Atafona não é mais a foz do rio Paraíba do sul, pelo menos por hora, mas, segundo as prospecções do ambientalista Aristides Soffiati, se medidas para reverter a situação não forem tomadas com urgência, a tendência é de que o local vire uma espécie de lagoa, como ocorreu em Barra do Furado e nas lagoas do Açu, Iquipari e Grussaí. O agravante é o fato dos exemplos citados não se tratarem de um rio principal e perene. Soffiati diz que, caso não se reverta, o caso será comparado ao do rio Colorado, nos Estados Unidos, que, após muitas intervenções teve a foz fechada se transformando em “uma imensa lagoa”. O avanço das areias foram mostrado em matéria publicada em agosto deste ano, quando a passagem de pescadores foi bloqueada e a solução foi a abertura de um canal. Com o fechamento, os pescadores terão acesso ao mar por São Francisco de Itabapoana, o que pode trazer reflexos para a economia local. Outra consequência do avanço da erosão em Atafona é a interdição, por tempo indeterminado, da rua Elias Gabriel Beirute, no cruzamento com a avenida Atlântica.
Sofiatti explica que já existe uma tendência natural de fechamento de barras na região, no entanto o que ocorre com o Paraíba não é natural.
— Barra do Furado, foi aberta artificialmente, há quatro séculos e ficava aberta, enquanto tinha água suficiente para vazar para o mar. Quando esse nível baixava, o mar fechava a barra. A lagoa do Açu era um rio e em Grussaí, a barra fecha também. O fechamento da foz do Paraíba, no entanto, não é um processo natural porque, por mais que o rio oferecesse problemas para saída e entrada, a foz sempre esteve aberta. Era rasa, mas a água do rio fluía. Quando digo que existe uma tendência natural, estou falando de cursos pequenos —
O ambientalista explica que se sempre houve dificuldades das embarcações entrarem ou saírem do mar para o rio, a situação foi agravada ao logo do tempo por diversos fatores que têm a ação humana como protagonista. “Antigamente, reclamavam que para entrar no Paraíba era preciso esperar a maré encher, ter ventos favoráveis. Essa dificuldade foi agravada porque desmataram e com isso temos erosão, acúmulo de areia no fundo do rio. Temos também barragens para geração de energia elétrica, o que não permite que a água chegue no volume anterior e finalmente, a transposição do rio Guandu, feita para abastecer. Com esses fatores, além da falta de chuva, o rio perdeu força”, explica.
As chuvas poderiam ser um fator amenizador para o fechamento da foz, mas segundo o pesquisador, serão necessários grandes esforços para reverter o quadro.
— A reabertura vai precisar de volume de água, vazão. Isso se consegue primeiro reflorestando, um trabalho muito lento, assim como foi lento o trabalho até chegar a essa situação. Não digo reflorestar 100%, mas pelo menos as margens. Não cabe mais nenhuma barragem no Paraíba e se possível deviam tirar algumas e recriar algumas lagoas aqui na região. Algumas são cruciais para equilibrar a questão de fornecimento de água, de impedir que a língua salina penetre — pontua e ressalta que estamos entrando em estação de chuva.
— Esperamos que ano que vem chova mais que em 2019 para recuperar um pouco, mas recuperar de vez, não se recupera mais, mas pelo menos a foz continua aberta e os barcos conseguirem entrar e sair.
Ação do homem como agravante - Embora o Norte e Noroeste contabilizem a maior incidência de desmatamento no Estado, reflorestar somente a região não resolveria o grande problema de assoreamento dos rios. Soffiati aponta que as queimadas na Amazônia têm influência direta com o que está ocorrendo. “A água do Sudeste depende da evaporação da floresta Amazônica. É ali que nascem as nuvens que vão virar chuva no Sudeste, Sul e até Argentina. São os chamados rios voadores, são rios que vêm pelas nuvens, se condensam e chovem aqui na região, explicou lembrando como exemplo prático, a chuva de cinzas em São Paulo durante o ápice da queimada na Amazônia.
O ambientalista pontua os quatro fatores que interferem diretamente no problema da foz. “Primeiro, as interferências feitas na Bacia do Paraíba, e foram muitas. Segundo, as interferências na Amazônia e terceiro as interferências no mundo inteiro e aí, aponto o aquecimento global como fator principal, porque aumenta o nível dos oceanos. Enquanto a água doce escasseia, o mar sobe de forma violenta e fecha barra de rio e produz dunas. A transposição também desvia muita água. A briga sobre isso é grande, mas tem que ser resolvido. Fica todo mundo em pânico, todo mundo reclama, mas isso não é canalizado para uma solução”, alerta o ambientalista.
Rua continua interditada na orla - Segue interditada a rua Elias Gabriel Beirute, no cruzamento com a avenida Atlântica, em Atafona, bloqueada pela Defesa Civil, há nove dias, devido à erosão costeira. Por conta do avanço do mar, parte do asfalto desmoronou. Um imóvel, na mesma rua, que era usado como comércio e moradia, também foi interditado por risco de desmoronamento. O coordenador de Defesa Civil, Wellington Barreto, alerta para que a população não se aproxime da área que, segundo ele, se encontra em alto nível de erosão. Até o momento, não há famílias desabrigadas e desalojadas.
A área foi isolada com manilhas e guarda corpos para impedir a passagem de carros.
— Se o trafego é liberado naquelas vias, o asfalto vai desmoronar mais rápido devido a trepidação dos carros. Estamos informando a população por meio dos veículos de comunicação para que não se aproximem. Por enquanto, o órgão não recebeu nenhum tipo de ajuda e segue monitorando o trecho que corresponde desde a foz do Pontal até o Açu — disse e acrescentou que, atualmente, a maré está estacionada e a situação em Atafona está normal.
Quanto ao imóvel interditado, ele informou que o proprietário se comprometeu a recuar o bar 300 metros para o início de sua propriedade por entender que o ponto está sendo erodido.
A operação ocorreu no dia 16 de outubro e teve participação do setor de Postura e da Guarda Civil Municipal, que vem orientando o trânsito no local.
Folha 1
Nenhum comentário:
Postar um comentário