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domingo, 3 de novembro de 2019

O MELHOR DE ARRAIAL DO CABO, MARICÁ E OUTROS PONTOS DA REGIÃO DOS LAGOS

Maricá, Saquarema e demais cidades do Estado do Rio
RIO - Em Arraial do Cabo , o célebre passeio de barco — sejamos justos, o mais conhecido de toda a região dos Lagos — é um clássico imperdível, mas os próprios marinheiros vêm se mobilizando para garantir que a aventura ao mar seja mais sustentável. Maricá também está multiplicando esforços para ganhar pontos entre os visitantes e se tornar uma porta de entrada da Costa do Sol — como agora se esforça para ser conhecida a boa e velha Região dos Lagos, seguindo uma denominação do Ministério do Turismo que vem encontrando eco entre os moradores dos 13 municípios que compõem o destino.
A fórmula do sucesso da região está na combinação de sol, céu azul e mar — perfeita para o verão e para as próximas férias. Para além dos clássicos, há descobertas a fazer, novos roteiros a percorrer. Como a zona rural de Maricá, com seus caminhos por matas inexploradas; ou as trilhas de buggy de Arraial do Cabo, que permitem conhecer a cidade por um outro ponto de vista.
Arraial do Cabo: no rol das mais belas do mundo
A cada ano, prainhas do Pontal do Atalaia fazem bonito em rankings que listam as praias mais desejadas
Se, ainda hoje, a cor do mar de Arraial do Cabo deslumbra os visitantes, imagine o encantamento do navegador italiano Américo Vespúcio ao se deparar, em 1503, com as águas cristalinas, em variados tons de azul, a areia branca e fininha e o verde estonteante da Mata Atlântica? Pois é, o Brasil mal acabara de ser descoberto e o conquistador já andava pela região, negociando com os índios tamoios a posse de terras. Ergueu um forte e deixou 24 homens de guarda. Hoje, restam algumas ruínas, na trilha entre a Praia do Forno e a Prainha. A Praia da Rama, onde a esquadra desembarcou, virou Praia dos Anjos e, hoje, é o ponto de partida para os barcos carregados de turistas que se aventuram pela região.
Bem, é possível que tamoios, tupinambás, italianos, portugueses, franceses — corsários também tentaram tomar a região — e até os nômades que andaram pela região há cinco mil anos não tenham se dado conta da beleza daquele cabo de águas geladas em que montaram suas tabas e seus arraiais. Aos turistas, porém, este esplendor não escapa. Entra ano e sai ano, as prainhas do Pontal do Atalaia figuram nas listas das mais bonitas do mundo.
— Parece que o mar muda de cor o tempo todo — diz o barqueiro Magno Freitas Dias.
Passeios de barco conduzem às praias da região
As levas de turistas, brasileiros e estrangeiros, que, todas as manhãs, fazem fila no terminal da Praia dos Anjos escolhem entre dois tipos de embarcação. As de dois andares levam até 80 pessoas e podem incluir um toboágua, para quem curte a ideia de deslizar até o mar. Os menores, para até 35 passageiros, têm a vantagem de se aproximar mais das praias, o que permite ao visitante desembarcar quase em terra firme.
De qualquer modo, o itinerário é semelhante, incluindo as prainhas do Pontal do Atalaia, a Praia do Forno e a Gruta Azul, quando o tempo permite. Navegando, também é possível chegar à Praia da Ilha do Farol. Mas atenção: apenas 250 pessoas podem pular na água por vez. Então, se você não quer correr risco, opte pelo primeiro horário de passeio.
Na alta temporada, as embarcações oferecem até três saídas. E a última inclui, claro, o pôr do sol. Mas independentemente do horário, implore ao universo para as condições climáticas permitirem a visita à Gruta Azul. Os nativos dizem que ela se formou com a queda de um meteorito, mas não há registros científicos dessa história. Sem problemas. Quem já esteve lá ou, pelo menos, viu uma das dezenas de fotos que pipocam nas redes sociais sabe que, no fato ou na versão, o lugar é lindo de qualquer jeito e vale o passeio.
— De uns tempos para cá, os próprios barqueiros entenderam a importância de preservar Arraial do Cabo — afirma o barqueiro Magno Freitas Dias, que, nas horas vagas, pesca lulas na encosta da Praia Grande.
Dizem que a lula de Arraial do Cabo é única no Brasil. Mas pode ser apenas história de pescador.
Roteiro de buggy é uma das opções
Observada da costa para o mar, Arraial do Cabo é linda. Mas a visão do oceano para o continente mostra os estragos de décadas de ocupação desordenada. Desde que se emancipou de Cabo Frio, em 1985, a cidade sofre com o crescimento urbano sem planejamento e com a exploração do turismo de massa predatório.
O atual governo vem tentando impor limites e começou justamente por organizar sua maior fonte de renda: o passeio de barco. Os empregados das embarcações cadastradas usam coletes coloridos e uma pulseira de identificação, cuja cor varia todo dia. Com isso, evita-se que um visitante desprevenido embarque num passeio não autorizado pela prefeitura e pela Marinha.
A mesma ordenação vale para os passeios de buggy. A ideia de circular com os simpáticos veículos surgiu de uma necessidade: nem todos os dias os barcos podem sair, já que a Marinha é rigorosa em relação às condições climáticas. E, sim, na região venta muito. Para manter a renda, os próprios barqueiros começaram a oferecer roteiros pelas praias da cidade.
— É um bom negócio para todo mundo. A gente não fica sem trabalho, e o turista tem mais opções — conta o motorista de buggy Julio César de Souza Peçanha.
A aventura em quatro rodas começa na Praia dos Anjos e passa pelas praias do Pontal e do Foguete. A última parada é no Mirante da Boa Vista, no Centro, de onde se descortina a Praia Grande. Os bugueiros estão se reunindo para reivindicar ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) uma área nas dunas onde possam fazer o passeio “com emoção”, nos moldes do que acontece em praias do Nordeste. Hoje, é proibido andar de carro nas montanhas de areia.
— Temos todo interesse em preservar. Basta escolher um trecho das dunas para a gente fazer algumas manobras com o buggy. É mais um atrativo para o turista — diz Julio César.
Temperatura e tons do mar são marcas do lugar
Praia é tudo igual? Bem, na costa de Arraial do Cabo, a impressão é de que não há limite para variações de tons de verde e azul. Somente uma característica parece igual: a temperatura da água, invariavelmente gelada, consequência de uma corrente que vem das Ilhas Malvinas. Os visitantes superlotam a Prainha, logo na entrada da cidade, ou enfrentam a estradinha mal conservada que leva ao Pontal do Atalaia. As prainhas do Pontal são realmente lindas, mas há que se enfrentar uma escadaria com mais de 200 degraus para ter direito a um lugar ao sol. Tem gente que leva cadeira, barraca, isopor. Delícia. Já na volta…
Quer uma opção menos cansativa? Táxis aquáticos saem da Praia dos Anjos e levam o turista diretamente ao Atalaia, por R$ 15 (mais R$ 2 da taxa de embarque).
Fora do circuito mais badalado, a Praia do Pontal oferece uma atração extra: ali ainda se pesca à moda antiga. Do alto do morro, olheiros avistam os cardumes e avisam aos pescadores na areia, que lançam a rede e esperam os peixes se amontoar para recolhê-los. A criançada adora. Ah, vez por outra, uma tartaruga se prende ao arrastão. Os pescadores tratam de devolvê-la ao mar. Um espetáculo de consciência ambiental que merece aplausos.
Maricá: atrativos naturais e variada programação
Cidade é porta de entrada da Região dos Lagos
Distante apenas 57km do Rio de Janeiro, Maricá está abrindo as portas ao turismo de olho na possibilidade de se tornar a porta de entrada da região. Atrativos não faltam. São mais de 40km de praias e uma animada programação de verão, que começa antes mesmo de a estação ser inaugurada oficialmente. E já em 14 de novembro, a prefeitura abre com festa a iluminação de Natal.
Logo em seguida, em 8 de dezembro, acontece o “Espraiado de Portas Abertas — Natal rural”. A localidade do Espraiado é, por sinal, o segredo mais bem guardado de Maricá: uma região rural, com caminhadas, sítios, cachoeiras e muitos agricultores que, a cada dois meses, abrem suas casas para mostrar o que estão produzindo. Na próxima edição do evento, os cozinheiros da região têm a missão de preparar pratos com pernil, antecipando o tempero natalino. Artesãos também exibem suas criações e, vez ou outra, pode-se presenciar a debulha do guandu, feijão típico da localidade.
A festa surgiu em 2008, pelas mãos de Regina Sebould, proprietária do Sítio do Riacho. Ela reuniu os moradores do Espraiado com o objetivo de preservar as belezas naturais e a cultura rural, proporcionando uma economia sustentável para a região. Desde 2013, o encontro conta com o apoio da prefeitura que, hoje, também promove por lá o festival de Sabores da Roça.
— Nosso turismo rural está cada vez mais forte — aposta Regina.
Há shows, esporte e recreação para crianças
Os primeiros meses do ano prometem muita animação nas praias e lagoas da cidade. De 4 a 26 de janeiro, acontece o Maricá Praia Show, com apresentações musicais em Ponta Negra (dias 4 e 5), Cordeirinho (dias 11 e 12), Barra de Maricá (dias 18 e 19) e Itaipuaçu (dias 25 e 26). A partir de 17 de janeiro, começa o Festival de Verão, que se estende até 8 de fevereiro. Além de shows, a programação inclui atividades esportivas e brincadeiras para a garotada. A estreia é na Praia de Ponta Negra. O festival segue por Boqueirão (18 de janeiro), Recanto de Itaipuaçu (19 de janeiro), orla de Araçatuba (24 de janeiro), Barra de Maricá (25 de janeiro), Amendoeiras (26 de janeiro), Praia de Ponta Negra (31 de janeiro), Recanto de Itaipuaçu (1 de fevereiro), Barra de Maricá (2 de fevereiro), Itapeba-João Português (7 de fevereiro) e Praia do Barroco (8 de fevereiro).
Se ainda tiver fôlego, aproveite o Maricarnaval, que vem se firmando como um dos mais animados da região, com folia na rua entre os dias 21 e 26 de fevereiro. Este ano, foram 119 shows durante o reinado de Momo. E, na despedida do verão — o.k., já será oficialmente outono —, acontece o Festival Internacional de Cinema, entre os dias 26 e 29 de março.
Para se recuperar do agito, é hora de pensar em programas mais tranquilos, como uma visita à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo, localizada no Centro. Construída a partir de 1815, ela mistura os estilos barroco e rococó. Outra opção é caminhar até a Gruta da Sacristia, também conhecida como Gruta de Ponta Negra. Muita gente gosta de meditar nas pedras. Por fim, não deixe de passar no Farol de Ponta Negra, de propriedade da Marinha, mas aberto ao público, e de onde se tem uma visão panorâmica da cidade. Vez ou outra, tartarugas nadam por ali, dando um ar de natureza selvagem ao passeio.
Vale desbravar as praias e lagoas da cidade
É mesmo praia a sua praia? Então, espalhe-se por Maricá. Algumas já conquistaram reconhecimento dos turistas, como Ponta Negra, Jaconé e Itaipuaçu. Outras ainda esperam ser descobertas. A começar pela própria Barra de Maricá, talvez a preferida dos moradores do município. Situada entre as praias de Itaipuaçu e Guaratiba, estende-se por 9km, com suas águas transparentes e esverdeadas. Tem quiosques com estrutura para os banhistas e, no bairro de Zacarias, pode-se visitar a vila de pescadores.
Na sequência, vem a Praia de Guaratiba. São 4km de areias brancas e águas límpidas, sem o agito da Barra de Maricá. Muita gente vai até lá para praticar esportes. Seguindo pelo litoral, chega-se a Cordeirinho, praia oceânica de 4,5km. No fim de tarde, é comum encontrar veranistas pescando por ali.
A próxima parada é Ponta Negra, com 5km de extensão. O conjunto da região inclui, além da restinga, as lagoas de Guarapina e do Padre. Um porém: a água é muito gelada, o que parece não espantar os surfistas. A vizinha Jaconé tem paisagem semelhante e um mar quase sempre batido, o que recomenda prudência aos banhistas. Mesmo no verão, os 4km de areia têm espaço de sobra para quem quer se espalhar.
E se você quer desbravar Maricá sem pegar muita estrada, há uma boa alternativa: conheça Itaipuaçu, acessível a partir da Região Oceânica de Niterói. Na estradinha para lá, o mirante da Pedra do Elefante oferece uma vista de tirar o fôlego do que o espera em Maricá. O mar em Itaipuaçu é um pouco traiçoeiro, mas, no Recanto, costuma ser possível tomar banho sem sustos.
Para fechar o dia, uma boa pedida é o passeio de pedalinho na Lagoa de Araçatiba. Sim, Maricá tem muitas lagoas — da Barra, do Padre, de Jacaroá, de Jaconé, Guarapina —, completando um roteiro já repleto de atrações.
São Pedro da Aldeia, Araruama e outras cidades: Museu e arte
Mais atrações para o turista também em Macaé e Rio das Ostras
Fazer o circuito completo da Região dos Lagos, ou melhor, Costa do Sol, implica encontrar praias pouco conhecidas, sítios arqueológicos, pequenos museus e atrações que escapam aos roteiros mais tradicionais. Em São Pedro da Aldeia, por exemplo, funciona o Museu da Aviação Naval, única instituição do país que exibe as máquinas voadoras... da Marinha. Inaugurado em 2000, ele fica na Base Aérea Naval de São Pedro, e reúne aeronaves originais e réplicas, equipamentos, maquetes, fotos e documentos históricos. O museu abre de terça à sexta-feira em dois horários: das 9h às 11h30m e das 13h15m às 17h. Sábados, domingos e feriados, funciona direto, das 10h às 17h.
São Pedro da Aldeia tem outra atração imperdível: a Casa da Flor, no Parque Estoril, tombada pelo Patrimônio Histórico. A casa foi erguida pelo artesão Gabriel Joaquim dos Santos e decorada com mosaicos e enfeites confeccionados a partir de lixo e de objetos quebrados. O acesso é meio complicado — a casa fica na Estrada dos Passageiros 232 — mas, nas redondezas, todo mundo conhece e ajuda a encontrar o caminho. Abre todos os dias, das 8h às 17h30m.
Araruama: a história das salinas
Na vizinha Araruama, que tal matar a curiosidade e entender como funcionam as salinas? Vá lá que ficaram no passado os tempos em que a extração de sal era a principal atividade econômica do município. As salinas chegaram a ocupar uma área de quase 20 milhões de metros quadrados, com uma produção anual de 80 mil toneladas de sal. Ainda hoje, a atividade artesanal sustenta famílias inteiras, com seus espelhos de água salgada e moinhos de vento. A maioria delas fica na Praça Seca e recebe visitantes em horário comercial.
Rio das Ostras: arqueologia
Em Rio das Ostras, o Museu do Sítio Arqueológico Sambaqui da Tarioba, na Boca da Barra, exibe vestígios de uma civilização que teria ocupado a região há cerca de quatro mil anos. Na área escavada, há restos de esqueletos e de adornos, além de ostras gigantes, conchas e pedras. O museu é um dos únicos “in situ” do país, ou seja, o material está exposto da forma em que foi encontrado. Fica na Rua Bento Costa Júnior 70 e funciona de terça à sexta-feira, das 10h às 18h; e, aos sábados, das 12h às 18h.
Macaé: cerveja e música
Macaé realiza dois eventos ainda este ano para antecipar o verão. Nos dias 18 e 19 de novembro, acontece o Macaé Jazz & Food, na Praça do Lions Club; e, de 4 a 7 de dezembro, o Macaé Beer Fest, na Praça do Bairro da Glória, evento de cerveja artesanal.
Saquarema: surfando em outras ondas
Cidade recebe astros do mundo inteiro e tem atrações que vão além do mar
Quem estiver em Saquarema na alta temporada vai ter mais uma alternativa para curtir a noite depois da praia e do surfe. A partir de dezembro, a Cervejaria Lagos, em Rio da Areia, abre para visitação, um sábado por mês. Os fãs da bebida podem conhecer como ela é fabricada artesanalmente e degustar três estilos, Premium Lager, Hop Lager e Witbier. Além disso, têm acesso livre ao jardim, com food truck e música ao vivo. O programa custa R$ 55 por pessoa.
Inaugurada em 2017, a Lagos surgiu com a proposta de ser um celeiro para outras marcas sem fábrica própria, como Three Monkeys, 2 Cabeças, Rock Bird, 3 Cariocas e Wonderland Brewery. Deu tão certo que abriu espaço para o surgimento da Enseada, a marca própria da cervejaria e estrela da programação de verão.
Além de abrir uma gelada para refrescar, os turistas que lotam Saquarema no verão desfrutam de outras opções. Podem, por exemplo, voar de asa-delta ou parapente, decolando da Rampa do Pepê, no distrito de Sampaio Correa. Os adeptos do esporte garantem que as condições climáticas da região são muito favoráveis para a prática.
Talvez, antes da aventura, valha a pena dar uma passadinha na Igreja Nossa Senhora de Nazareth, no Centro, e pedir proteção à santa padroeira da cidade.
Muito do encanto de Saquarema se deve, lógico, à beleza de suas praias, por onde, no mês de junho, desfilam os maiores nomes do surfe, na etapa do campeonato mundial disputada em Itaúna e na Barrinha. É a chance de ver de pertinho astros como Gabriel Medina, Filipe Toledo, Ítalo Nogueira e outros — brazucas ou não. Este ano, 30 mil pessoas se aglomeraram na areia para torcer pelo time brasileiro, um público que a organização da competição estima como recorde em todas as etapas da disputa. Para a economia local, o torneio significou uma injeção de R$ 15 milhões.
Enquanto o circuito não volta, vale a pena sentar na areia e curtir a movimentação dos surfistas locais, que treinam dia sim, outro também. Na cidade, também há várias escolinhas de surfe, preparadas para atender aos interessados em pegar ondas.

Letícia Helena Nunes, especial para O GLOBO

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