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Sylvia Helena Vicente Rabello. Enfermeira, Psicanalista Especialista em Mulheres. |
Ser mãe vai além das transformações físicas e romantizadas. Envolve determinado comportamento social e que se ajusta a um contexto sócio histórico. Muitas vezes se faz necessário enfrentar desafios como a deficiência de rede de apoio, sobrecarga mental, dificuldade de conciliar maternidade e jornada de trabalho, dentre outros pontos. Os pais anseiam pela criança perfeita e saudável porque encontram no filho a possibilidade de concretizar seus sonhos e ideais; e quando o filho possui alguma limitação significativa, suas expectativas se fragilizam, já que a criança perfeita que lhes proporcionaria alegrias não nasceu. Existe uma distância entre o filho fantasiado e o filho real.Chamamos de MÂES ATÌPICAS as mulheres, mães cujos filhos têm um desenvolvimento que foge do esperado, do típico, do padrão de normalidade, como nos casos das deficiências físicas ou mentais. O normal aqui cabe apenas para exemplificar, pois não figura como uma realidade — cada desenvolvimento é singular. As crianças atípicas são aquelas que apresentam diferenças significativas em seu desenvolvimento neurológico, cognitivo e comportamental em relação à maioria das crianças da mesma idade como as que ocorrem em crianças com TEA, TDAH, Síndrome de Tourette, Dislexia, Depressão, entre outros.
As MÃES ATÍPICAS tem que lidar com preconceito ou obstáculos à devida inclusão, tais como o “capacitismo”, a falta de acessibilidade arquitetônica, atitudinal, a exclusão no meio social, isolamento social, a recusa velada de matrícula nas escolas. Apesar dos avanços nas políticas de inclusão das pessoas com deficiência, muitas vezes essas mães enfrentam desafios e traumas que afetam sua saúde mental. Se veem esvaídos de energia: precisam de amparo, apoio e carinho Mães! – a quem se cobra tanto o papel de cuidadoras – também precisam ser cuidadas. E, quando falamos das mães de crianças atípicas, o cuidado é ainda mais urgente.
O Projeto INTERAÇÂO desenvolvido pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Habitação de Bom Jesus do Itabapoana/RJ surge a partir da necessidade de suprir uma lacuna existente no suporte oferecido às mães de pessoas com deficiência denominada MÃES ATÍPICAS. Recebemos um número significativo (quase a totalidade) de mães de crianças portadoras do transtorno do espectro autista (TEA). Trata-se de um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades. Sob a mediação da Pedagoga Miriele Eufrásio da Fonseca e utilizando-se de minhas habilidades enquanto Enfermeira em Saúde Mental e Psicanalista, realizamos encontros mensais onde oportunizamos espaços de acolhimento e discussões sobre assuntos que envolvem a realidade vivenciadas por estas mulheres. Sim, pois a maternidade é uma das funções destas mulheres, que possuem muitas outras necessidades como ser amada, ter uma carreira, sonhos e desejos como qualquer outra pessoa e muitas vezes são reduzidas e limitadas pela maternidade atípica. Nestes encontros além de discussões de temas diversos há muita diversão e descontração. São oferecidos cuidados com o corpo através de massagens relaxantes, maquiagem, cabelo e serviços de manicure. Atividades físicas como aeróbica e danças sendo a Zumba a campeã de preferência. Enquanto as mulheres participam das atividades seus filhos são cuidados por profissionais especializados e dedicados permitindo assim que as mães atípicas, mulheres como muitas de nós, possam aproveitar cada cuidado e carinho oferecidos.
Nestes poucos momentos se divertem, danças e brincam celebrando o momento, em que podem olhar para si mesmas e abraçar outras com histórias que se interligam com as suas em vários pontos em comum. Precisamos cuidar de quem cuida também.
Sylvia Helena Vicente Rabello. Enfermeira, Psicanalista Especialista em Mulheres.
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Redação News BJI