O procedimento conhecido por “Hipec” foi realizado pela primeira vez no interior fluminense
A equipe do OncoBeda, que cuida de pacientes com câncer no Hospital Geral Dr.Beda, em Campos, comemora o resultado de uma cirurgia de alta complexidade na instituição. Uma paciente de 35 anos de idade, com neoplasia de apêndice, foi submetida à Cirurgia Citorredutora com Quimioterapia Hipertérmica Intraperitoneal (ou Hipec, pela sigla inglesa). A técnica combate tumores com disseminação peritoneal com uso de quimioterapia em temperaturas elevadas de 41 a 43 graus, no interior da cavidade abdominal. É a primeira cirurgia desse porte realizada no interior do Rio de Janeiro.
De acordo com o cirurgião oncológico, Rodrigo Torres, o procedimento é indicado principalmente para tumores mucinosos de apêndice e mesotelioma peritoneal. O peritônio é uma membrana serosa que recobre as paredes do abdome e a superfície dos órgãos digestivos. “Hoje, já existem estudos mostrando benefícios em fase inicial para outros tipos de tumores como ovário e intestino. A realização deste procedimento necessita de uma estrutura complexa e um corpo clínico bem treinado”, explica.
A quimioterapia hipertérmica para malignidade abdominal foi desenvolvida pelo médico americano Paul Sugarbaker, do Washington Cancer Institute. Para o diretor do OncoBeda, André Porto, este tipo de cirurgia em Campos inaugura uma nova fase para o tratamento oncológico em toda a região. “Eu entendo esse procedimento como quebra de paradigma. A cirurgia desse porte coloca nossa equipe no nível dos grandes hospitais do Brasil. Podermos fazer este tipo de intervenção na cidade com sucesso e responsabilidade é um ganho para todos outros pacientes que precisarem”, diz.
A paciente se recupera bem e precisa de cuidado extremo em terapia intensiva. A complexa cirurgia durou dez horas, mas o procedimento pode chegar a 23 horas. Ela foi diagnosticada com neoplasia de apêndice há um ano. No último dia 7, foi submetida à técnica “Hipec”, no Beda. “Foi feita uma laparoscopia e uma biópsia do peritônio, onde havia bastante doença na região afetada. Teve uma série de sessões de quimioterapia com ótima resposta”, lembra o cirurgião oncológico, Rogério Bicalho.
Segundo a equipe do OncoBeda, de todas as cirurgias do abdome esta é a mais complexa e arriscada. Poucos se aventuram a fazer. Participaram quatro cirurgiões, dois perfusionistas, dois anestesistas, dois instrumentadores, farmacêutica, enfermeira e quatro técnicos de enfermagem.
“Na Medicina, o nosso objetivo é acabar com a maior quantidade de tumores vistos a olho nu. Neste procedimento (Hipec), a utilização de um quimioterápico em contato com o intestino e toda a cavidade abdominal em temperatura elevada, consegue-se matar alguma célula cancerosa que não se identifica apenas com os olhos. Estes tumores não são de disseminação sanguinea, mas pelo peritônio”, comenta Rodrigo Torres.
Apesar da perda do peritônio, o paciente consegue ter uma vida normal com cuidados para evitar obstruções ou aderências. Para Rogerio Bicalho, o sucesso da cirurgia se deve à capacidade da equipe, mas também da estrutura hospitalar. “Esta cirurgia só dá fazer em hospitais de grande porte. O Hospital Geral Dr. Beda nos ofereceu todas as condições necessárias para sua realização”, conclui.
Jornal Terceira Via