O fundador do Grupo Viação Itapemirim passa por necessidade no balneário de Marataízes junto com funcionários com meses sem receber seus salários
O fundador do Grupo Itapemirim, Camilo Cola, que já foi considerado um dos empresários mais ricos do Brasil, com a maior frota de ônibus da América Latina, dono de um império econômico, passa por necessidades básicas de sobrevivência. Ele sofre maus tratos até com privação de comida, aos 94 anos de idade, no balneário de Marataízes, a 150 quilômetros da Capital, Vitória, Espírito Santo.
As denúncias são dos funcionários da sua residência que o acompanham há décadas e que estão com salários atrasados desde dezembro, com previsão de receber só a partir de março. "A condição dele é mais precária do que a nossa, pela sua idade. Ontem (23) ele comeu somente omelete, sem carne. Isto nunca tinha acontecido. O carro que está à sua disposição, com segurança para acompanhá-lo, um Corolla, encontra-se há dias parado na garagem, pois não tem gasolina", relata um funcionário.
PASSANDO NECESSIDADE
Praticamente, recluso, sem mobilidade, debilitado, sem decisão de ir e vir, o último recurso recebido para sobreviver durante todo verão foi de R$ 3 mil, oriundo da empresa Marbrasa que está como parte da herança do filho, Camilo Cola Filho, "Camilinho", como é conhecido, hoje. Morando em Miami, no EUA, estava no Brasil e fez visita ao pai dia 22. "Ele é incapaz de dizer ao filho que está passando necessidade. Há um mês não sai da residência", enfatiza um outro trabalhador doméstico.
"Camilinho", segundo os servidores mais próximos, dispensa sua presença ao lado do pai porque tem diferenças pessoais com Alberto Moreira, o chefe dos funcionários e um tipo de tutor do ex-deputado federal Camilo Cola. Ele quem faz pagamentos e previsões. A atual esposa do empresário, Maria Luzia, frequenta a casa irregularmente e, quando presente, também, faz o controle dos parcos repasses de dinheiro que chegam para provisão do empresário.
Pela narrativa dos denunciantes que preferem, por enquanto, ficarem no anonimato com medo de represália de Alberto Moreira, "o fundador da Viação Itapemirim nem tem noção do que está acontecendo em sua volta e temem pela sua morte por abandono. "Numa discussão com o chefe dos funcionários, cheguei a gritar: vocês querem a morte do "Seu Cola", relatou um deles que acompanha o empresário há quase 30 anos.
Camilo Cola pode encerrar sua vida em estado deprimente e por abandono. Perdeu todos os seus bens e os existentes, penhorados pela Justiça, e por sua condição frágil pela idade, não lhe oferecem retirada de recursos. A Viação Itapemirim foi adquirida por um grupo desconhecido de pessoas por mais de R$ 1 bilhão, contudo nenhum centavo entrou na conta do fundador. A maioria dos últimos funcionários da empresa ingressou na Justiça por falta de pagamento.
O maior e último recente escândalo envolvendo o patriarca, foi a luta na Justiça da filha Ana Maria Cola pela sua parte na herança, algo em torno de R$ 100 milhões. É considerada como deserdada. O filho, Camilo Cola Filho, deixou o país com a família, diante de tantos problemas por todo Brasil com empresas em recuperação judicial. Foi morar com a família nos EUA, como representante da MARBRASA, empresa de comércio exterior de mármore e granito com sede, ainda, em Cachoeiro de Itapemirim-ES.
De tudo, restou para o criador de um dos maiores impérios econômicos do Brasil, ser levado pelas mãos de um lado para outro, para agendas políticas sem relevância para aparentar que está bem. Produzem fotos para comprovar isso. Mas, no bastidor, sem assistência de médico na regularidade do passado, vive à dispensa do que lhe dão, faltando-lhe refeições regulares e só não se encontra em plena solidão porque está cercado de alguns últimos funcionários, também, passando necessidade - relata um deles que está vivendo das doações de vizinhos.
Por Jackson Rangel Vieira, jornalista colaborador do Portal FOLHA DO ES