Campos e em meio à uma epidemia da doença um cemitério de ambulâncias na área da antiga Ferrovia Centro Atlântica oferece atrativos para a proliferação do mosquito Aedes aegypti. Os veículos abandonados preocupam moradores e comerciantes do entorno. A Prefeitura informou que os veículos estão à disposição da Justiça e que a área da antiga Ferrovia é vistoriada a cada 15 dias por agentes de combate a endemias.
Na casa da dentista Lúcia Maria Alves, de 35 anos, apenas o filho de 11 anos não pegou dengue. “ Eu, meu filho de 15 anos e meu esposo pegamos dengue. Ainda estamos nos recuperando, mas o pior passou. Eu não tenho dúvidas de que essas ambulâncias são focos de criadouros e por morar tão perto, nós ficamos mais expostos ainda”, disse a moradora do bairro há 10 anos, que tem como vista da sua janela da sala, as sucatas guardadas no terreno da antiga linha férrea da cidade.
No mesmo terreno onde as ambulâncias estão guardadas, funciona a Secretaria de Meio Ambiente de Campos e esse motivo gera desconforto ao dono de oficina Alair Rangel, 50 anos, que tem suas janelas viradas para o terreno, bem perto de onde as ambulâncias estão.
— O mato entra pelas minhas janelas, o risco de proliferação de mosquito ali é eminente e o que não entendo é ter ao lado uma secretaria de meio ambiente. Esse espaço tem jogado, sem proteção nenhuma, as ambulâncias, as estruturas de pontos de ônibus, carteiras de estudos, entre outros objetos e a secretaria deveria vê isso. Tudo isso causa dano ao meio ambiente e traz risco para a população — contou o comerciante.
E as reclamações são decorrentes de comerciantes e moradores do bairro. No caso do capoteiro Eliezer Fábio Lopes, de 59 anos, o risco está nos fundos da sua casa.
— A linha férrea passa atrás da minha casa e o mato está altíssimo. Ela segue com mata fechada até o terreno onde hoje está construído a Universidade Federal Fluminense (UFF), e eles deveriam ver isso. Quando chove, é nítido o aumento de mosquitos aqui, além das ambulâncias e as outras coisas que acumulam água. É um absurdo, um descaso total com a população — explicou.
O morador contou que já foi na secretaria de meio ambiente, mas nada é feito. “ Fica um jogo de empurra. Eu queria que eles fizessem uma limpeza desse mato, porque ele cresce rápido com chuva e eu não tenho condições, o terreno é muito grande”, explicou o capoteiro.
A dona de casa Amélia Gonçalves, de 70 anos, é outra que pede soluções para a retirada das ambulâncias e outros objetos que estão no terreno. “ Eu me mudei para cá tem 10 anos e já tinha essas ambulâncias. Todo ano, quando começa a chover e fazer calor, é um gasto enorme de repelente e o cuidado maior ainda com o terreno, mas o que adianta? Se passa anos e anos e nada muda? Acho que só não temos os maiores casos de dengue da cidade porque Deus tem piedade, porque o que não falta aqui são “casas” para mosquito viver”, desabafou a idosa.
Por meio de nota, a VLI, controladora da linha férrea, esclareceu que o município de Campos utiliza o espaço por meio de comodato. “Sendo assim, os veículos lá armazenados são de responsabilidade da administração municipal, que aguarda uma decisão judicial quanto à destinação dos automóveis. Por sua vez, os vagões, que fazem parte do material rodante da companhia, estão devidamente estacionados na faixa de domínio de ferrovia” informou.
A Folha então questionou a Prefeitura, que informou, por meio do Departamento de Patrimônio da Prefeitura de Campos, que as ambulâncias não integram o patrimônio da Prefeitura.
“Elas pertencem à empresa GAP e são objeto de uma ação judicial. Os veículos estão à disposição da Justiça, de forma que não cabe à Prefeitura reformar nem leiloar. Face à deterioração dos veículos, a Procuradoria Geral do Município já solicitou à Justiça providências, no sentido de realização de leilão, para desocupação do espaço e eliminação de qualquer risco que possa trazer à saúde pública. O juiz do processo já determinou que o oficial de justiça fizesse uma avaliação dos bens lá acumulados, para que seja realizado, em breve, um leilão”, diz a nota.
A Prefeitura, ainda por meio de nota, também acrescentou que o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) esclareceu que existem locais que são considerados Pontos Estratégicos (PE) e recebem inspeção dos agentes de combate a endemias, tratamento químico e mecânico a cada 15 dias, conforme o protocolo das atividades de combate às arboviroses para esse tipo de imóvel.
“Esse é o caso da Estação da antiga Ferrovia Centro Atlântica, em Campos. O CCZ esclarece ainda que no local mencionado, além da visita quinzenal, é mantido diálogo aberto com as secretarias e departamentos públicos que utilizam o espaço, bem como a administração do local, para que medidas de limpeza e manutenção sejam tomadas e o espaço fique livre de focos do Aedes aegypti” concluiu a nota.
A Folha pediu o contato de algum responsável pela empresa e também questionou se a Prefeitura mantém contato com a justiça para tomar alguma providência e aguarda a resposta.
Reunião - Na primeira reunião do Gabinete de Crise da Dengue e outras Arboviroses, realizada nessa quarta (6), foi anunciada a implantação do Centro de Referência da Dengue (CRD) II no Hospital Geral de Guarus (HGG), além da colocação de um contêiner no CRD I, anexo ao Hospital Plantadores de Cana, para melhorar o atendimento no espaço. Com padrão de transmissão sustentada da doença, o município está na fase amarela, de atenção redobrada.
Folha 1
Nenhum comentário:
Postar um comentário