Páginas

sábado, 20 de fevereiro de 2016

6 ANOS SEM DE WARLEY LOBO: LIÇÕES DE UM CRIME QUE NÃO SERÁ ESQUECIDO E PROVA DE QUE O DINHEIRO E PODER NÃO COMPRAM TUDO

WARLEY LOBO
Fernando Maurício de Souza, apontado como o executor, Eneias, intermediário do crime e  Alcemar Lopes Pimentel, mandante e autor da trama
O EX-EDIL TEVE A VIDA CEIFADA EM PLENA PRAÇA PÚBLICA.
Em um domingo de 21 de fevereiro de 2010, a vida do ex-vereador Warley Lobo Teixeira, de 38 anos, na época, foi negociada pela insignificância de R$ 30 mil. Por volta das 21h15, três disparos de Beretta 6,35 mm, que atingiram o tórax e a região lombar, interromperam precocemente a vida do político. O crime a sangue frio (tocaia) aconteceu de fronte a sua residência, na Rua Manoel Ferreira Marques – Rua 15, em São José do Calçado, na Região do Caparaó.
A Praça Governador Bley ficou marcada por esse triste episódio, que revoltou a população local que o enxergava como um parlamentar proativo quanto às necessidades políticas da cidade. Casado com a médica Kátia Teixeira, não deixou filhos, no entanto deixou um espólio para a comuna de aproximadamente 10.417 habitantes, conforme o Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Warley Lobo Teixeira, nascido em 11 de maio de 1971, numa terça-feira, em São José do Calçado (ES), filho de Sebastião Braz Teixeira (advogado aposentado) e Rosa Lobo Teixeira (professora aposentada), teve uma infância saudável, uma vez que apetecia ser médico para cuidar dos doentes e até mesmo dos animais - vivia com um gato nas mãos simulando uma aplicação de injeção.
Estudou no Jardim da Infância Marieta Castro (CEMEI). Depois entrou para a E.M.E.F Manoel Franco, educandário, o qual fez amizade e conheceu a delícia da culinária preparada pelas mãos da merendeira Enedina Maria Jonas Gomes. Na Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental “Mercês Garcia Vieira” foi um líder em tudo que fazia. Com seu jeitinho “falante” e mestre com as palavras ganhou a confiança dos companheiros, sendo eleito presidente do Grêmio Lítero-Esportivo Rui Barbosa. Em sua gestão foi autor de vários projetos, entre eles o de um jornal estudantil que era impresso na gráfica do jornal A ORDEM.
Aos 23 anos, já possuía importante espírito de administração, sendo gabado por todos. Em 1996, candidatou-se pela primeira vez a vereador do município de São José do Calçado, para o qual foi eleito com o maior número de votos (391) dos 13 vereadores eleitos. Uma polêmica marcou seu primeiro ano de mandato político, o “Calçareta”, que seria o Carnaval fora de época no município. Devido à rivalidade política não foi realizado. O evento estava com toda estrutura preparada e as bandas contratadas para os quatro dias de festa, o prefeito da época que era adversário do vereador, não consentiu que o evento fosse realizado. Depois do “tem ou não tem Calçareta”, o edil ganhou notoriedade, recebendo absoluto apoio do povo calçadense.
Em 2000 foi eleito com 410 votos e mais uma vez líder de votos na Câmara Municipal. A ampliação econômica e cultural do município se deve aos punhos do referido vereador que foi responsável por múltiplos projetos dinâmicos. Entre os seus projetos de lei, dos quais se orgulhava muito, enfatizava o projeto que determina entoar o Hino do Município em sessões solenes.
Com a verve de escritor – herdada dos seus troncos familiares: Lobo e Teixeira –, foi eleito para a Academia Calçadense de Letras. Tinha o dom e a arte de se comunicar em qualquer conjuntura que fosse da mais abstrusa a mais simples. Era Bacharel em Direito pela Faculdade de Cachoeiro de Itapemirim, contudo nunca desempenhou o ofício, sempre dedicando o tempo todo à sua família e à política.
No ano de 2004, concorreu a vice-prefeito ao lado do então Prefeito Jefferson Spadarott Bullus, no entanto não impetrou êxito, fato que não tirou seu entusiasmo político. Exerceu a função de assessor do ex-Deputado Estadual Sérgio Borges, o qual sempre o apoiou. O ex-deputado sob intermédio do edil ajudava o município com emendas e projetos que beneficiaram o povo calçadense. Em 2008, foi eleito vereador com 426 votos, estando na chapa do ex-prefeito José Carlos de Almeida.
Procurou, junto ao ex-prefeito José Carlos de Almeida, enfrentar a crise de uma forma perspicaz, elaborando projetos para que pudessem ser executados no ano de 2009, acreditando que a crise daria adeus e fosse “passado”. A crise se foi e assim foi feito. No ano de 2010 aconteceu a entrega das “sprinters” à Secretaria de Saúde e na ordem de serviço das Unidades Habitacionais no distrito do Divino Espírito Santo. Na ocasião ele disse: “A crise acabou, agora são obras”.
O assassinato de Warley Lobo Teixeira mudou a história de São José do Calçado. E fez fortalecer que o coronelismo ainda existe no município. O advogado e vereador Warley teve sua vida negociada pela bagatela de R$ 30 mil. Seus planos futuros junto à administração 2009-2012 foram interrompidos com três tiros em plena Praça pública. O sonho de ser prefeito não se concluiu, entretanto lutou por seus ideais e a classe menos beneficiada. Seu velório revelou-se a prova final de que foi um político muito prezado pelo povo, pois milhares de pessoas compareceram para prestar-lhe as últimas homenagens.
R$ 30 MIL
De acordo com apurações do Ministério Público, a morte do edil foi negociada por R$ 30 mil, apontando o ex-prefeito Alcemar Lopes Pimentel como o mandante do crime, assassinato que se deu na noite de 21 de fevereiro de 2010, em um domingo. O vereador foi baleado logo após descer do próprio carro, um Toyota Corolla. O executor, usando capacete, gritou: “Warley”. Em seguida, fez três disparos, que atingiram o tórax e a região lombar da vítima.
Político muito atuante na cidade, após ser baleado conseguiu andar alguns metros e pediu ajuda em um bar localizado na Rua Manoel Ferreira Marques – Rua 15. Sangrando muito, mas conseguindo andar e falar, a vítima jogou o molho de chaves no chão e pediu ajuda. Depois caiu, e, para surpresa de transeuntes próximos do boteco, o “pistoleiro” voltou andando tranquilamente e deu mais dois tiros nas costas da vítima. Uma das balas perfurou o coração do vereador, que foi encaminhado ao Hospital de São José do Calçado, porém não resistiu aos ferimentos e morreu na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Momentos antes do crime, ele deixou a casa dos pais, falando que iria dormir cedo para viajar a Vitória, pois tinha uma reunião com um secretário de governo para tentar obter recursos para o município. O corpo do vereador foi velado na Quadra de Esportes Samuel Rezende da Fonseca, próximo ao parque Monteiro Lobato. Muitas autoridades e populares marcaram presenças. O sepultamento foi por volta das 17h, no campo-santo local.
TRAMA DO DIABO
Como foi apurado, o crime foi tramado durante o feriado de carnaval nas ruas de Bom Jesus do Norte-ES, município que faz limite com São José do Calçado. Fernando Maurício de Souza, 24 anos (na época), foi apontado como o executor e foi preso em casa, em Bom Jesus do Norte. Confessou o crime à polícia e ainda contou que receberia R$ 30 mil pelo crime de pistolagem.
O intermediário do crime, Eneias Borges (36), morador de São José do Calçado, teria contratado Fernando e dado fuga ao executor, emprestando duas motocicletas. Ele foi preso no distrito de Alto Calçado (São Benedito). Eles já eram “duas figurinhas” conhecidas da policia. As duas motos e o capacete usado por Fernando Mauricio foram apreendidos pela polícia. Eneias e Fernando revelaram que o assassinato foi encomendado pelo ex-prefeito, Alcemar Lopes Pimentel (57), que foi preso em 28 de fevereiro de 2010, na cidade de Bicas (MG), onde, segundo policiais, encontrava-se foragido.
TOCAIA 
O executor, Fernando Mauricio (24), passou a tarde de domingo em um bar, a cinco metros da casa da vítima, monitorando sua rotina. Ele chegou a comentar que já havia seguido o vereador até o mercado em outro dia.
SENTENÇA X XADREZ
Na época, o Juiz da Comarca do município de São José do Calçado, Felipe Bertrand Sardenberg Moulin acatou a denúncia feita pelo Ministério Público, no processo criminal do assassinato do ex-vereador Warley Lobo Teixeira, e deliberou que os delatados do delito fossem a júri popular.
A decisão do juiz foi escrita em mais de 40 páginas. O meritíssimo creu que existiam provas aceitáveis que ratificam a acusação contra os três apontados como os responsáveis pelo assassinado do ex-vereador Warley Lobo Teixeira.
Além disso, o juiz Felipe Moulin decidiu manter a prisão dos três denunciados, para a garantia da ordem pública, pois segundo ele, em presença do modo que o crime foi perpetrado, a “sociedade não podia ficar exposta a toda sorte de atos violentos, à mercê de pessoas que, pelo que consta, mostraram-se extremamente perigosas e destemidas”.
Alcemar Lopes Pimentel e Eneias Borges, condenados pela morte de Warley Lobo, tiveram as penas reduzidas, depois de recurso de apelação. A Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), em sessão realizada na quarta-feira de 29 de julho de 2014, por unanimidade, deu parcial provimento a um recurso de apelação interposto pelo ex-prefeito de São José do Calçado, Alcemar Lopes Pimentel, e Eneias Borges, reduzindo suas penas, pelo assassinato do vereador Warley Lobo. O crime aconteceu em fevereiro de 2010 e eles foram condenados em 2013.
O ex-prefeito teve pena reduzida, mas vai continuar preso, conforme decisão do TJES. No julgamento realizado no ano de 2014, diante do Tribunal do Júri, o ex-prefeito foi condenado a 24 anos de prisão, enquanto Eneias foi sentenciado a 23 anos. Agora, com o acolhimento do recurso pelo TJES, a pena foi redimensionada para 19 anos e 18 anos, respectivamente. Os demais termos da sentença foram mantidos.
A relatora do caso, desembargadora substituta Hermínia Maria Silveira Azoury, decidiu pelo redimensionamento da pena-base, “devendo pelo princípio da proporcionalidade e razoabilidade sofrer a devida adequação”. A decisão foi acompanhada pelos demais desembargadores. 
PENA AGORA É DE 19 ANOS DE PRISÃO
A defesa de Alcemar também sustentava que a decisão do júri, no julgamento, teria ido contra a prova dos atos. No entanto, ao analisar esta alegação, a desembargadora não concordou com a alegação da defesa, entendendo que “analisamos os autos, vê-se de forma clara que o conjunto probatório é farto”. E, acrescentou, “não vislumbro qualquer dissonância entre o apurado nos autos e a decisão do Conselheiro de Sentença”.
O ex-prefeito pediu ainda para aguardar julgamento de apelação em liberdade, pedido que foi negado pelos desembargadores. “Quanto ao pedido de aguardar o julgamento em liberdade não vejo como assim proceder”, disse a relatora, ao citar sustentação do juiz de primeira instância, “considerando que o réu permaneceu preso durante toda a instrução da primeira fase do procedimento, entendo que o réu não pode apelar em liberdade, primeiro, porque a alegação de excesso de prazo já não mais subsiste, entendo para garantia da aplicação da lei penal, vez que, quando Alcemar foi preso, estaria foragido e afastado do distrito da culpa”.

BLOG LAST-MINUTE NEWS/Por Sérgio Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário