Crime comum nas grandes metrópoles, o sequestro-relâmpago voltou a frequentar o noticiário na região Norte Fluminense. Somente na última semana, foram quatro casos em 72 horas, sendo dois em São João da Barra, um em Campos e outro em Quissamã. Mesmo a Polícia Militar (PM) afirmando que não se trata de uma modalidade de crime que possa se tornar rotina na região, a população segue com medo diante da brutalidade dos bandidos. Ao mesmo tempo, forças de segurança passaram a tratar publicamente da chegada a Campos de uma nova facção. A organização criminosa tem forte atuação na capital e já teria assumido o controle de pelo menos três comunidades do Município.
Segundo o major Tibério Carlos, subcomandante operacional do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), apesar de ter sido divulgado que todos os quatro casos na região se tratariam de sequestros-relâmpago, apenas dois apresentaram características desta modalidade de crime.
“O sequestro-relâmpago é definido como um crime cometido quando, mediante restrição da liberdade da vítima, se obtém vantagem econômica. Dos últimos crimes ocorridos na área do Batalhão e em Quissamã, apenas dois casos apresentaram características de sequestro-relâmpago”, afirmou o major.
Ainda segundo Tibério, mesmo com o registro dos casos na última semana, seria precoce afirmar que a prática de sequestros-relâmpago está crescendo na região. “Os casos aqui são raros e estes últimos, representam fatos isolados. Entretanto, estamos intensificando o nosso policiamento para proporcionar mais segurança à nossa população. As nossas agências de inteligência, juntamente com a Polícia Civil, estão investigando quais são os possíveis autores para prendê-los o quanto antes”, explicou.
O especialista em segurança pública Roberto Uchôa acredita que, por se tratar de um crime incomum na cidade, a ocorrência de casos de sequestro-relâmpago em um curto espaço de tempo pode indicar a atuação de uma quadrilha especializada.
“Após uma queda no número de crimes contra o patrimônio observado durante a pandemia, com a volta da atividade econômica e a circulação de pessoas, esse tipo de crime voltou a ocorrer com maior frequência, sendo que o sequestro-relâmpago surge na nossa cidade como mais um fato a corroborar essa percepção de aumento. Como não é uma ação que tem ocorrido de forma frequente em nossa região, a possibilidade de esses crimes serem cometidos pela mesma quadrilha com certeza deve estar sendo investigada pela Polícia Civil. Somente com trabalho de investigação será possível tirar esses criminosos de circulação e impedir a repetição dessas ações”, afirmou o especialista.
Nova facção traz insegurança e medo
Desde o dia 20 de setembro circula, em Campos, a informação de que o Comando Vermelho (CV) se instalou na cidade. De acordo com o major Tibério, a facção tomou o controle do tráfico de drogas na Comunidade da Baleeira, no bairro da Tapera e na localidade de Santa Cruz.
Para ele, porém, mesmo com a mudança de comando do comércio de entorpecentes nestes locais, a tendência é de que a rotina da população não sofra grandes alterações, já que, apesar da troca, as lideranças permanecem as mesas.
Uchôa, por sua vez, acredita que a presença de diferentes organizações criminosas em Campos pode contribuir para o aumento da violência nos próximos meses.
“A diversidade de facções tende a aumentar a possibilidade de confrontos pelo controle de territórios. O CV, em especial, trava com o PCC uma luta pelo controle das rotas do tráfico de drogas no país e não tem a hegemonia que o PCC tem em São Paulo. No Rio, ainda há muitas disputas entre facções e também com a milícia. A chegada do CV a Campos traz essa preocupação a mais, do aumento de confrontos em razão de questões acima das locais”, afirmou o especialista.
Tecnologia facilita ação dos criminosos
Tanto Uchôa quanto o major Tibério Carlo, explicam que, apesar dos crimes serem assustadores, não há motivo para que a população se preocupe.
“Infelizmente, a violência faz com que certas inovações tecnológicas que facilitam nosso cotidiano também sejam usadas por criminosos. O PIX é um exemplo. A rapidez das transferências eletrônicas e a possibilidade de repasse de altos valores se tornou atraente para o crime. Lembremos que, em um sequestro-relâmpago, alguns criminosos ficavam com a vítima enquanto outro fazia saques em caixas eletrônicos ou compras em lojas. Isso expunha os criminosos em determinados momentos da ação. Com o PIX, tudo muda. Os criminosos podem conseguir o que querem rapidamente, usando contas de laranjas, sem tanta exposição”, explica Uchôa, que ainda afirma: “não há muito o que possamos fazer além de acreditar no trabalho de investigação da polícia”.
Segundo Tibério, o importante é não facilitar a ação dos criminosos, se manter alerta e nunca reagir a um assalto.
Jornal Terceira Via