Um trader, identificado como Arthur Leite, contratado por Glaidson, também foi preso pela Polícia Federal. Ele estava na sede da GAS, em prédio no centro de Cabo Frio, na Região dos Lagos (RJ). O outro preso foi identificado como Tunay Pereira Lima, que foi detido no Aeroporto de Guarulhos, quando tentava embarcar para Punta Cana, na República Dominicana, para um evento da GAS. Thiago Minagé é o advogado que defende o empresário. Procurado, ele não atendeu as ligações da reportagem. À TV Globo na última semana, o defensor disse que "a GAS de Glaidson Acácio, que atua no ramo de tecnologia e consultoria financeira em criptomoedas, não compactua com ilegalidades e preza pela licitude de todas as suas operações".
De acordo com a investigação, a empresa de Glaidson, com sede na Região dos Lagos (RJ), é responsável pela operacionalização de um sistema de pirâmides financeiras ou "esquemas de ponzi", calcado na efetiva oferta pública de contrato de investimento, sem prévio registro junto aos órgãos regulatórios, vinculado à especulação no mercado de criptomoedas, com a previsão de insustentável retorno financeiro sobre o valor investido.
Nos últimos seis anos, a movimentação financeira das empresas envolvidas nas fraudes apresentou cifras bilionárias, sendo certo que aproximadamente 50% dessa movimentação ocorreu nos últimos 12 meses, diz a PF. Glaidson prometia lucros de 10% ao mês nos investimentos em bitcoins, mas os investigadores afirmam que a GAS nem sequer reaplicava os aportes em criptomoedas, enganando duplamente os investidores.
Em grupos de investidores em moedas virtuais, muitas pessoas estão desesperadas com a possível perda do dinheiro investido
"Agora o que resta é lamentar. Eu acabei de passar em frente ao prédio dele (em Cabo Frio) e está aqui a Polícia Federal, a Receita Federal. Todos eles armados e parece que vai prender uma pessoa de uma facção gigantesca do Rio. Não era para levar para a imprensa. Trouxeram o foco para Cabo Frio. A GAS que nunca teve problema com ninguém agora, provavelmente, não vai pagar para mais ninguém. Agora, é chorar", postou um investidor. Um segundo escreveu: "Muito triste isso".
Empresa se manifesta: 'honrar compromissos'
Após a prisão de Glaidson, a GAS Consultoria enviou um comunicado para os investigadores. A empresa afirmou que "os pagamentos serão feitos normalmente" e que "os advogados estão atuando" para soltar o empresário. Ainda de acordo com a nota, enviada a um grupo de WhatsApp, os funcionários pediram para que os clientes tenham "serenidade" e finalizam dizendo que eles estão trabalhando para "honrar os compromissos assumidos".
O documento diz ainda que "os sócios estavam cientes da repercussão das notícias divulgadas no Brasil". O comunicado dá a entender que os empresários, que fazem parte da GAS, não estão no país. O documento salienta que “a informação de que Glaidson está preso não é verificada”. A mensagem aos clientes segue dizendo que os empresários estão "em reunião estratégica para enfrentar os desdobramentos" e que "o CEO da empresa (Glaidson) havia reportado a Polícia Federal sua agenda. Havia a intenção de ir ao Haiti assim como outros membros da empresa". Os funcionários da GAS ainda afirmam aos clientes que "foi recomendado a ele não se ausentar, pois seria chamado para esclarecimentos". Tentando minimizar a situação, os funcionários da GAS afirmaram que Glaidson apenas foi conduzido para a sede da PF, no Centro do Rio, para prestar depoimento.
O GLOBO apurou que muitas pessoas investiam seu dinheiro com o empresário. Entre eles estariam políticos, policiais, empresários e comerciantes da região.
No domingo, o Fantástico, da TV Globo, mostrou que a GAS era investigada há dois anos pelo esquema, mas se disfarçava de consultoria em bitcoins, uma moeda digital
Os mandados foram expedidos pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro e decorreram de um esforço conjunto entre a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Receita Federal.
No início do mês, o EXTRA mostrou que a Região dos Lagos é o foco de investigações nesse mercado financeiro de moeda digital que explodiu em Cabo Frio e vem sendo chamado de Novo Egito, em alusão à corrida pelo ouro no país africano.
Os investigados poderão responder, na medida das suas responsabilidades, pelos crimes de gestão fraudulenta/temerária instituição financeira clandestina, emissão ilegal de valores mobiliários sem registro prévio*, organização criminosa e lavagem de capitais, e, se condenados, poderão cumprir pena de até 26 anos de reclusão.
O nome da operação, Kryptos, vem do termo grego para designar o "oculto' ou o 'escondido".
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