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domingo, 21 de novembro de 2021

PRETOS SÃO MENOS DE 8% DOS VEREADORES NO NORTE FLUMINENSE

No Dia da Consciência Negra, o debate sobre a falta de presença e representatividade de homens e mulheres pretas na política ganha ainda mais destaque. Dos 115 vereadores eleitos em 2020 nos municípios do Norte Fluminense, apenas nove se declararam como pretos à Justiça Eleitoral – número que representa 7,8% do total – e apenas uma é mulher.
A desigualdade racial é um marco na história de Campos. A mesma cidade de Nilo Peçanha, o primeiro e único presidente negro do Brasil, e de José do Patrocínio, uma das figuras mais importantes do movimento abolicionista, também foi um dos últimos municípios do país a abolir a escravidão. Atualmente, a disparidade também está presente na Câmara Municipal.
Chamada de Casa do Povo, o Legislativo goitacá possui apenas um vereador que se declarou como preto – Maicon Cruz (PSC) – entre os 25 eleitos.
Para a socióloga Simone Pedro, a desigualdade racial não tem sido tema do debate político, o que, por consequência, leva à falta de representatividade no Legislativo.
— Não vemos que a questão da desigualdade racial tenha sido discutida entre os candidatos. Esse debate está presente em partidos, nas empresas, mas entre a população em geral esse debate é enfraquecido. Não vemos decisões que levam em consideração o debate sobre a intolerância religiosa, a morte dos jovens negros. Isso leva ao engessamento desse grupo numeroso da população, que vai permanecendo nas mesmas condições.
Ainda em Campos, apesar de apenas um vereador eleito se declarar como preto, outros 11 disseram à Justiça Eleitoral serem pardos. A socióloga explica que existe uma influência histórica que faz com que algumas pessoas não se enxerguem como pretos.
— Após a abolição da escravatura, tivemos uma política de embranquecimento da população. O país acreditou que poderia ser de pessoas brancas e por isso foi incentivada a miscigenação. Foi colocado como negativo tudo aquilo que nos aproximava da África, enquanto tudo que fosse mais próximo do europeu era como se validasse mais. E isso influencia na hora da declaração de cor ou raça. Ao se pensar em alguém que almeja um posto importante, como na Câmara, é normal ver quem não se enxergue próximo daquilo que nos aproxime da África. Quando se fala que é miscigenado, se diz que é tudo, se valida pela cor e se distancia da África.
A desproporção é ainda maior entre as mulheres pretas. Se em Campos nenhuma candidatura feminina prosperou, em todo o Norte Fluminense, apenas Iza Vicente (Rede), em Macaé, se tornou a única negra eleita. Além disso, nos nove municípios da região, nenhum candidato preto foi o mais votado.
Além de Maicon Cruz e Iza Vicente, os outros sete vereadores que se declararam como pretos foram Mazinho da Banda (PSD), em São Francisco de Itabapoana; Edson Chiquini (PSD), em Macaé; Ticó (PSL), em Conceição de Macabu; Maicon Véio (PSD), em Carapebus; Leone da Conceição (MDB) e Janderson Chagas (DEM), em Quissamã; e Leno Moraes (PSD), em Cardoso Moreira.
São Fidélis e São João da Barra não elegeram nenhum candidato negro, enquanto a Câmara sanjoanense não tenha sequer um vereador que tenha se declarado pardo.
— O debate tem sido festivo. Quando se chega no Dia da Consciência Negra, vemos a exaltação da cultura negra, mas ainda não se discute sobre a política pública voltada à população negra e à inserção na política — concluiu Simone.

Folha 1

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