Os olhos de encantamento daqueles que presenciaram, até então, pela última vez na década de 80, os desfiles pela principal rua de Santo Eduardo, 13º distrito de Campos, foram resgatados no anoitecer do último sábado (15). A história da localidade, fundada em meados do século 19, foi retratada em alegorias e principalmente na garra da comunidade, representada por moradores que iam de crianças a idosos. O desfile foi um dos pontos altos da tradicional festa em homenagem ao padroeiro, na sua 155ª edição, que chegou ao fim nesse domingo (16).
Usando da metalinguagem, o idealizador do desfile, Thiago Gomes, fez um resgate histórico, relembrando os grandes eventos já realizados na localidade. “A nova geração não conhece a história de Santo Eduardo. Além de resgatar uma tradição perdida há quase 30 anos, dando a oportunidade aos mais jovens de presenciar o que seus pais e avós vivenciaram, foi gratificante ver também a emoção dos que voltaram a desfilar após anos e os que assistiram”, destacou Thiago.
Aberto por cavaleiros e um pelotão de bandeiras o desfile seguiu ao som da tradicional banda marcial de Santo Eduardo. Foram alegorias e alas referenciando o progresso que avançou em forma de trilhos, que modificou a bucólica paisagem, rumo a Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo.
A estação ferroviária, a maior do interior, ganhou uma réplica, resgatando o início de um novo tempo para a região, graças à chegada da companhia inglesa Leopoldina Railway, responsável pela construção da Estrada de Ferro Leopoldina. Os ingleses foram os primeiros a chegar e abriram caminho para a vinda de outros imigrantes: libaneses, portugueses, italianos, franceses, suíços.
A presença dos ingleses para construir a estrada de ferro, ligando os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, deu nome à vila e consagrou seu padroeiro — uma homenagem ao Rei Eduardo, da Inglaterra. Até então o santo estrangeiro era pouco venerado no país e desconhecido para a maioria dos católicos da região.
Outro marco importante para a localidade foi a construção da Igreja Matriz de Santo Eduardo, cuja fundação acredita-se ter ocorrido no mesmo ano da criação da vila. No início, era uma simples capela, mas a fé da comunidade a transformou em uma igreja para abrigar um rei. O altar principal da igreja foi replicado em uma alegoria, que trouxe um jovem com as vestimentas do padroeiro, ladeado por dois anjos.
A comunidade foi crescendo no entorno da igreja e a economia acompanhou esta prosperidade graças, principalmente, às culturas da cana-de-açúcar e do café, também retratado por um carro de boi no desfile. A cultura do café era tão forte que Santo Eduardo chegou a abrigar um escritório do Instituto Brasileiro do Café, que ficava localizado no bairro do Departamento.
A história também se revelou com a criação de uma escola. O Grupo Escolar Estefânia Pereira Pinto foi o primeiro educandário de Santo Eduardo, construído pela Família Pereira Pinto. Na década de 60, por obra do então governador do Rio de Janeiro, o santoeduardense Celso Peçanha, que depois virou a Escola Estadual Estefânia Pereira Pinto. Pessoas que estudaram e estudam neste colégio deram ao desfile ainda mais realidade, assim como os que freqüentaram o extinto Cenecista, que hoje é a Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida.
No passado, eram as escolas, junto com a Usina Santa Maria, que organizavam os desfiles, que marcaram época em Santo Eduardo. Na década de 1960, o tema ‘Primavera Através do Mundo’ mostrou como vários países recebiam a estação das flores. Além de uma charrete enfeitada com flores, o grande destaque foi uma ala de alunos e professores da Creche Escola Municipal Professor Paulo Freire.
A diversidade musical também esteve presente no evento. Um ala relembrou o desfile “Ritmos Brasileiros”, organizado na década 70. No alto de um carro alegórico, uma Carmem Miranda saudava o público. Outro evento que marcou época e que era o último, até então, foi o que contou a vida de Jesus Cristo, na década de 80. Neste ano, um presépio foi à rua para contar parte da maior historia do mundo.
O desfile foi encerrado com uma homenagem a Celso Peçanha, filho mais ilustre de Santo Eduardo, que morreu em 13 de junho, aos 99 anos. Advogado, jornalista, professor, escritor e político, Celso Peçanha não poupou esforços para o desenvolvimento de Santo Eduardo. Ele governou o Estado do Rio de Janeiro, entre 1961 e 1962. Também foi prefeito de Bom Jardim, Rio Bonito e deputado federal. Nasceu na Fazenda Coqueiro, em 2 de agosto de 1916. Como legado, ele nos deixou o campo de futebol, o posto de saúde, a praça Nilo Peçanha e contribuiu para a construção do Centro Pó-Melhoramento de Santo Eduardo.
A festa durou cinco dias e contou ainda com a parte religiosa, barracas e apresentações musicais.
Folha da Manhã