Todo Natal, eu me vejo olhando para a mesa de jantar, impotente diante das batatas fumegantes gratinadas, do peru escaldante e do pudim da minha mãe. Sou uma gastroenterologista e, por isso, muitos devem acreditar que eu não tenho dor de barriga, inchaço, náusea e azia que se seguem à ceia, mas, surpreendentemente, também tenho esses desconfortos gastrointestinais.
Os profissionais de saúde há muito observam, pelo menos sem seriedade, que as visitas ao pronto-socorro aumentam no Natal e nos dias seguintes à ceia devido a problemas relacionados ao estômago (bem como ferimentos na cozinha, ataques cardíacos e acidentes relacionados ao álcool).
— As pessoas sempre se sentem inchadas e desconfortáveis após o banquete de Natal — afirma Baha Moshiree, gastroenterologista da Atrium Health em Charlotte, na Carolina do Norte, que estuda como o estômago se esvazia. Segundo ela, com um pouco de planejamento, você pode manter esses sintomas sob controle.
O que posso fazer durante a refeição para evitar problemas de estômago mais tarde?
A chave, de acordo com Moshiree, é tomar cuidado com como e o que você come e bebe.
Mastigue bem e com calma. Depois de mastigar a comida, ela desce pelo esôfago e chega ao estômago, onde é decomposta pelos ácidos estomacais e pelas contrações musculares antes de passar por um pequeno esfíncter até o intestino delgado.
Mas se você não mastigar sua comida em pedaços pequenos o suficiente, seu estômago levará mais tempo para quebrá-los e vai se esticar para acomodar a comida. Se esticado por muito tempo, seu estômago enviará sinais de náusea ao cérebro.
Para evitar essa sensação, os especialistas recomendam mastigar bem a comida e devagar. — Tente comer quantidades menores a cada duas ou três horas durante a noite. Isso será melhor do que uma farra, porque uma grande refeição ficará no seu estômago por muito tempo — explica Moshiree.
Comer devagar também dará ao seu intestino tempo para enviar sinais de saciedade ao cérebro, disse Nicholas Talley, professor de medicina da Universidade de Newcastle, na Austrália, e especialista na conexão intestino-cérebro. Segundo ele, demora cerca de 20 minutos para que os hormônios que controlam o apetite sejam liberados do intestino delgado e viajem para o cérebro, onde levam as “sensações de saciedade”.
A alimentação consciente — uma técnica que o encoraja a desacelerar e saborear as texturas, aromas e sabores de sua comida — também pode ajudar.
Evite alimentos ricos em gordura e fibras. Alimentos com alto teor de gordura (batatas com queijo e manteiga) e fibras (couve, ervilhas) demoram mais para serem digeridos do que carboidratos. Portanto, encher o prato com muitos deles pode causar dor de estômago ou náusea.
Alimentos ricos em fibras insolúveis, como brócolis, feijão, cebola e frutas, também são causas clássicas do inchaço, então limitá-los pode ajudar, especialmente se eles já lhe causaram problemas no passado. Refrigerantes dietéticos também causam inchaço, diz Talley — eles são absolutamente os piores.
De acordo com o especialista, se no menu tiver sopa, começar com ela pode ajudar porque os líquidos deixam você cheio, mas também são eliminados rapidamente e são fáceis para o estômago digerir. O mesmo pode ser dito da principal atração da data: — O peru tem muita proteína e é facilmente digerível — afirma Moshiree, portanto, em porções normais, ele não é um problema. A proteína também é um fator-chave para sinalizar ao seu cérebro que você está satisfeito, assim, comer peru mais cedo pode ajudar a evitar que você coma demais, fazendo com que você se sinta satisfeito mais rapidamente.
A constipação também pode desempenhar um papel importante no inchaço, acrescentou Talley. Entrar em um padrão intestinal regular bem antes do Natal pode ajudar a garantir que a comida continue se movendo depois de passar pelo estômago. Aumentar o seu exercício ou aumentar a ingestão de fibras pode ajudá-lo a se tornar regular bem antes da ceia.
— Uma caminhada vagarosa seria uma coisa adequada a fazer para ajudar a mover as coisas, em vez de se deitar — disse Talley. No entanto, ele não aconselha exercícios vigorosos após uma refeição de Natal. Movimentos extenuantes, como correr, desviam o sangue do sistema digestivo, podendo levar a cólicas, náuseas e uma vontade repentina de usar o banheiro.
Quando devo me preocupar?
Sentir-se mal regularmente após as refeições é um problema comum. Pelo menos uma em cada 10 pessoas nos Estados Unidos tem um distúrbio crônico chamado dispepsia funcional, que causa dor de estômago constante, inchaço e uma sensação tão cheia e desconfortável que você não consegue terminar uma refeição. Se você se encaixa nessa descrição, Talley aconselha falar com um médico sobre as opções de tratamento.
Contudo, vomitar algumas horas antes do jantar pode ser um sinal de intoxicação alimentar. Embora ela geralmente se resolva sozinha em alguns dias, você deve ir ao pronto-socorro se o vômito for tão grave que você não consiga manter a água no estômago. Você também deve procurar ajuda médica se começar a ver sangue nas fezes, pois isso pode significar uma infecção bacteriana de algo que você comeu.
Mas com um pouco de cuidado e planejamento, afirma Talley, você pode desfrutar de uma refeição deliciosa no Natal sem pensar nos planos da refeição para você.
— Obviamente, vamos comer mais do que o normal no Natal, mas se formos cuidadosos, isso não significa que vamos passar mal depois.
Fonte: Extra
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