O agricultor familiar João Batista Vianney Rodolphi foi o grande vencedor do Concurso de Cafés Especiais promovido pelo Sebrae/RJ no encerramento do Projeto de Melhoria da Qualidade do Café no Noroeste Fluminense. O resultado foi anunciado nesta quinta, 05/11, em solenidade realizada na sede da Coopercanol – cooperativa de produtores de café – em Varre-Sai. Vinte e cinco cafeicultores da região foram capacitados pelo projeto durante dois anos, e aprenderam técnicas de manejo pós colheita determinantes para o aumento da qualidade dos grãos.
João Batista ficou em primeiro lugar nas duas categorias do concurso: Eficiência, que considerou o compromisso com a adoção das tecnologias preconizadas pelo projeto; e Qualidade, que apontou o melhor café. “Sonhamos muito com esse projeto, porque sempre tivemos essa preocupação em produzir café de qualidade. Abraçamos os ensinamentos com seriedade e trabalhamos muito. Me sinto enriquecido em saber que as pessoas apreciam meu café”, afirma João, que trabalha com os três filhos na lavoura e ganhou um Moto Rodo como prêmio.
O projeto foi desenvolvido pelo Sebrae/RJ através de convênio com a Universidade de Lavras, com apoio da Coopercanol, Secretaria Municipal de Agricultura, Emater-Rio, Rio Rural, Ministério da Agricultura, Senar e Faerj. Varre-Sai é o maior produtor de café do Estado do Rio de Janeiro, com cerca de 800 cafeicultores e produção anual estimada em 200 mil sacas. Cerca de 50% do café produzido na região é de baixa qualidade, conhecido como “café riado”. O projeto visa o aumento da qualidade dos grãos e incentiva os produtores a investir na produção de cafés especiais, que tem grande aceitação no mercado.
O trabalho foi coordenado por um dos mais conceituados especialistas em cafés especiais no Brasil e no mundo, o engenheiro agrônomo e professor da UFLA, Flávio Meira Borém. Borém e sua equipe foram a campo, realizaram um diagnóstico de cada propriedade, e fizeram visitas técnicas, ensinando boas práticas na pós-colheita, incluindo técnicas de secagem, armazenamento e transporte adequado do café.
“Este evento coroa o resultado de um trabalho que vai mudar a realidade desta região. A disputa foi muito acirrada e isso mostra o enorme potencial destes cafeicultores. Queremos tornar o Noroeste uma referência na produção de café de qualidade”, esclarece Lídia Espíndola, Gestora Estadual do Projeto de Qualidade do Café do Sebrae/RJ.
Os resultados foram surpreendentes. A produção anual do grupo, estimada em cerca de 16 mil sacas, teve grande aumento de qualidade. A produção do café riado baixou de 53% para 24%; enquanto a de café especial saltou de 10% para 33%; e o de bebida dura (sem defeitos no sabor) subiu de 37% para 43%. O impacto financeiro também é alto: aumento de 1,3 milhão de reais nestes dois anos, se comparado com o valor da saca de café antes da realização do projeto.
O especialista Flávio Borém destacou que o alto grau de envolvimento e dedicação do grupo foi determinante para o sucesso do projeto, bem como a articulação dos setores público e privado em prol do desenvolvimento da cadeia produtiva do café na região. “Com tecnologia e conhecimento os produtores conseguem atingir altos padrões. Os 10 melhores cafés do grupo estão acima de 80 pontos. E tivemos dois cafés com praticamente 85 pontos no concurso. São cafés especiais de excelente qualidade. Acredito que o próximo passo seja difundir essa tecnologia para outros produtores”, finalizou Borém.
Para a categoria Qualidade, os produtores colheram e enviaram amostras do café, avaliadas anonimamente pela comissão julgadora, composta por três degustadores (entre eles Borém) e cinco técnicos da Universidade de Lavras. Já o quesito eficiência baseou-se no índice de adoção das tecnologias, investimento em infraestrutura, aumento médio da qualidade do café e na avaliação da comissão organizadora. Os dez melhores cafeicultores do Prêmio Sebrae de Eficiência de Adoção de Tecnologia e Qualidade de Café são:
Qualidade:
1º lugar: João Batista Vianney Rodolphi
2º lugar: João Batista Purificati
3º lugar: André Luís de Oliveira e Claudinei Carreiro (empate)
4º lugar: Daniel de Oliveira Glória
5º lugar: Francisco Esposti
6º lugar: João Batista Fabri
7º lugar: Claudinei Carreiro
8º lugar: José Maria Fabri e Márcio Vargas (empate)
Eficiência:
1º lugar: João Batista Vianney Rodolphi
2º lugar: Márcio Vargas
3º lugar: Alberto Magno
4º lugar: Luis Carlos Teixeira
5º lugar: José Maria Fabri
6º lugar: Claudinei Carreiro
7º lugar: Francisco Esposti
8º lugar: Geraldo Pinheiro
9º lugar: Geraldo Magela Fabri
10º lugar: Glaucio Possodeli
O CAFÉ BONJESUENSE
O café plantado na Fazenda Santa Rita, no distrito de Calheiros, em Bom Jesus do Itabapoana, está se destacando entre os produtores do estado. Plantado em uma altitude de 650m, o produtor Paulo Fernando Degli Esposti explica que "quanto maior a altitude, para a produção do café, mais saboroso ele fica".
De acordo com Paulo Fernando, a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) estimulou 25 produtores da região de Bom Jesus e Varre-Sai para plantarem este café especial, conhecido como café gourmet. "De Bom Jesus, são meu tio Francisco e José Ferreira, que reside em Varre-Sai e é o 2º maior produtor de café do estado do Rio de Janeiro. Os outros 23 produtores são de Varre-Sai. Meu tio e eu plantamos esse tipo de café há cerca de dois anos", salienta.
Café gourmet é o nome dado à bebida e grãos de café com qualidade superior. Profissionais especializados qualificam o produto. A bebida, conhecida como "premium", exige condições diferenciadas de cultivo.
Paulo Fernando diz que este tipo de café é muito usado em exportação: "cada saca está custando uma média de R$500,00 (quinhentos reais). Assim, um produtor que consiga tirar 60 (sessenta) sacas, obterá cerca de R$30.000,000 (trinta mil reais)".
Segundo Paulo Fernando, "minha propriedade possui cerca de 6 ha, e, junto com meu tio, pretendemos aumentar a produtividade gradativamente".
A Região Noroeste, que conta com os municípios de Bom Jesus do Itabapoana, Varre-Sai, Porciúncula e Natividade, produz cerca de 200 mil sacas de café especial, anualmente, mobilizando cerca de dois mil produtores.
O NORTE FLUMINENSE