As notas de dinheiro que boiam misteriosamente, desde domingo, no mar da Urca, na Zona Sul do Rio, não param de atrair curiosos, mergulhadores amadores e até profissionais em busca do tesouro. A fonte não secou, garante o pescador submarino Fernando Nunes, que iniciara a caça às cédulas quatro horas antes, às 8h.
— Não posso contar quanto peguei, mas foi bom. A maioria das notas está inteira. Amanhã, se a água clarear, eu volto — prometeu Nunes, convocado por um amigo, Ricardo Oliveira, que diz ter lucrado R$ 10 mil nas mesmas águas na segunda-feira.
O milagre da multiplicação das notas movimenta o bairro. Atendentes do Bar da Urca já orientam curiosos com ares de quem entende do assunto — “Achavam que a fonte era o flutuante Argonauta, mas as notas estão aparecendo na ponte do Quadrado”, diz um funcionário —, apontando para o local. "Se fosse aqui, a gente estaria na água".
As experiências de quem encontra as notas, e as exibe orgulhosamente para provar a façanha, começam a se misturar com histórias de pescador.
— Ainda agora passou um maluco com a mochila cheia de notas — conta um.
— O dinheiro já boia aí há muito tempo, mas só agora começou a ganhar fama — diz outro.
Na dúvida sobre a veracidade do aparecimento das notas, o instrutor de stand up Felipe Morais decidiu observar. Em meia hora, contou quatro sortudos com o dinheiro na mão.
— Estava na dúvida se mergulhava na água, porque está muito suja. Mas agora decidi ir buscar o material para ver se acho alguma coisa — relatou.
O pescador Dico observou que as notas encontradas são do modelo antigo. Até o momento, não presenciou inspeções de autoridades na caça ao tesouro. À procura desde domingo, não conseguiu trocar o dinheiro no banco. Mesma dificuldade de Roberto, que recolheu R$ 350. Mesmo com o número de identificação visível, ele conta, não aceitaram trocar por conta dos remendos que fez para evitar que as cédulas se partissem.
— O comentário que é surgiu garoupa por aqui. Eu vim ver se achava a minha. Mas só achei uma oncinha — brincou Dico, sobre os animais que ilustrem as notas de R$ 100 e R$ 50.
Roberto chegou a jogar metades de notas de volta nas águas. "É só colar!" gritavam curiosos. Um deles, o garimpeiro José Carlos, tirou a blusa e caminhou pelas pedras para alcançar os pedaços.
De malote a Lava-Jato
O aparecimento do dinheiro virou terreno fértil para as histórias de pescador. Alguns estão em busca de um “malote” com verdadeiro tesouro no fundo do mar. Outros brincam dizendo que é propina da Operação Lava Jato. E todos se divertem, tomando muitas cervejas, enquanto procuram pelo tesouro trazido pelas águas. Em barcos de pesca, botes e equipamentos de mergulho, todos partem em busca das notas.
Na segunda-feira, um pescador garantiu ter conseguido R$ 1.900 no mar.
— Ontem, consegui pegar R$ 1,5 mil, e hoje já são R$ 400. Fui no banco e as notas são verdadeiras. Algumas estavam presas com elástico e com marcas de grampo. Tem gente achando que foram roubadas e o ladrão não conseguiu fugir e jogou no mar — contou, o pescador Magno Felipe Pereira, de 23 anos, que ouvia gritinhos de alegria dos amigos na orla a cada nota encontrada no mar.
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