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sábado, 18 de agosto de 2018

PEZÃO PEGA CARONA NA MAIOR CONFUSÃO DO SUL FLUMINENSE NOS ÚLTIMOS TEMPOS



“Turbinado no pé, reduzido no mé, carona só pra muié”. Se tivesse seguido à risca o ensinamento da frase de para-choque de caminhão, Greidomar não teria se metido numa enrascada e levado, de quebra, os amigos Nélson e Anderson. Desde que parou seu carro, no sábado passado, para dar carona ao governador, a vida dos três virou uma inferno. Sim, Luiz Fernando Pezão estava numa estrada de Piraí pedindo um bonde para comer um torresmo no centro de sua cidade. O que você faria no lugar de Greidomar, Nelson e Anderson? Pois é, eles não só rebocaram sua excelência até o bar, como não perderam a chance de eternizar o momento num vídeo que, claro, foi parar nas redes sociais. Qual a graça de dar carona a Pezão se não puder contar para todo mundo?

— O Nélson viu o Pezão caminhando e brincou com ele, chamou de botafoguense. Aí, ele pediu carona, queria ir para o bar Rei do Torresmo e até nos chamou pra ir lá também — conta Greidomar, que dirigia o Vectra.
Os três, que recusaram o convite porque iam para um compromisso num sítio de uma cidade vizinha de Piraí, não tiveram nem o gostinho do torresmo ou de estender dois dedinhos de prosa com o governador. Foi só mesmo um tira-gosto de cerca de um quilômetro. Depois disso, uma semana de desgosto. Assim que as imagens caíram na rede, elas foram capturadas pela máfia do fake news. Greidomar, que é motorista, Nélson, caldeireiro, e Anderson, açougueiro e músico, viraram milicianos, e Pezão, um governador sob suspeita de ligação com um grupo paramilitar. Como o mundo é injusto, a fofoca se disseminou rapidamente até mesmo em Piraí porque os amigos, que são de Pinheiral, não são conhecidos por lá. O jeito foi ir ontem até a delegacia da região para estancar o bafafá mais ruidoso dos últimos tempos do Sul Fluminense. Na versão falsificada do vídeo, foi colocada uma legenda dizendo, vejam só, que as imagens incriminadoras tinham sido achadas no celular de milicianos presos durante uma operação policial.
O lado bom da trapalhada foi que os benfeitores hoje acham Pezão um cara bacana. Anderson, que nem tinha votado nele, não vai distribuir santinhos para eleger o governador, que nem vai se candidatar, mas, se Pezão não tem lugar na urna desta vez, no coração do músico passou a ter banco de carona cativo. Na gravação, Nélson, o caldeireiro, também dá sinais inequívocos de que tinha se rendido, chamando um Pezão risonho várias vezes de “cara humilde”. “Esse é o nosso governador!”, repetia.
— Não teve meu voto, mas achei o Pezão gente boa — decreta Anderson, que sentou-se ao lado do passageiro célebre, e acabou virando celebridade sem querer.
O músico nem precisou contar para todo mundo a história, aparentemente inverossímil, de que tinha dado carona ao governador. Quando assistia ao jogo do Flamengo, na quarta-feira, no auge da futrica virtual, começou a receber ligações de tudo que é lado. Em Pinheiral, sua terra, a notícia falsa não passaria de uma piada, mas ele temia pelo que poderia acontecer, longe de sua cidade, com tamanha exposição. Pelo sim, pelo não, achou melhor nem botar o pé para fora de casa.
— Todos nós somos trabalhadores e bem conhecidos aqui em Pinheiral. Mas, e quem não nos conhece? Alguém que não me conhece e que viu o vídeo pode me confundir com miliciano. Isso abalou minha imagem — decreta, ainda sob o impacto da lorota.
Greidomar, que trabalha na área de petróleo, teve que contar tim-tim por tim-tim os detalhes da carona até para o patrão. Aquela história que parece mentira, mas é verdade, enquanto a mentira, por ironia, chegou a passar por verdade.
— Nem sei o que falar para demonstrar a minha indignação com quem fez isso na internet. A gente não faz nada de errado. Tô tendo que explicar tudo, toda hora — reclama.
Gravação com autorização
Greidomar e Anderson fazem questão de deixar bem claro que foi Pezão quem pediu a carona. E também que a gravação teve o consentimento do governador. Tudo dentro dos conformes, sem dolo da parte de ninguém.
Em Piraí, onde o caso repercutiu, todos queriam saber quem eram os três que conversavam alegremente com o morador mais ilustre da cidade. Como o trio bem sabe, os vizinhos não os conhecem. Por fim, coube à reportagem do GLOBO checar se Pezão, de fato, havia pedido a carona para comer toucinho. Para isso, procuramos o Geraldo Teixeira, de 72 anos, dono do Rei do Torresmo. Ele confirmou que Pezão passou por lá:
— Quando ele não está trabalhando, está sempre aqui.
Da próxima vez, com todo respeito, Pezão periga ficar a pé.

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