Nas festividades de fim de ano, apesar da alegria compartilhada por muitos que promovem encontros de família e amigos, é comum também nos depararmos com sentimentos de desesperança ou com parentes e colegas que, neste período, sofrem ainda mais com sintomas de tristeza profunda.
Para explicar o assunto, o Folha Vitória conversou com o psicólogo Leonardo Del Pupo Luz, pós- graduado em Avaliação Psicológica e mestre em Psicologia.
Segundo o especialista, em primeiro lugar, apesar de a palavra “depressão” ter se popularizado, sendo atrelada à tristeza e a sentimentos de vazio, nem todo sofrimento mental se enquadra no caso.
“A depressão é subdiagnosticada e subtratada, ainda mais porque sintomas depressivos podem comparecer em outras doenças crônicas, desde o burn out até uma fadiga comum no dia dia das pessoas, sem necessariamente estarem ligados à doença na forma clássica. De qualquer forma, é claro que uma tristeza severa ou mesmo uma depressão pode se intensificar de forma sazonal, em determinadas épocas do ano”, destacou Luz.
E por quê isso ocorre? O psicólogo esclareceu que, na prática clínica, percebe uma procura maior por terapia durante as trocas de ano: novembro a janeiro.
“Tenho algumas hipóteses do porquê nas festas de fim de ano a tristeza elevada se manifesta com maior transparência. Nós entendemos o tempo dentro de uma escala temporal pré-definida. Enquadramos o tempo dentro de anos, meses, dias, horas, minutos e segundos. E isso traz uma ideia de finitude, de uma contagem para o fim”, disse.
Quem nunca ouviu falar da expressão “homem de meia idade”; pré-adolescência e terceira idade? “O que define estas expressões e conceitos é o tempo e a respectiva contagem deste tempo frente à finitude: a morte. Junto com esta ideia, vem uma análise das realizações e metas atingidas. É então muito comum a pergunta: o que eu fiz da minha vida até agora? Qual o meu propósito?”, acrescentou.
Para ele, as passagens de ano são momentos em que há um certo cruzamento de percepção de tempo e finitude e os sintomas da depressão, como a diminuição de interesse ou prazer em praticamente todas as atividades na maior parte do dia; sentimentos de inutilidade ou culpa por eventos que não foram produzidos pela pessoa; pensamentos recorrentes de morte e ideação suicida.
“A hipótese que advogo é que este momento temporal que inventamos, a passagem de ano, é um campo fértil para a tristeza severa ou a depressão propriamente dita, na medida em que os questionamentos quanto aos sentidos que a vida e o tempo que ainda nos resta são ampliados”, afirmou.
Segundo o mestre, a prevenção é a única estratégia para suportar este período, muito embora, infelizmente, em que pese o tema saúde mental estar em voga, há mais um certo modismo do que uma preocupação com ela.
“A prevenção, feita por meio do cuidado em saúde mental, é o que pode nos garantir uma suportabilidade psicológica para enfrentar esta passagem de ano. Contudo, sabemos que há momentos em que ajuda é necessária. Assim, é importante manter contato com os profissionais de confiança, psicólogas e psiquiatras, bem como ter em mãos o contato de serviços especializados de clínicas de sua região”, completou.
No final do ano, há um risco maior, em especial, porque grande parte dos profissionais de saúde mental, clínicas especialidades e os órgãos públicos voltados à saúde mental estão fechados para festas.
“Portanto, um atendimento focal e especializado pode se tornar mais difícil. Pelo exposto, fica evidente que cuidar durante todo ano de sua saúde mental é a melhor maneira de se blindar contra este crítico momento”, finalizou.
Veja o que não dizer a pessoas que sofrem com depressão
Falar de doenças e transtornos mentais envolve também tratar de rede de apoio. É de fundamental importância, neste tema, instruir amigos e familiares para que eles consigam dar suporte, em especial a quem sofre com depressão, da melhor forma possível.
O tema é de fundamental, já que dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que um brasileiro a cada 45 minutos tira a própria vida. E para evitar o pior, saber o que não dizer a quem sofre com a doença é essencial, tanto quanto ter noção do que falar para incentivar a continuidade do desejo de viver.
Para a psiquiatra paranaense Gisele Teixeira Bellinello, o ideal é estar ao lado da pessoa, procurar um local calmo e com privacidade para conversar e dizer que ela não está sozinha.
Também é necessário saber o que não falar, além de ser importante não julgar o que esta pessoa diz ou dar conselhos tentando resolver o sofrimento dela. É sempre necessário o incentivo ao tratamento.
Veja quais frases não usar, segundo a especialista:
“É falta de fé ou de Deus”;
“Você tem uma vida perfeita, porque você está assim?”;
"Pare de reclamar, tem tanta gente que queria estar no seu lugar, você está fazendo isso só para chamar atenção';
"Você só está estressado, toma uma cerveja que melhora";
"Tira umas férias que resolve";
"Só depende de você, é só ter força de vontade";
"Isso é fraqueza"; "psiquiatra é médico de louco";
"Antidepressivos fazem mal e viciam";
"Você precisa sair mais de casa";
"Você precisa esquecer isso, pense positivo".
Redação Folha Vitória