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domingo, 13 de outubro de 2019

APIACÁ E SÃO JOSÉ DO CALÇADO PAGAM PROFESSORES ABAIXO DO PISO SALARIAL


Levantamento exclusivo mostra que 35 municípios desrespeitam lei do piso salarial; mesmo diante do cenário, educadores trabalham com amor
Eles dedicam a vida à Educação, mas ainda estão longe de receber remuneração adequada. De norte a sul do Estado, a desvalorização salarial é uma reclamação comum entre professores. “A gente faz por amor, né? Porque, se for olhar salário, a gente desiste”, comenta Querenice Dornelo, 29 anos, professora em Alto Rio Novo.
O município onde Querenice trabalha paga o menor piso a um professor da rede municipal no Espírito Santo: R$ 906,98. O valor é bem abaixo do que a lei determina e faz de Alto Rio Novo um dos 35 municípios que desrespeitam a lei do piso salarial, de acordo com levantamento exclusivo de A Gazeta em especial ao Dia do Professor, celebrado na próxima terça-feira (15).
Foram três meses de trabalho para traçar o cenário da remuneração nas redes municipais de ensino. Todas as 78 prefeituras foram procuradas e apenas Marataízes não informou os dados. O levantamento mostrou que 35 municípios não respeitam o piso, 23 seguem rigorosamente a lei e outros 19 pagam acima do piso nacional.
Mas mostrar a realidade dos professores exigia ir além dos dados, e, por isso, a reportagem percorreu alguns municípios. Por trás dos números, encontramos profissionais com anos de carreira e também aqueles que acabaram de começar. Muitos já cansados, sem perspectivas. Outros ainda motivados, mesmo com a baixa remuneração.
Fomos também surpreendidos por histórias de superação. Professores que vencem limitações físicas para chegar até a sala de aula. Como Anézio Roque, professor em Águia Branca. Pedagogo, com duas pós-graduações, ele recebe R$ 2.200 mesmo após 25 anos de carreira. Deficiente físico, Anézio se apoia nas muletas e no amor à profissão para dirigir 40 km todos os dias de um município a outro e dar aulas.
Anézio Roque, 60 anos
Professor em Águia Branca 
"O problema é que quando a gente pisa na sala de aula, é difícil sair. Se fosse olhar o salário, nem ia trabalhar."
LEI DO PISO SALARIAL
Pela lei, nenhum professor que trabalha 25 horas semanais deveria ganhar menos do que R$ 1.598,59 no país. Esse valor corresponde ao piso salarial - valor mínimo pago a um profissional -, reajustado em 2019. Porém, não é isto que acontece em quase metade dos municípios do Estado, de acordo com apuração feita pela reportagem.
O piso mais baixo foi encontrado em Alto Rio Novo, no Noroeste. Lá, a tabela salarial não é reajustada desde 2012 e o salário inicial de um professor de nível médio é de R$ 906,98, menor até mesmo que um salário mínimo (R$ 998). Enquanto em Itapemirim, nenhum profissional do magistério ganha menos do que R$ 2.360,03, maior piso da rede municipal do Estado.
Os salários baixos e inadequados acabam empurrando os professores para jornadas duplas de trabalho. A doutora em Educação e professora da Ufes, Cleonara Schwartz diz que o acúmulo de cargos é recorrente na profissão, principalmente em municípios que pagam salários muito baixos.
Cleonara Schwartz
Doutora em Educação
"Um grande número de professores passa a ter jornadas extensas de trabalho para conseguir ganhar um pouco mais e sustentar as famílias. Isso gera adoecimento da categoria, porque o professor não consegue se dedicar ao trabalho estando cansado físico e mentalmente"
Outro problema é a dificuldade em atrair novos profissionais, como ressalta o mestrando em Educação Profissional pela Ufes, Gildo Antunes. “Existe hoje uma falta de interesse grande na licenciatura por causa dos baixos salários. É difícil atrair e manter profissionais para ganhar tão pouco", comenta. 
A desigualdade nos municípios chama a atenção do gerente de políticas Educacionais do Todos pela Educação, Gabriel Corrêa. Para ele, é importante entender as diferentes realidades no Estado, mas acima de tudo buscar formas de valorizar o profissional.
Gabriel Corrêa
Gerente de políticas Educacionais do Todos pela Educação
"Os municípios que arrecadam menos têm mais dificuldade financeira de pagar o piso, mas isso não pode ser justificativa para descumprir a lei. É preciso buscar condições para que seja pago, inclusive por meio de apoio do Fundeb, do governo federal"
O QUE DIZEM AS PREFEITURAS
A Gazeta procurou todos os 35 municípios com pisos abaixo do que é determinado por lei. Apenas 14 deles responderam à reportagem. Jaguaré disse que o valor do Fundeb não é suficiente para custear todas as demandas da Educação e que por isso não consegue adequar o piso. Água Doce do Norte informou que desde que se adequou a lei de um terço do tempo do professor para planejamento, não consegue mais cumprir o piso. Fundão afirmou que em junho reajustou em 4,17% o salário dos professores. Em Presidente Kennedy, corre um processo para reajustar o piso ainda este ano.
Já Iconha alegou que o município não possui professores de nível médio, único que está inferior de acordo com a lei. Irupi garantiu que tem se reunido com o sindicato dos professores para adequar o piso. Santa Leopoldina disse que com a baixa arrecadação, não tem sido possível adequar ao valor do piso nacional. Já a secretaria de Educação de Ecoporanga disse apenas que não estava autorizada a repassar as informações solicitadas.
João Neiva afirmou que desde 2017 vem realizando pagamento de dívidas e que, por isso, não consegue adequar o piso. Nova Venécia disse que possui apenas um professor de nível médio e que este tem piso de R$ 1.710,98. Já Ponto Belo respondeu que não possui professores de nível médio atuando no município. Por fim, a Prefeitura de Mantenópolis informou que a receita da cidade é baixa e, por causa da Lei de Responsabilidade Fiscal, o município não consegue atualizar o piso. Os outros municípios não responderam mesmo após vários contatos.

Município
Piso Salarial
Alto Rio Novo
R$ 906,89
Vila Pavão
R$ 998,00
Ecoporanga
R$1030,32
Jerônimo Monteiro
R$ 1099,62
Rio Bananal
R$ 1101,82
Alegre
R$ 1128,60
Pedro Canário
R$ 1130,51
João Neiva
R$ 1166,68
Iconha
R$ 1171,23
Muqui
R$ 1198,75
Mantenópolis
R$ 1256,29
Pancas
R$ 1262,03
Água Doce do Norte
R$ 1263,19
Santa Leopoldina
R$ 1285,94
Aracruz
R$ 1294,30
Águia Branca
R$ 1296,84
Nova Venécia
R$ 1311,32
Ibatiba
R$ 1334,52
Fundão
R$ 1337,79
São José do Calçado
R$ 1339,00
Laranja da Terra
R$ 1367,09
Iúna
R$ 1398,35
Ibitirama
R$ 1422,77
Presidente Kennedy
R$ 1428,46
Castelo
R$ 1429,52
Muniz Freire
R$ 1430,95
Ponto Belo
R$ 1436,59
Brejetuba
R$ 1470,12
Divino de São Lourenço
R$ 1477,50
Conceição do Castelo
R$ 1484,03
Irupi
R$ 1496,90
Apiacá
R$ 1534,59
Jaguaré
R$ 1534,69
São Mateus
R$ 1560,00
Mimoso do Sul
R$ 1560,33
Afonso Cláudio
R$ 1598,59
Alfredo Chaves
R$ 1598,59
Atílio Vivácqua
R$ 1598,59
Boa Esperança
R$ 1598,59
Bom Jesus do Norte
R$ 1598,59
Cachoeiro de Itapemirim
R$ 1598,59
Colatina
R$ 1598,59
Conceição da Barra
R$ 1598,59
Domingos Martins
R$ 1598,59
Guaçuí
R$ 1598,59
Guarapari
R$ 1598,59
Ibiraçu
R$ 1598,59
Itaguaçu
R$ 1598,59
Itarana
R$ 1598,59
Linhares
R$ 1598,59
Marilândia
R$ 1598,59
Mucurici
R$ 1598,59
Pinheiros
R$ 1598,59
Rio Novo do Sul
R$ 1598,59
Santa Teresa
R$ 1598,59
São Domingos do Norte
R$ 1598,59
Vargem Alta
R$ 1598,59
Vila Valério
R$ 1598,59
Montanha
R$ 1599,00
Sooretama
R$ 1600,00
Barra de São Francisco
R$ 1608,94
Governador Lindenberg
R$ 1615,92
Santa Maria de Jetibá
R$ 1619,95
Vila Velha
R$ 1625,80
São Roque do Canaã
R$ 1637,64
Cariacica
R$ 1644,65
Marechal Floriano
R$ 1646,18
Anchieta
R$ 1741,00
Baixo Guandu
R$ 1777,70
Serra
R$ 1779,00
São Gabriel da Palha
R$ 1823,91
Dores do Rio Preto
R$ 1844,31
Piúma
R$ 1845,99
Viana
R$ 1857,63
Venda Nova do Imigrante
R$ 2007,90
Vitória
R$ 2099,41
Itapemirim
R$ 2360,03

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