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sexta-feira, 19 de julho de 2019

HISTÓRIA DA NOSSA TERRA: A USINA E OS CAUSOS



Como em toda comunidade interiorana, na Usina os causos também eram contados com exaustão. A garotada sentada perto dos mais velhos com um misto de medo e encantamento escutava tudo com muita atenção. Na usina contava-se que tinha os chamados “pontos” críticos onde determinada hora da noite, diziam: “É perigoso passar por ali”, às vezes nem acompanhado.
Nesses “pontos” apareciam as assombrações, citavam: O mata-burro (pontilhões feitos de paus para dificultar a travessia de animais), no porto do areal, na curva da casa do Sr. Amaro Dias, Muitos inclusive juravam que sentiam um forte cheiro de bode, outros diziam que até tinham visto o bode, perto da serraria, no pé de manga atrás da avenida, perto da casa do Sr. Deco Balanceiro, atrás do campo de futebol, nas árvores chamadas ciribas, comentavam inclusive que em frente a casa do Sr, Horácio Viana`por volta das 23 horas era comum aparecer um lençol branco entre os galhos da ciriba.
Muitas vezes a molecada ficava até mais tarde assistindo televisão na casa do Mamau, José Luiz Coelho (na do Sr. Toninho Machado, só aos sábados e domingos), para voltar era uma “barra”, muitas vezes na casa do Jair Concha, televisão era raridade na comunidade, apesar de todo medo, os seriados da TV como Bonanza, O Homem de Virgínia e as novela de Dona Glória Magadan. A vontade era maior do que o medo, mas não deixávamos de assistir as televisões que essas pessoas gentilmente abriam as suas portas.
Outros relatos davam conta que era comum durante a noite, principalmente na quaresma, galinhas acompanhadas de porquinhos e porcos acompanhados de pintinhos , outros já tinham encontrado com o lobisomem ou com a mula sem cabeça. A verdade que também na quaresma era uma “barra”.
Um outro tipo de causo que ouvíamos com bastante atenção era os contados pelo Sr Amaro Dias, bastante sério, até porque todos gostavam de ouvir os seus relatos, como por exemplo a do homem procurado pela polícia, tinha feito uma bobagem qualquer, acuado correu, cortou um talo de mamona e atirou-se no rio, ficou durante horas,até os “homens” irem embora, respirando através do talo e as pessoas só viam a água burburando.
Outra dele era a porca que comumente sumia e só aparecia no final da tarde. Curioso um dia pediu uma folga ao patrão e ficou na espreita observando o animal. Aí viu que devido a uma plantação de aipim a porca com suas crias atravessava o rio dentro dessas raízes e ia para a ilha perto da sua residência, dava para acreditar? Além disso tinha as proezas do Sr. Altivão que ao jogar uma partida de futebol (só jogava descalço), ao dar um chute na bola ela ficou três dias no céu. Os times esperando-a cair e quando caiu, quicou e atravessou a linha de gol e marcou o “tento” que dava a vitória para o seu time. Dava também para acreditar?
Das muitas que acontecia na Usina uma que marcou e ficou durante muito tempo sendo comentado na barbearia do “gentil” Sr. Antenor Monteiro ( todos se deliciavam com as suas rabugices), foi quando o Adilsinho e o Suruba perderam o ônibus das 22 horas, o último de Bom Jesus para carabuçu, via santa isabel. Sem dinheiro ficaram pensando o que fazer, eis que aparece o Sr. Mário Baia no seu “possante” fordeco , por volta de meia noite, fizeram o sinal e pediram carona. Ao entrar no carro perceberam que o Sr. Mário, estava um pouquinho “alto”, tinha bebido além da conta, pois o carro fazia um zigue-zague constante, ao aproximarem do Odilon Diniz, após a curva para passar pela ponte, a uma manobra brusca, o Adilsinho vira para o Suruba e cochicha: Acho que seu Mário tá tonto”, falou o mais baixo possível, mas o suficiente para ser escutado e o carro é freado e ele pergunta: “Quem foi que disse que estou tonto?” Suruba mais que depressa:” Foi Dilsim seu Mário” e o Adilson: “ Foi Suruba seu Mário” e durante alguns minutos ficou um acusando o outro, de paciência além do seu limite o Sr. Mário Baia vira e fala: “ Já que não aparece quem disse que estou tonto, desça os dois”. Desceram e foram discutindo a pé até chegarem a Usina de madrugada.
Extraído do Livro: Usina santa Isabel, Jamais Esquecida

Blog do Jailton da Penha JDP/Foto: Arquivo

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