O município de Campos publicou um decreto de “situação de emergência”, na sexta-feira (23), em função dos impactos gerados pelas chuvas dessa semana e os seus desdobramentos. Um dos mais graves foi o desabamento parcial do dique de contenção do Rio Paraíba do Sul, no Centro da cidade. O incidente ocorreu em um dia de caos, na segunda-feira (19), quando choveu 140,8 mm.
No momento, parte da Avenida XV de Novembro está interditada para obra de contenção do local, que chegou a engolir um carro que passava. O período de verão dobra a atenção das autoridades para possibilidade de mais chuva e para o aumento do nível do Rio Paraíba do Sul. Na manhã de sexta-feira, a medição das 8h do Paraíba estava na cota de 7,50m e há previsão de chuva na tarde e noite da véspera de Natal.
Para a “situação de emergência”, o Decreto Nº 701 de 23 de dezembro de 2022 se ampara em parecer técnico da Defesa Civil, colheu e reuniu informações de diferentes secretarias e órgãos abrigados no Gabinete Municipal de Gerenciamento de Crise (GMGC), em trabalho que foi apresentado na sexta ao prefeito Wladimir Garotinho.
— Hoje participei de reunião do Gabinete de Gerenciamento de Crise para finalizar o levantamento dos danos causados pelas fortes chuvas, principalmente em relação ao dique que rompeu no Centro da cidade nesta semana — assinalou Wladimir.
O governo explica que o Decreto se faz necessário em face das fortes precipitações pluviométricas de 140,8 mm aferidos no pluviômetro da Defesa Civil municipal, sendo que a média mensal é de 140 mm, com um acumulado este ano de 221 mm. As fortes chuvas causaram transtornos como alagamento, inundação, erosão de margem fluvial e outras consequências. O documento relata, ainda, a ocorrência de colapsos, como o desabamento do dique do Paraíba.
O Decreto relaciona desalojados e mais de 200 mil afetados com desabastecimento de água potável devido ao rompimento de linhas adutoras na área danificada do dique e perda de utensílios pessoais e gêneros alimentícios nas áreas afetadas pelas inundações e/ou alagamentos.
Área rural — Para socorrer o interior, a secretaria municipal de Agricultura, Pecuária e Pesca e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RJ) uniram esforços para fazer o diagnóstico de perdas e danos sofridos por agricultores de Campos em função das chuvas intensas e cheias de rios, canais e lagoas do município verificadas nos últimos dias.
Para isso, três forças-tarefas foram organizadas para fazer o levantamento dos problemas nas regiões da Baixada Campista, Lagoa de Cima e em localidades do Baixo Itabapoana, no Norte do município, como na localidade de Espírito Santinho. Em Ponta Grossa dos Fidalgos, na Baixada, o nível da Lagoa Feia subiu ao ponto de formar marolas (pequenas ondas) que ultrapassaram diques e chegaram a afetar residências.
Previsão do tempo — De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), para este sábado haverá ocorrência de chuvas isoladas no Sudeste de Minas Gerais, o mesmo ocorrendo no Rio de Janeiro e São Paulo. Áreas onde a incidência de chuva afeta os rios que cortam parte dos municípios do Norte e Noroeste Fluminense.
Pedras de grande porte para conter erosão
Equipes da secretaria de Estado das Cidades, com o acompanhamento do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), iniciaram, na tarde de sexta-feira (23), a proteção provisória do talude do dique na Avenida XV de Novembro. No primeiro momento, o trabalho é para conter novas erosões que possam ser provocadas pelo aumento do nível do rio Paraíba do Sul. A contenção está sendo feita de forma preliminar, com colocação de pedras de grande porte.
O Inea explica que segue em elaboração do projeto para intervenção na recomposição do dique, tendo como base os trabalhos de sondagem e topografia realizados no local. Equipes da subsecretaria de Planejamento Urbano, do Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) e da Guarda Civil Municipal apoiam as ações do Estado com a logística para interdição do tráfego.
Águas do Paraíba — O incidente com o dique no início da semana também afetou o abastecimento de água na cidade. A concessionária Águas do Paraíba vem trabalhando intensivamente para o restabelecimento na margem direita do Rio Paraíba do Sul. O incidente do dique da XV de Novembro acabou ocasionando o rompimento da adutora da concessionária.
Várias equipes estão no local. Os homens trabalham de forma interrupta para que, até segunda-feira (26), o fornecimento de água seja restabelecido, segundo informado pelo diretor da Águas do Paraíba, Juscelio Azevedo.
Secretaria analisa locais com afundamentos
Ainda sob efeito das chuvas, a Defesa Civil de Campos interditou parte da calçada da avenida José Alves de Azevedo, em frente ao Hospital Plantadores de Cana, em Campos, na quarta-feira (21), após afundamento. A área, que fica no trecho Centro em direção à avenida 28 de Março, começou a ceder e chama atenção de quem passa no local desde o início da semana.
O desmoronamento de parte da avenida XV de Novembro, com rompimento do dique, em decorrência das chuvas de segunda-feira (19), só acentuou as especulações da erosão na José Alves de Azevedo.
De acordo com nota da Defesa Civil, uma equipe da secretaria de Obras e Infraestrutura realizou análise técnica no local para identificar as causas do desnível, e como proceder.
O local foi demarcado com fita de segurança pelo órgão para evitar que as pessoas circulem na área. Uma parte do calçamento caiu deixando à mostra o buraco de terra, numa extensão de aproximadamente um metro de largura. “Depois do que aconteceu na avenida XV de Novembro esse buraco às margens do Canal Campos-Macaé preocupa”, disse André Rangel, que trabalha na área.
O mesmo afundamento em via urbana ocorreu na Avenida XV de Novembro, próximo ao presídio feminino Nilza da Silva Santos. A área também foi demarcada para avaliação técnica.
Cota do rio Muriaé cai depois do transbordamento
Outros municípios do Norte e Noroeste Fluminense foram afetados pelas chuvas. A situação de caos em Macaé, que registrou alagamentos e até crateras foram abertas pela força do temporal, no Morro São Jorge, logo foi contornada. As atenções se voltaram, então, para as cheias dos rios Muriaé, Carangola e Itabapoana, que afetaram cidades do Noroeste. Em Itaperuna, o rio chegou a cota de transbordo na quarta-feira (21) e ocorreu o mesmo em Bom Jesus do Itabapoana.
Na sexta-feira, a secretaria municipal de Defesa Civil de Itaperuna informou que o nível do Rio Muriaé começou a diminuir. Em sua última medicação às 9h15, o nível estava em 3,87 m. Depois das chuvas dos últimos dias, concomitante com as ocorrentes em toda a Bacia Hidrográfica do Rio Muriaé e do Rio Carangola, o Muriaé no município atingiu a cota de transbordo, com 4,12 m.
— A equipe da Defesa Civil continua monitorando as bacias dos rios Muriaé e Carangola, e também a previsão do tempo para as próximas horas — informa o secretário de Defesa Civil, Aluisio Luz.
Folha 1
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