A Justiça de Quissamã acatou a denúncia do Ministério Público e tornou o vereador Janderson Chagas (DEM) réu por roubo a mão armada, falsidade ideológica e ameaça contra dois homens no dia do primeiro turno das eleições municipais, em 15 de novembro. Janderson é policial militar reformado e foi flagrado em filmagens usando uma arma de fogo para pegar celulares e câmeras fotográficas de duas pessoas ligadas ao grupo político do ex-prefeito e candidato derrotado no último pleito Armando Carneiro (PSC), que estariam fotografando suspeitas de compra de votos, segundo o MP.
O caso aconteceu em plena luz do dia, por volta das 14h, na praça Brigadeiro José Caetano, no Centro de Quissamã. Na ocasião, segundo o MP, Janderson tirou a vítima de seu próprio veículo com a arma em punho e o revistou, além de ter levado, também, os documentos do homem. Para isso, a promotoria destacou que o réu utilizou a falsa identidade de policial militar.
Janderson recebeu 383 votos e foi eleito vereador. O policial reformado também atuou como coordenador de Segurança Pública no governo da prefeita reeleita Fátima Pacheco (DEM) e disputou a eleição da Mesa Diretora da Câmara como candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Fabinho Mecânio (Republicanos). Apesar do apoio do Executivo, o grupo foi derrotado por seis votos a cinco para a chapa que teve Marcinho Pessanha (MDB) na liderança.
“Os crimes foram cometidos com a intenção de assegurar a ocultação de outro(s) crime(s), já que as vítimas haviam sido contratadas pela coligação partidária rival ao partido do ora denunciado para fotografarem situações de boca de urna e compra de votos praticados pelos correligionários do ora denunciado. Assim sendo, o ora denunciado praticou as condutas com o propósito de livrar-se do material até então coligido pelas vítimas”, destacou a promotora Gláucia Rodrigues Mello em um trecho da denúncia.
Em outro trecho, o MP também citou que o ato de Janderson colocou em risco a vida de várias pessoas. “Vale ressaltar que os atos tiveram lugar na principal praça da cidade de Quissamã, próximo à Prefeitura, no dia das eleições municipais de 2020, quando a praça pública estava completamente lotada de populares. Apesar disso, o ora DENUNCIADO, então candidato a vereador, não se acanhou em empunhar sua arma de fogo, colocando em risco a vida de dezenas de pessoas que por ali se aglomeravam para assistir a sua conduta”.
O Ministério Público chegou a pedir a prisão preventiva do vereador, mas a juíza Gisele Gonçalves Dias, em exercício na Comarca de Quissamã e Carapebus, responsável pelo caso, negou. “Também não há nos autos elementos que permitam, por ora, concluir que haverá prejuízos à instrução criminal e à lei penal, uma vez que as vítimas prestaram depoimento em sede policial mesmo sabendo que o acusado se encontrava solto. Além disso, o réu compareceu espontaneamente perante a delegacia para prestar depoimento”, disse a magistrada na decisão.
No entanto, a juíza acatou o pedido para a suspensão do porte de arma de Janderson e que ela não ficasse sob responsabilidade da 130ª Delegacia de Quissamã, uma vez que no dia do ocorrido, segundo a promotoria, os policiais civis procederam de “forma diferente da habitual”.
O ex-prefeito Armando Carneiro lamentou o fato da prisão preventiva de Janderson não ter sido acatada pela Justiça. “Foi um absurdo que a prisão não tenha sido decretada neste caso. Eram pessoas nossas que estavam fotografando crimes sendo cometidos e ele (Janderson) abordou, apontou a arma, tirou a memória da câmera, pegou os documentos dos rapazes e ainda agiu dizendo que era PM, sendo que é reformado. Foi candidato a vereador pelo grupo da prefeita fazendo essas barbaridades e foi eleito. É lamentável que a política esteja chegando a esse nível do vale-tudo”.
A equipe de reportagem entrou em contato com Janderson Chagas, com a Câmara de Vereadores e a Prefeitura de Quissamã, mas apenas a assessoria do Legislativo retornou, informando que não iria se pronunciar. O espaço segue aberto.
Folha 1
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