O município de Mimoso do Sul passou pela pior enchente em seus 135 anos de história, com as chuvas que assolaram a cidade e seus distritos nos últimos dias 23 e 24. O governador do Estado, Renato Casagrande, visitou Mimoso, na manhã da quarta-feira (25), e anunciou medidas emergenciais, como o envio de materiais de limpeza e higiene e maquinários.
Na manhã desta sexta-feira (27), quase três dias depois da tragédia, o cenário ainda era de guerra, com ruas cobertas de lamas, barrancos desmoronados, árvores caídas e muita gente trabalhando para reerguer a cidade. De acordo com a Defesa Civil, o município conta com 631 desalojados e 13 desabrigados.
O coordenador da Defesa Civil, Leonardo Ferreira da Silva, que também é socorrista resgatista, disse que juntando os três córregos e o rio que cortam Mimoso do Sul, pode-se dizer que a água chegou em uma média de seis metros acima do normal. O que faz com que esta seja considerada a pior enchente já sofrida pelo município, com a água ficando quase 18 horas sem sair das ruas, até voltar para o leito do rio.
"Em 2005 a gente teve uma de proporção equivalente a esta, porém tinha uma obstrução na última ponte do município, proporcionando aproximadamente 15 metros de vasão a mais. Ainda assim a enchente deste ano atingiu chegou no mesmo nível de 2005, então quer dizer, que se não tem esta vazão, a deste ano chegaria a cerca de 1,30m acima da outra. Então a gente considera esta, pela lógica, a maior que teve. Em volume de água e proporção", explica Leonardo.
Todo o município foi severamente atingido. Cerca de 15 bairros da área urbana, incluindo o Centro, e 14 comunidades rurais foram as mais afetadas pelas fortes chuvas. Ainda segundo o relatório, três unidades de saúde e o almoxarifado da Secretaria de Saúde de Mimoso do Sul foram danificados. Além disso, o sistema de abastecimento de água da sede do município e o equipamento de telecomunicações foram comprometidos.
Cenas de terror
Muitas famílias perderam seus lares e pertences, mas nenhuma situação de gravidade ou risco de vida foi registrada em Mimoso do Sul. Porém, para os que viveram aqueles dias, as cenas de terror ficarão por muito tempo em suas memórias.
A dona de casa Patrícia Schwan relata que foram muitos prejuízos registrados. Seu filho estava com um carro estacionado na garagem, mas que foi praticamente coberto pelas águas, e estão aguardando para saber se aconteceu ou não a perda total do automóvel.
Ela conta que com as águas de segunda assustaram demais, e com a chuva de terça, tudo virou uma calamidade, com as ruas intransitáveis e o sentimento de impotência, por não poder fazer nada diante da trágica situação.
"Meu filho reside na cidade e eu vim aqui para dar um apoio. Só consegui chegar aqui na casa dele ontem, e ainda sim com lama na rua até a altura do joelho. O emocional fica muito abalado, mais na fé vamos vencer! O empenho do prefeito e seus colaboradores tem nos trazido um consolo muito grande e se Deus quiser em breve tudo normalizará", afirma.
Limpeza e ajuda para a população
O prefeito de Mimoso do Sul, Peter Costa, não para um minuto em prol da cidade. Um vídeo que circulou nas redes sociais, mostrava Peter em um bote, se colocando em risco e remando em uma rua para fazer ajudar a população.
Nesta manhã, ele disponibilizou 30 varredores de rua a mais auxiliando na limpeza e também com a retirada de entulhos e eletrodomésticos. Além de vários caminhões espalhado pelo município, recebendo maquinários de cidades vizinhas como Muqui, Cachoeiro e outros para o recolhimento de entulhos e retiradas dos barros.
"Pedimos novamente a paciência de todos! Sabemos que em breve teremos também muita poeira nas ruas, mas precisamos agir como estamos agindo desde o início: nos pontos mais emergenciais", explicou Peter.
Além dos trabalhos de limpeza e vistoria, a Defesa Civil em parceria com a Assistência Social está nas ruas para realizar o cadastro das famílias atingidas para receber os donativos, ajuda humanitária, alimentação e preparação para cadastro do cartão reconstrução.
Saúde presta assistência
A Secretaria da Saúde (Sesa), por meio da Superintendência Regional Sul de Saúde, esteve na cidade para realizar uma série de atividades. A força-tarefa foi conduzida pela equipe regional do Programa Vigidesastres, da Sesa, com profissionais do Núcleo Especial de Vigilância Ambiental (Neva) e do Centro de Informações Estratégicas e Respostas em Vigilância em Saúde (CIEVS).
O grupo de trabalho vistoriou unidades de saúde atingidas pelo alagamento, deu orientações aos moradores quanto aos riscos do contato com as águas da enchente e sobre os perigos do consumo de alimentos atingidos pela inundação.
Também mobilizou agentes comunitários de saúde (ACS) e de endemias (ACE) para o levantamento e busca ativa de pessoas que tiveram contato com lama e água possivelmente contaminadas, visando à aplicação de vacinas e à verificação de prováveis sintomas de doenças por veiculação hídrica.
A Secretaria da Saúde vai disponibilizar para Mimoso do Sul insumos, hipoclorito de sódio 2,5% e materiais educativos. Além de emprestar ao município, por tempo determinado, uma câmara fria de conservação de vacinas (500 litros), para garantir a continuidade dos serviços de imunização na cidade.
Jornal Fato/por Guilherme Gomes