Ricardo Gomes – Diocese de Campos
“Estou muito feliz por ter sido escolhido para ser o Imperador deste ano, e dediquei esse presente em memória do meu avô Manoel Luiz Lourenço Lima, que sempre me incentivou a servir o Altar.” Orlando Lima Machado
Em agosto a cidade de Bom Jesus de Itabapoana (RJ) renova a tradição da Festa da Coroa do Divino. Mesmo com a Pandemia a festa acontecerá mantendo todos os protocolos sanitários. Expectativas nas famílias que fazem parte da celebração que une cultura e fé. Já foi escolhido o menino imperador para esta edição e na família a alegria da escolha do adolescente.
Orlando Lima Machado, 12 anos é um menino que gosta de jogar bola. Brinca com jogos eletrônicos, estuda, mas a grande alegria é ser coroinha da Matriz Senhor Bom Jesus e este ano o desafio de ser o menino imperador preservando a memoria cultural e religiosa da cidade de Bom Jesus. Para os pais Fábio Machado da Silva e Luzia Helena Andolfi de Lima a escolha do filho foi uma alegria e ao mesmo tempo uma emoção pela importância da tradição que une fé e história.
“Neste ano de 2021, Orlando participou de um sorteio para a escolha do Imperador do ano de 2022 realizado pela Paróquia do Senhor Bom Jesus e infelizmente, não foi sorteado. Ficou muito triste, pois seria um sonho ser o Imperador, mas para nossa surpresa, Orlando foi convidado após a desistência do Imperador que assumiria este ano. Orlando Lima Machado, tem 12 anos, está cursando o 7º ano do Ensino Fundamental no Centro Educacional Batista, reside em Bom Jesus do Itabapoana, ama jogar bola e jogos eletrônicos, é coroinha há 4 anos em sua paróquia e ama servir o Altar”, contou a mãe.
Orlando vem de uma família de católicos praticantes e servidores a Deus. Sua avó Anivanete é Ministra da Eucaristia e tecladista da paróquia, seu irmão mais velho, Albert é cerimoniário e sua mãe Luzia é cantora.
As histórias de um menino imperador
Já no ano passado o menino imperador se uniu às famílias da cidade para representar a tradição que vem se mantendo viva. De família atuante na Paróquia do Senhor Bom Jesus. Gabriel Diniz Paiva, 13 anos, que foi o imperador do ano passado e este ano os familiares falam do orgulho e alegria da contribuição dada a cultura local.
“Para o meu filho Gabriel, além de ter sido uma dádiva; assim sendo, desde pequeno sempre ouviu das suas avós, Jane Paiva (in memoriam) e Teresa de Moraes Diniz a importância da vivência da Fé e da devoção. Foi, também, um momento marcante na sua vida; pois, desde os 9 anos é coroinha em nossa Paróquia formando cada vez mais o seu caráter de cristão e filho de Deus. Gabriel hoje está com 13 anos, gosta de jogar futebol e vídeo game. Está cursando o 8º ano no Centro Educacional Santa Rita de Cássia. É flamenguista e devoto de Nossa Senhora de Fátima, ele a chama de madrinha pois nasceu no dia 13 de maio de 2008”, recorda a mãe Adriana de Moraes Diniz Paiva.
A família do menino imperador Gabriel Diniz Paiva guarda a tradição da devoção na família e recorda a alegria do filho ter sido convidado no ano passado para manter essa herança cultural mesmo com os desafios da pandemia. Desafio e fé que foram os pilares para aceitar manter uma história secular.
“Em minha adolescência recebemos às relíquias da Coroa e do Cetro do Divino Espírito Santo em nossa casa. Foi um momento de graças e de um aprofundamento na fé cada vez maior, buscando uma dedicação na vida de oração e escuta da Palavra. É o ponto alto das devoções em nossa Paróquia quando acontece a Celebração do nosso padroeiro o Senhor Bom Jesus e, por muitos anos já se realiza junto a devoção ao Espírito Santo e, para mim depois de adulta foi uma honra receber agora em minha casa e, ainda mais, meu Filho Gabriel ter sido convidado pelo padre Vicente (Pároco emérito) para ser o Imperador da Festa. Nesse tempo atípico devido à pandemia do Covid 19, uns dias antes aconteceu o falecimento do meu Pai, Jair Costa Diniz e para nossa família foi um momento de refrigério, derramamento da misericórdia de Deus sobre nós nos fortalecendo”, pontua Adriana.
Tradição e Memória coletiva
Manter a tradição, mas cuidando de preservar a vida. Todas cerimonias terão numero restrito de participantes e mantendo o distanciamento social para conter a circulação do vírus e a saúde dos fiéis.
Memória coletiva do Município de Bom Jesus de Itabapoana e um orgulho para os mais idosos e um compromisso para as novas gerações que aprenderam a valorizar o legado de fé e de cultura, representando as histórias que fazem parte da cultura de Bom Jesus de Itabapoana, no Estado do Rio de Janeiro
A pandemia não conseguiu acabar com a tradição com mais de 100 anos que teve a programação adaptada as medidas sanitárias. O Bispo de Campos (RJ) e Referencial Nacional da Pastoral da Saúde fala da necessidade de manter a tradição e com todas as medidas para evitar a circulação da Covid 19 e no cuidado da vida e da integridade dos fiéis. E este ano as mesmas medidas e cuidados serão tomadas.
“Sempre se disse que o Culto gera cultura e anima totalizando e renovando valores e práticas religiosas e espirituais. Assim há um rico acervo de tradições de procedência açoriana e portuguesa que junto ao catolicismo mineiro inspiram rituais e simbologia presente na piedade popular. O patrimônio e a matriz religiosa de um povo e também diz o Papa na Laudato Si configuram a ecologia integral do cotidiano de nossas memórias. Cuidar da memória ajuda não dó a viver mais e a embelezar a vida e carregá-la de sentido e esperança. Em particular a Festa do Senhor Bom Jesus e da Coroa do Divino manifestam a graça da entrega de símbolos de fé compartilhados que irmanam e dão esperança firme ao nosso povo”, afirma dom Roberto Francisco.
Uma história empolgante e que une gerações. Os mais jovens que sonham em ocupar o espaço dos antepassados e a memoria coletiva. Antônio Soares Borges que faz questão de contar um pouco destas histórias de fé e devoção no Divino Espírito Santo. E relata que a festa de Bom Jesus remonta ao ano de 1860, quando, juntamente com a formação do Patrimônio dedicado ao seu Padroeiro, o Senhor Bom Jesus do Itabapoana, são estabelecidas as bases da devoção à Divino Espírito Santo.
“A nossa Festa é muito rica e peculiar, tem influência de Portugal Continental, dos Açores e do Brasil. A visita das Insígnias do Divino às residências é um costume açoriano, introduzido pelo padre Antônio Francisco de Mello, açoriano da Ilha de São Miguel, que também introduz à Festa um Hino muito, muito antigo e tradicional na sua terra natal, que popularmente ficou conhecido como Hino da “Alva Pomba”, nada mais nada menos, o tradicional Hino açoriano do Espírito Santo. Bom Jesus, orgulhosamente, é o único local do mundo que toca e canta esse belíssimo Hino fora dos Açores e das Comunidades açoriana espalhadas pelo mundo. Natural da Ilha de Açores, Francisco Amaro Borba Gonçalves esteve em Bom Jesus ano de 2019, para conhecer tão linda tradição, uma Festa única, que contém elementos da tradição religiosa de Portugal (Continente), dos Açores e do Brasil”, relata Antônio Soares Borges.
Memória e recordações
Aos 82 anos Orlando Batista de Oliveira Silva guarda a foto de 1947 dele sendo o Imperador e o orgulho do neto Daniel Baptista Lemgruber partilhado a memoria e representar o avô que recordou sua participação na festa. Duas gerações que encontram na preservação da memória coletiva da cidade.
“Foi muito marcante na minha vida e certamente um dia vou contar a meus filhos e netos da mesma forma que meu avô me conta da felicidade que foi para ele e agradeço muito por ter representado o imperador. Quantos meninos de minha idade que ainda não tiveram essa experiência”, conta Daniel.
Recordações e orgulho marcam as vidas dos antigos e a preservação da memoria cultural da cidade que reverencia a tradição centenária de celebrar a devoção ao Divino Espírito Santo. Uma devoção que é celebrada na Festa do Senhor Bom Jesus.
Vatican News/Fotos: Rosângela Figueiredo e Ceci Monteiro