Os bem-te-vis me lembraram, à luz do meio-dia, que preciso te escrever. Por qual motivo, porém, não me cantaram. Sei que não sei da missa um terço, embora - além de saber rezar o rosário inteiro, segundo aprendi com Maria, e ungir com dendê a batina do padre - eu saiba, sim, o que te aflige.
Nesta semana, fui duas vezes a Guaçuí, cidade que, na opinião do meu querido Márcio Clayton, nativo de lá, é "a capital do Caparaó, do Espírito Santo, do Brasil, da América Latina e, até mesmo, do mundo". Meu bom Daniel Borges, outro bamba daquelas bandas, há de endossá-lo.
Relato, com afeto, o entardecer do primeiro dia em que estive em Guaçuí: apesar de sua friagem, ardeu meu peito de uma nostalgia que, por instantes, levou-me de volta ao subúrbio carioca, talvez em alguma rua de Inhaúma, dessas de casas antigas, sinistras e, portanto, sedutoras.
É uma delícia, coração, testemunhar uma cidadezinha anoitecer ao sabor de um céu de inverno - nublado, mas multicolorido pelas gentes que, antes de regressarem aos seus lares, depois da labuta, decidem parar no buteco mais próximo, na padaria da esquina ou no mercadinho do bairro.
Em não-lugares assim, a vida segue seu curso conforme a cadência da garoa, numa lentidão que se faz cada vez mais urgente.
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Vaga-lume dentro do meu coração
é Luz Divina sobre a escuridão.
Escuridão antecede a alvorada,
e o meu choro, o canto da passarada.
Na passarada, manhã fina a garoar.
Pra meu amor, um café eu vou coar.
Felicidade, serenosa, nos goteja.
Agradicido para sempre, assim seja.
Pra meu amor, além do café quentinho,
eu dou a paz, a poesia e o carinho.
Todos guardei da noite escura.
Só fiz zelar seus versos de cura.
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Vamos saudar as manhãs nubladas,
que nos entregam ventos e versos frescos,
renovando a nossa fé na caminhada
para retomar o que nos torna nós mesmos.
E quem nos torna tais é só o amor,
esta força de vida, que revalida os exaustos,
revida a maldade, revira o amargor
e faz vitorioso quem dele (o amor) é arauto.
FELIPE BEZERRA Jornalista/Jornal Fato
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