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segunda-feira, 1 de maio de 2017

CANDIDATO DERROTADO EM JAPAREI ACUSA OS MAIS VOTADOS DE TAMBÉM TER COMPRADO VOTOS


Arte/O Dia
'Só entrou bandido!’, confessou José Carlos de Souza, o JC, 47 anos, à mãe, Dona Lourdes de Souza, de 61 anos, sobre a última eleição para a Câmara de Japeri, na Baixada Fluminense, um dos municípios mais pobres do estado. Eleito suplente de vereador, o político ainda foi mais longe na sua ‘avaliação’: os quatro primeiros colocados das 11 vagas teriam gasto R$ 900 mil para comprar votos.
Ele se referiu a Wesley George de Oliveira, o Miga, do PP, (R$ 300 mil); Helder Pedro Barros, PSL, (R$ 200 mil); Alex Gonçalves, PSL (R$ 200 mil), e Roberta Bailune, do SD, (R$ 200 mil), atualmente afastada porque é secretária de Educação de Japeri. Mas Dona Lourdes mostrou-se irredutível quanto ao conceito de honestidade. Ela reprovou a conduta do filho, que admitiu ter comprado 50 votos por R$50 e passou-lhe a reprimenda. “Trabalho sério comprando voto não é trabalho sério.”
As confissões de JC à mãe em 17 de outubro, logo depois do primeiro turno da disputa eleitoral, foram em conversa telefônica, gravada com autorização da Justiça, porque ele é investigado por encomendar serviços de uma quadrilha especializada em fraudar documentos no Detran. Como O DIA mostra desde ontem na série ‘Lições de Dona Lourdes’, o pito cai como uma luva para as mães de todos os maus políticos denunciados em operações como a Lava Jato, que estarrecem o país com tanta corrupção.
Os casos relatados por JC também ganharam eco na Justiça. O promotor Marcus Vinicius Leite pediu à 28ª Vara Criminal que encaminhe a conversa telefônica ao Ministério Público Eleitoral para investigar abuso de poder econômico. A promotora eleitoral de Japeri Julia Valente Moraes informou que tão logo a documentação chegue vai pedir à Polícia Federal para investigar. “Não recebi nada até agora, mas quando o material chegar vou requisitar a instauração de um inquérito na Polícia Federal para apurar a compra de voto”, afirmou Julia.
Se comprovada a denúncia, os acusados poderão ficar inelegíveis por até oito anos, além de responder criminalmente — a pena é de até quatro anos de reclusão. Presidente da Câmara e primeiro colocado na eleição com 1.501 votos, Miga foi lacônico: “Não tenho o que falar. A boca é dele (JC), ele fala o que quiser. Mas se ele falou, vai ter que provar”. A reportagem não localizou Helder. Quarta-feira à tarde, ele não estava no plenário. Com relação a Alex Gonçalves, a informada era de que ele estava fora do município e não foi localizado até o fechamento desta edição. 
Cada vereador da Câmara Municipal de Japeri embolsa por mês de salário o equivalente a R$ 10.500. Se levarmos em conta, por exemplo, que um vereador gastou R$ 200 mil para se eleger, ele teria financiado o equivalente a quase 20 meses de mandato. A realidade financeira desta conta contrasta com o dia a dia dos moradores do município, que sofrem com a falta de saneamento básico, hospitais e serviços de infraestrutura, como internet.
Segundo dados do IBGE, a população é estimada em 100.562 pessoas. Mas quase metade da população sobrevive com o Programa Bolsa Família. Segundo a prefeitura, no ano passado, quando houve recadastramento, o número de famílias chegava a 18 mil, o equivalente a 40 mil pessoas, o que representa 40% da população.
Eleita com 1.042 votos, Roberta Bailune, do SD, está no comando da Secretaria de Educação desde a gestão passada do prefeito Ivaldo Barbosa, o Timor. Agora, quem comanda a prefeitura é Carlos Moraes, do PP. Ela recebeu as confissões de José Carlos de Souza, o JC, com surpresa e indignação. “Ele (JC) fala dos quatro primeiros colocados. De repente, tirou isso por hipótese. Sou professora concursada há mais de 20 anos, tenho uma história”, afirmou.

Por Adriana Cruz/ Coluna Justiça&Cidadania-O Dia Online

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