“O lockdown em Campos tinha que ser decretado agora.” A afirmação foi feita pelo médico Geraldo Venâncio, secretário de Saúde anunciado pelo prefeito eleito, Wladimir Garotinho (PSD). Para ele, é necessária a aplicação da medida porque as vagas para pacientes com Covid-19 estão ficando escassas. Na quinta-feira (17), a ocupação dos leitos clínicos e de UTI, das redes pública e contratualizada de Campos, era de 61% e 74%, respectivamente. O município registra 517 mortes e 12.622 pacientes infectados. Destes, 10.866 estão recuperados. Apesar dos dados alarmantes, o início da vacinação ainda é incerto. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, aponta fevereiro como prazo, mas não houve definição de data.
Em entrevista ao blog Opiniões, Geraldo Venâncio afirmou que, somente na quinta, 14 pacientes infectados aguardavam vagas em leitos tanto da rede pública quanto da privada. “Eu penso que o prefeito Rafael Diniz (Cidadania) deveria ter a determinação de implementar essa medida radical agora. Porque nós estamos em Campos com uma situação que nós não tivemos em abril, maio, junho: pessoas sentadas em poltronas, com falta de ar, esperando vaga. Está se tentando, inclusive para se atender a demanda judicial, a abertura de mais 20 ou 30 leitos. Já foram feitos contratos para o município receber monitores ou respiradores e já tem dois, talvez três hospitais, que possam disponibilizar esses 30 leitos. Até fevereiro, nós vamos ter tempos duros e difíceis, como o Rodrigo Carneiro mencionou”, afirmou o médico, em alusão à entrevista do infectologista ao Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3, em que ele comentou que janeiro será o pior mês da pandemia em Campos e no país.
O alerta do infectologista no Folha no Ar não contou só com o endosso do secretário de Saúde que assume em 1º de janeiro. Outros médicos também são da mesma opinião:
— Concordo com Rodrigo que, em duas semanas, não haverá mudanças no comportamento e conduta das pessoas, não só em Campos, mas em todo país. As taxas estão em crescente, e a tendência é de crescimento, sim, principalmente considerando as perspectivas de aglomerações de fim do ano. Sinto falta, neste momento, de maiores ações da gestão pública tanto nas ações de restrições, como campanhas de prevenção. Sendo assim, cabe a nós, profissionais de saúde e da imprensa, tentar uma maior conscientização da população — convocou Nélio Artiles, também infectologista.
— Estamos dentro de um ônibus correndo contra uma parede de concreto. E o nosso último motorista simplesmente pulou. Estamos exaustos, estou sendo bem sincero. A situação da saúde do município, pública ou privada, está no limite. O nível de esgotamento está elevadíssimo. A população não coopera, mas cobra tudo de todos os profissionais de saúde de uma forma desmedida. As instituições realmente estão no limite. Tenho conversando com outros diretores e estão sendo unânimes: não sei por quanto tempo vamos aguentar tudo isso. Irresponsabilidade de governantes, preços abusivos de medicação, insensibilidade da população. Até quando? — questionou Cléber Glória, diretor-clínico da Santa Casa de Misericórdia de Campos.
— A previsão é realmente de termos um aumento expressivo no número de casos de Covid no início do ano, por contas das festas de Natal e Réveillon. Nas reuniões familiares, se tiver um, será todo mundo contaminado. Então, a previsão é de uma explosão de casos em janeiro no país inteiro, e aqui não vai ser diferente. A única saída é a vacina. Eu só acho que deveria ter uma comunicação mais forte, incisiva, em relação à conscientização da população. É simples, são três coisas: ter o distanciamento social, usar as máscaras e higienizar as mãos. E, mesmo depois que começar a vacinação, vamos ter que continuar durante um bom período com o distanciamento. Isso é inevitável — decretou Paulo Hirano, subsecretário de Saúde do governo eleito.
Contraditório — Infectologista e chefe em Vigilância em Saúde do governo Rafael, Andreya Moreira respondeu ao colega Rodrigo Carneiro, que cobrou a adoção imediata do lockdown em Campos: “Ninguém lavou as mãos. Temos um trabalho muito sério. Todos os epidemiologistas e infectologistas estão tendo a mesma visão em relação às festas do fim de ano. O cenário é drástico. Medidas restritivas estão sendo feitas, ampliação do comércio para evitar aglomeração é importante nesta época do ano. E sabemos que medidas extremas de fechamento geram graves consequências. Precisamos da conscientização da população, que está sendo bem difícil, com ou sem lockdown”.
Região — Debates e decisões sobre lockdown têm ocorrido em municípios do estado. Em Búzios, o decreto de fechamento total, na quinta, gerou protestos. Trabalhadores fecharam a área central em reação à determinação da Justiça para que a cidade voltasse para a Bandeira Vermelha – Risco 3 de combate à pandemia de Covid-19. Nessa sexta-feira, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, desembargador Cláudio Mello, revogou a decisão após recurso da Prefeitura.
Também nessa sexta-feira, a Prefeitura de Rio das Ostras decretou lockdown, com fechamento de praias e proibição de festas.
Municípios em busca da vacina
Na contramão das cidades que aguardam decisão do Ministério da Saúde, Macaé, Quissamã, Carapebus, São João da Barra, Niterói, Maricá e Saquarema entraram em negociação com o Instituto Butantan, em São Paulo, para garantir a CoronaVac. Situados no Norte Fluminense, Quissamã e Macaé apontam janeiro como o prazo para a chegada dos imunizantes e início da vacinação. Carapebus e SJB ainda não definiram datas. Já em Campos, o prefeito eleito, Wladimir Garotinho, está em contato com o instituto de pesquisas paulista para elaboração de um protocolo de intenção para a aquisição de vacinas. Nessa semana, o governo federal lançou o Plano Nacional de Operalização da Vacina contra a Covid-19.
Regras do STF — O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o Estado pode determinar aos cidadãos que se submetam, compulsoriamente, à vacinação contra a Covid-19, prevista na Lei 13.979/2020. De acordo com a decisão, o Estado pode impor aos cidadãos que recusem a vacinação medidas restritivas previstas em lei (multa, impedimento de frequentar determinados lugares, fazer matrícula em escola), mas não pode fazer a imunização à força. Também ficou definido que os estados, o Distrito Federal e os municípios têm autonomia para realizar campanhas locais de vacinação.
Pandemia não assusta campistas
O risco de contaminação por Covid-19 não impactou o movimento no boulevard Francisco de Paula Carneiro, no Centro de Campos. Nessa sexta-feira, campistas venderam, compraram e esperaram em bancos para sacar o auxílio do governo federal e o FGTS. Com a elevada temperatura o uso da máscara é desrespeitado.
Na área central, flagrantes de pessoas sem máscara não são difíceis, apesar de estas serem minoria. Quem desrespeita as normas corretas utiliza-a, por vezes, abaixo do nariz e da boca. São raros os que realmente não usam a máscara; na maioria das vezes, são crianças.
Para o ambulante Helton Paiva, de 28 anos, usar a máscara o tempo inteiro é “complicado”: “Fica complicado falar quando você usa a máscara. Temos que chamar a atenção com a voz. Ainda tem o calor que está ‘rachando’. Mas, sempre que vou atender e realizar a venda, coloco de volta a máscara”.
Folha 1
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