Foto: Dida Sampaio/Estadão
Evangélico e oriundo da Polícia Militar da Bahia, o deputado Pastor Sargento Isidoro (AVANTE-BA) é o autor do primeiro projeto de lei registrado na Câmara dos Deputados em 2019. O tema: "declarar a Bíblia Sagrada como patrimônio Nacional, Cultural e Imaterial do Brasil". A razão de tamanha reverência ao livro bíblico é um testemunho pessoal: "a palavra de Deus" ajudou o parlamentar a deixar de ser homossexual, diz ele. "Como ex-gay, posso dizer: eu sou curado".
O parlamentar havia sido apenas o segundo a chegar no protocolo da Secretaria-Geral da Mesa da Câmara nesta segunda-feira, por volta das 8h, dia da abertura do ano legislativo, para apresentar seus primeiros projetos como deputado federal. A ideia de homenagear a Bíblia sensibilizou, no entanto, a primeira da fila, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), que resolveu deixar o colega passar na frente para que este assunto fosse objeto da primeira proposta da nova legislatura.
“Eu vivi no alcoolismo, sou policial militar há 38 anos. Assim que entrei com 18 anos na PM, foi aquilo né: revólver na cintura, beber, ficar bonito, namorar, só que veio o alcoolismo, depois as drogas, aí perdi a dignidade. Fui planejar assalto, virei homossexual. Aí conheci Jesus”, afirmou Isidoro, hoje com 56 anos.
Essa proposta não foi a única elaborada pelo deputado Pastor Sargento Isidoro para seu primeiro ano na Câmara Federal. Em seguida, ele protocolou outra, mas também sobre a Bíblia. O texto diz que fica proibido "o uso o nome e/ou título BÍBLIA ou BÍBLIA SAGRADA em qualquer publicação impressa e/ou eletrônica com conteúdo (livros, capítulos e versículos) diferente do já consagrado há milênios pelas diversas religiões cristãs (católicas, evangélicas e outras que se orientam por este livro)”, diz o projeto de lei.
No total, deputados que assumiram o mandato na última sexta-feira apresentaram ontem, o primeiro dia de trabalho após a eleição do presidente da Câmara, 415 projetos.
A razão é evitar que militantes do movimento LGBT criem o que ele chama de “Bíblia gay”. “Meu amigo, se passar a Bíblia gay, acabou. Aí cada um com seu pecado. Vai passar a Bíblia do pedófilo, da zoofilia, dos corruptos. Isso é muito sério”, afirmou.
Segundo ele, o passado homossexual começou por causa de um abuso, praticado pelo primo de sua mãe e dentro de sua própria casa, ainda quando era criança. A partir daí ficaram os "reflexos" que ele só conseguiu interromper quando tinha 32 anos. Agora, o deputado diz ter família e filhos, mas critica quem não respeita os gays, diz até ter amigos que são.
“Tenho amizades, conheço autoridades de todos os poderes que são homossexuais, mas que respeitam. Você conviver e respeitar é obrigação, agora todo mundo é gay? Aí não. O Brasil tem gay, agora eles precisam respeitar os héteros também. Sou exemplo disso, sou casado, tenho filhos. Fui homossexual até o dia que aceitei Jesus”, disse.
A proximidade do parlamentar com o livro cristão também foi percebido por quem acompanhou a cerimônia de abertura do Congresso. Durante todos os discursos da Mesa, o Pastor Sargento permaneceu com o braço levantado apenas para erguer a Bíblia acima da cabeça de todos presentes. Apesar disso, ele afirma que não integrará a bancada da Bíblia. "Eu não serei nem da bancada da bala, nem da bancada evangélica. Eu vou criar aqui, mesmo que seja eu sozinho, a bancada da paz: a bancada que para, ouve todo mundo e dá um conselho. Todo mundo precisa ser ouvido", afirma.
O Estadão