosos, mas que movimentavam a cidade.
É isso mesmo! Um cassino em Guarapari não seria uma novidade e sim uma reedição. No período que se seguiu ao fim da exploração das areias já estava em funcionamento o afamado Hotel Cassino, inaugurado em 1953. O prédio foi construído para abrigar uma escola naval, no entanto, uma empresa privada arrendou o imóvel.
É importante perceber que, em 1946, por decisão do presidente Eurico Gaspar Dutra, pelo decreto-lei nº 92.215, os jogos de azar foram proibidos no Brasil. O cassino funcionou durante anos mesmo tendo sido inaugurado após a proibição. As empresas Bianchi possuíam inclusive três aviões Douglas, com capacidade para até 22 passageiros, cada um deles, que ficavam à disposição dos hóspedes e, principalmente, dos jogadores.
Naquele período, turistas do mundo inteiro deixavam suas cidades e passavam até três meses no hotel para tratar a saúde nas areias e jogar no cassino. Os aviões de Bianchi aterrissavam na sexta-feira de manhã e decolavam segunda-feira. Essa informação, constante de diversos documentos, como as atas da Câmara Municipal e mencionada pela escritora da terra Beatriz Bueno é de fundamental importância. Devo fixar a informação de que, segundo ela, foi para “[…] atender a demanda do hotel que foram construídos o aeroporto e a ponte”.
Tudo isso não agradou a Silva Melo. Ele atacou o jogo que já invadira a cidade, afirmando que isso só prejudicaria Guarapari (MELO, 1971, p.56). Polêmicas à parte, meu objetivo é lembrar que os “jogos de azar” não são novidade, não pararam de ser praticados e que sua proibição foi mais uma daquelas leis que não pegaram. Com a regulamentação da prática já consolidada podemos crescer em turismo, arrecadação e deixar que a justiça criminal se ocupe dos crimes que realmente prejudicam a paz social. Tudo feito com fiscalização, probidade e transparência.
Portal 27
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