Em 2011, o jornal O Norte Fluminense fez entrevista histórica com João Salim Melhim, que reproduzimos a seguir.
JOÃO SALIM MELHIM nasceu no Brasil no dia 18 de julho de 1930. Seus pais, Salim Hanna Saad e Tepet Chalhoub Saad, católicos ortodoxos, nasceram "na vila de Silvéia", na República do Líbano. Quando cresceram, foram viver na região de Ramallah, na província de Monte Líbano. Trabalharam na lavoura e possuíam criação de ovelhas, além de cultivarem trigo, oliveira, uva, pera, maçã, entre outros.
Salim Hanna Saad veio para o Brasil, fixando-se inicialmente em Varre-Sai, mas ficou pouco tempo com os irmãos Merihge Hanna Saad e Karin João. Por volta de 1920, vieram para Bom Jesus do Itabapoana e abriram uma loja de variedades, consistindo em armarinho, tecidos, calçados e mantimentos. Tal sociedade foi estabelecida onde hoje está localizada a residência de Joaquim Cezário, mais conhecido como Joaquim Relojoeiro.
Segundo João Salim, "os libaneses mascateavam, isto é, realizavam comércio ambulante, até se estabelecerem em prédio fixo". Posteriormente, os irmãos Karin João e Merhige Hanna Saad retiraram-se da sociedade e estabeleceram uma firma de compra e venda de café. Já Salim Hanna Saad abriu uma loja onde atualmente funciona a Foto Real. Em 1923, seu pai adquiriu uma casa na Rua Buarque de Nazareth, onde hoje está estabelecido o Magazine Salim Antonio.
Seu pai faleceu subitamente, por causa de um enfarte no dia 27 de setembro de 1953, enquanto sua mãe faleceu no dia 25 de março de 1996. Com a morte de seu pai, restou organizada uma sociedade entre os filhos José, Michel e João. Na época, Michel Saad fazia o curso de Direito em Niterói.
MICHEL SAAD
Uma das maiores alegrias de João Salim ocorreu quando Michel Saad foi eleito deputado estadual, com a maior votação dada a um político, ao mesmo tempo que Badger Silveira fora eleito governador. Recorda-se, com indignação, que Michel Saad fora, posteriormente cassado pelo SNI que o chamava de "Miguel", o que demonstraria que os militares nem conheciam o seu verdadeiro nome. É com orgulho ainda que se recorda de que foi Michel Saad o responsável pela vinda do Colégio Estadual Padre Mello para Bom Jesus, não obstante futuramente, o prédio atual do educandário tenha sido obra de Delton de Mattos. Em 1985, Michel e José sairam da sociedade, que continua até hoje nas pessoas do próprio João, sua esposa Edir e seu filho Roberto.
A REGIÃO CENTRAL E OUTRAS RECORDAÇÕES
João Salim se recorda de que a região onde está estabelecido seu comércio era antigamente o centro comercial do município com quatro bancos: "Banco do Brasil,Caixa Econômica Federal, União de Bancos e Banco Predial, sem falar no BANERJ,que ficava em região mais distante".
Com a construção da nova ponte, distante de onde ficava a ponte velha, e com o início das enchentes, os bancos passaram a mudar de endereço, trazendo uma diminuição na vida econômica da região outrora próspera.
Recorda-se, ainda, da epoca em que o Colégio Rio Branco passou por sérios problemas financeiros. Na ocasião, foi instalada uma junta governativa integrada por Olívio Bastos, José Mansur e José de Oliveira Borges. Segundo João Salim, "José Mansur apoiou com recursos financeiros e, depois, retirou-se juntamente com José de Oliveira Borges, permanecendo Olívio Bastos na administração e propriedade do educandário".
A lembrança de um fato pitoresco faz com que com um sorriso surja nos lábios. Era o tempo em que era estudante "meio rebelde". Dona Carmita, professora e diretora do Colégio Rio Branco obrigou-o, certa vez, a "copiar seis mil vezes a frase 'não devo ser indisciplinado' ".
Outro fato está em sua memória. Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, o então aluno Delton de Mattos resolveu comandar uma manifestação contra os alemães, apoiando uma passeata que chegou a passar em frente à residência de um alemão que residia em Bom Jesus.
Nossa reportagem solicitou que João Salim comentasse a respeito de alguns libaneses que se estabeleceram em Bom Jesus, e ele prontamente atendeu à solicitação, mencionando os seguintes personagens.
MERHIGE HANNA SAAD
Merhige ganhou muito dinheiro na função de comprador/vendedor de café", disse ele. Quanto a isso, João Salim acrescentou: "Eu me lembro de uma conversa entre tio Merihge e o sr. Osório Carneiro, dono do jornal A Voz do Povo, em 1947, na Praça Governador Portela. Estava sendo demolido um velho casarão onde funcionava um hotel, e tio Merhige disse a Osório que iria construir um cinema e seriam gastos três milhões de cruzeiros. Osório ponderou se não seria melhor que ele aplicasse este dinheiro na cidade do Rio de Janeiro. Ao que tio Merhige replicou: 'eu ganhei este dinheiro aqui em Bom Jesus e investirei este dinheiro aqui em Bom Jesus' "
Segundo ainda João Salim, "o prédio que fica próximo ao Cine Monte Líbano é histórico para Bom Jesus, porque foi, durante 8 (oito) dias, durante o ano de 1959, e outros 8 (oito) dias durante o ano de 1960, sede do Palácio do Governo do Estado do Rio de Janeiro. O Governador Roberto Silveira nestes dois anos transferiu a capital do Estado do Rio de Janeiro para Bom Jesus, com todo o secretariado e deputados, durante a Festa de Agosto".
JOSÉ MANSUR
José Mansur "foi o líder da colônia libanesa em Bom Jesus. Ajudou muito a desenvolver o município. Foi grande comerciante, comprador/vendedor de café e homem de grande visão. Como comerciante, foi correspondente do Banco do Brasil e ajudava muito os mais necessitados. Ajudou bastante o Hospital São Vicente de Paulo".
Segundo Joao Salim, "José Mansur trouxe diversas agências bancárias para Bom Jesus. A velha ponte de madeira era sempre por ele reparada, quando havia necessidade".
JOSÉ EID, ABDO NASSAR E OUTROS ILUSTRES LIBANESES
José Eid "foi um grande homem. Caridoso, tinha muita visão. Fazia parte de todo o movimento que procurava colocar Bom Jesus em direção ao progresso. Há uma rua, no Bairro Pimentel Marques, que leva seu nome". Ja Abdo Nassar é "o único libanês vivo em Bom Jesus".
João Salim se recorda ainda de outros insignes libaneses que vieram para Bom Jesus: "1) José Mansur e Bahia Mansur; 2. Nagib José e Helena; 3. Salim Hanna Saad e Tepet Chalhoub Saad; 4. Merhige Hanna Saad e Alzira Sauma Saad; 5. Karin João e Julia Habib; 6. Tannus Mansur Saad; 7. Elias Melhim Chalhoub; 8. Elias Nascif e Nabia Nascif; 9. Namem Melhim Chalhoub e Gandura Chalhoub; 10. Daud Jorge Habib e Réze Habib; 11. Salomão Paulo e Michel Paulo; 12. Tebete Cury; 13. Elias Jorge Abib e Tepet Habib; 14. Rachid Luiz (Felipe Luiz); 15. Miguel Féres; 16. Rachid Féres; 17. Cesar Felício; 18. Nametala Abib; 19. José Abib; 20. Miguel Antonio; 21. Miguel Fadel; 22. Mansur Jabor; 23. Naime José; 24. Naime Jabor; 25. Naime José; 26. Alexandre José Assad; 27. Liesse José Assad; 28. Salim Elias; 29. Adib Salim; 30. Pedro Waquim, Chicre Mansur, Mansur Chicre Mansur, José Said (Lé)".
MENSAGEM
João Salim possui 3 filhos: Rosângela Cavichini Salim Hertal, Carla Maria Cavichini Salim Silva e Roberto Cavichini Salim. Ao final da reportagem, deixou uma mensagem: "Peço a Deus que ilumine a todos nós, descendentes de libaneses, para continuarmos a seguir os exemplos dos mesmos, trabalhando para o bem juntamente com nossas famílias e a comunidade. Agradecemos também tudo a Deus, por estarmos vivendo neste país maravilhoso Brasil, e nesta cidade maravilhosa que é Bom Jesus".
Segundo o texto da proclamação da independência do Líbano em 1920, “um cedro sempre verde é um povo sempre jovem, apesar de um passado cruel. Embora tenha sido oprimido, jamais conquistado. O cedro é sinal de união. E pela união, pode enfrentar a todos os ataques”.
O prédio onde está assentado atualmente o comércio Magazine Salim Antônio é um dos mais antigos de Bom Jesus. Inaugurado com o nome de Casa Syria, em 1923, passou depois a se chamar Casa Salim Antônio, antes de ser nominado de Magazine. Adentrar no comércio de João Salim é como fazer uma emocionante viagem a um passado que continua presente e aponta para o futuro.
João Salim é o idealista e vencedor que faz questão de continuar sonhando, tal qual seus antepassados.
O Norte Fluminense