Sylvia Helena Vicente Rabello, cristã ,filha de Elsiro e Ilma Ponciano, mãe de Lucas e Desiree. Enfermeira Ministério da Saúde.
Nada melhor no dia da consciência negra conversar com essa mulher tão influente na nossa região.
Quem não conhece a Sylvia? Suas palestras, ajudando sempre na saúde de Bom Jesus, mostrando a alma feminina, e sabe muito da Bíblia também.
Ela parou um pouco de sua agenda lotada para responder umas perguntas sobre o dia tão significativo ou não? leia o que Sylvia respondeu:
Sylvia o que o dia 20 de novembro representa realmente para a população negra?
“Para a população negra de uma forma bem nua e crua não representa quase nada . Em sua grande maioria estão preocupados em prover o sustento se sua família . Estão preocupados em como sobreviver mais um dia”.
Quando vemos tantos preconceitos, na sua opinião o que precisamos fazer para pelo menos diminuir o racismo estrutural no nosso cotidiano?
“Há preconceitos de várias formas e maneiras. O ser humano é cheio de " pre - conceitos ", mas uma forma de criar mecanismos de sobrevivência a meu ver hoje, é conhecer a história do negro . Não as que contam na escola mas a história real. A história de nossas famílias , nossos ancestrais. Não conseguimos rastrear nossos antepassados pois uma importante forma de "apagar" nossa alma foi a de tirar nossos nomes originais e nos dá o nome de "nossos donos". Eu mesma tenho o sobrenome italiano e obviamente não tenho absolutamente nada a ver com a Itália. Em resumo, olhar para trás, buscar raízes,cuidar delas para que a árvore da nossa vida, nossa identidade possa crescer. E vou mais além ...criar mecanismos próprios. Parar de tentar se adaptar e criar seu próprio caminho . Temos condições para isso”.
Como mulher, negra, já passou por algum tipo de racismo?
“Kkkkk. Nem sei por onde começar mas optei por seguir em frente....Raramente falava sobre isso. Hoje vejo meus filhos mais ligados nessa questão. Há quem diga que o racismo não existe ou é coisa de preto. Eu já acho que racismo não é problema nosso. O racismo é problema do racista. É ele quem precisa aprender”.
Bom Jesus é uma cidade pequena, você já avaliou se aqui existe um racismo velado, por ser um lugar que quase todo mundo se conhece ou não, é o reflexo da sociedade brasileira?
“Não existe racismo velado. Racismo é racismo e pronto. Posso contar um dos vários episódios. Uma vez uma senhora negra bateu em minha porta pedindo comida. Quando fui atender ela perguntou se minha patroa não estaria em casa. Respondi que era a dona da casa. Ela riu muito debochada e disse que eu estava mentindo. Como uma negra poderia ter uma boa casa no Jardim Valéria?? Ela foi preconceituosa? Não. Quantos negros tem uma boa casa no Jardim Valeria? Eu poderia contar inúmeros casos em lojas, clubes, colégios, trabalho mas são tantos que não tem nem tempo para contar. O que fazer? Continuar”.
Sylvia por você ser uma mulher bem sucedida, conseguiu fazer o que desejava , qual a dica para uma jovem negra, que talvez pensa que não adianta lutar por algo?
“Não sei o que quer dizer com bem sucedida mas se fala quanto ao lado profissional posso afirmar que sou filha de Elsiro e Ilma Ponciano, negros, lindos altos que viveram em uma época muito mais desafiadora do a que temos hoje. Eram honestos, trabalhadores. Meu pai era mecânico eletricista do estado do Rio e minha mãe agente administrativo da Receita Federal. Tive uma excelente criação. Estudei em boas escolas, cursos de inglês, vivi em um bairro excelente e saúde e educação sempre foram prioridades em minha casa.
Quantos negros você conhece que tiveram ou tem essas oportunidades?
Então...não me considero bem sucedida. Sou uma pessoa que teve uma vida digna e vivo uma vida digna. O negro que tem uma profissão e vive dela não deveria ser considerado bem sucedido. A sua pergunta, em minha opinião, reflete o racismo. O negro que trabalha e come é bem sucedido em nosso país. Isso é um direito básico. Comer, trabalhar, estudar, ter uma casa. Isso não é sucesso. Isso é direito e infelizmente negado a muitos. Ainda assim tive muitos problemas com algo chamado auto estima e identidade. Hoje tenho plena consciência do quanto isso é importante para ter projetos, sonhos e uma vida de realizações. É preciso AMAR e RESPEITAR sua história, quem você é. É preciso conhecer sua IDENTIDADE. Se você sabe quem é, conhece o seu valor, não dependerá da aprovação ou validação externa. Seguirá em frente apesar das adversidades. Educação, saúde, alimentação, segurança e conhecer a real história dos povos africanos. Pegar toda essa força e passar para nossos filhos....Isso sim é ter Consciência Negra. Saber quem somos, de onde viemos e para onde queremos ir”.
Depois dessa aula que a Sylvia nos deu só vou dizer.. Sem mais!!
Por: Silvana Venâncio/Tv Região
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