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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

NOROESTE FLUMINENSE RENOVA TRADIÇÃO DE PRODUZIR CAFÉ


Quem toma um café fresquinho nas cafeterias cariocas nem imagina que os grãos viajaram quase 400 quilômetros até à mesa. E nem que a produção de café – durante muito tempo o principal produto da pauta de exportações brasileira – ficou quase 100 anos em baixa no Rio de Janeiro, desde a decadência da economia cafeeira no Vale do Paraíba, no final do século XIX. A região Noroeste, tradicional produtora de café, volta hoje a se destacar diante do crescente investimento em tecnologias e programas de apoio à agricultura familiar, como o Rio Rural, da secretaria estadual de Agricultura.
A cidade de Varre-sai, a 374 quilômetros da capital, é uma das maiores produtoras de café do estado. Junto com Porciúncula e Bom Jesus do Itabapoana, forma o polo cafeeiro fluminense, que produz cerca de duzentas mil sacas por ano. A região de clima ameno, que reúne condições favoráveis para a lavoura de café, tem cerca de dois mil cafeicultores em uma área de mais de 10 mil hectares.
Nas últimas décadas, as grandes fazendas de café se dividiram em pequenas propriedades.
- Antes havia desânimo. Os produtores tinham potencial, mas não havia dinheiro para investir. O Rio Rural mudou isso - afirma o técnico executor do programa em Porciúncula, Ademir das Virgens. Os investimentos são constantes.
- Por meio do programa já foram adquiridos despolpadores e secadores, o que possibilita a obtenção de um produto mais lucrativo - explica. Antigamente, a saca era vendida a R$ 250 e agora chega a R$ 400.
Nos últimos dois anos, o Rio Rural investiu quase R$ 3 milhões em subprojetos para fortalecer a cadeia produtiva do café. Alguns deles interferem diretamente na qualidade do produto, como é o caso dos equipamentos para seleção, processamento, beneficiamento, secagem e armazenamento dos grãos. Só com a aquisição desses equipamentos foram gastos mais de R$ 800 mil, beneficiando um grupo de 139 produtores.
- Nós vemos resultados positivos em produtividade, qualidade e preço. Além disso, os agricultores tiveram redução de custos e também de mão de obra. Isso sem falar nos ganhos ambientais e no estímulo à organização social por meio dos projetos grupais - destaca José Antônio Zampier, supervisor regional da Emater-Rio no Noroeste.
Café gourmet
Alguns agricultores estão investindo em safras selecionadas, gerando o “café gourmet”, que tem um número cada vez maior de apreciadores no Brasil. Há nove anos, a produtora Ana Regina Rocha e o marido, Suhail Majzoub, da microbacia Bonsucesso, em Porciúncula, passaram a empacotar o café 100% arábica – espécie natural da Etiópia – com marca própria para cafeterias da capital fluminense. Eles produzem 12 toneladas por ano. Uma das preocupações é com o tempo de secagem dos grãos, feita ao ar livre e que demora, pelo menos, cinco dias. Se chover ou se tiver sol excessivo é preciso cobrir tudo imediatamente – o ideal é que o café tenha até 13% de umidade para ser classificado como bebida gourmet.
Ana e Suhail estão ansiosos para a chegada da safra 2016. Por meio do Rio Rural, conseguiram comprar uma estufa, que vai fazer secar os grãos em até dois dias.
- A gente mora longe dos grandes centros. Para ter um café de boa qualidade, precisamos de equipamento. Era preciso parar de colher para secar o café. Agora, a velocidade de produção vai ser maior - diz Ana Regina.
Preservação ambiental Na propriedade do casal, metade dos 74 hectares é ocupada por mata nativa. O Rio Rural ajudou na preservação das nascentes.
- Isso cria um diferencial também na venda. As pessoas valorizam o produto sustentável - afirma Suhail.
Outra boa história é a do produtor Fábio Alves, da microbacia do Ouro, também em Porciúncula. Há cinco anos, ele cultiva café sem agrotóxicos e agora tenta obter a certificação ambiental.
- A sustentabilidade é a minha alforria de um sistema que nos faz dependentes de insumos a preços que não estão sob nosso controle. Diminuí pela metade meus custos - conta ele. Por meio do Rio Rural, Fábio adotou práticas agroecológicas, como adubação orgânica e adubação verde, que aumentam a saúde do solo.
O agricultor abriu canais de contenção e caixas de captação de água para evitar a perda de nutrientes e umidade.
- No começo eu jogava adubo e a chuva levava. Se eu não preservasse, não teria água para lavar o café e para o tanque de peixes - disse ele.
Incremento de qualidade Há dois anos o Sebrae/RJ desenvolveu o Programa de Melhoria da Qualidade do Café da Região Noroeste, coordenado por Flávio Meira Borém, especialista em café e professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais.
A equipe de Borém foi até as propriedades ensinar boas práticas na pós-colheita, como secagem, estocagem e transporte dos grãos.
- Antes, se acreditava que a região só produziria o café riado (de classificação inferior) e agora estamos provando que podemos ter um café de qualidade - concluiu o especialista.
BOX Café de sucesso No mês passado, Varre-Sai foi sede do “Prêmio Qualidade do Café”, organizado pelo Sebrae/RJ. Vinte e cinco agricultores das microbacias Varre-Sai, Onça, Inverno e Boa Sorte participaram do concurso. Vinte deles são beneficiários de incentivos do Rio Rural para adoção de boas práticas produtivas.
O evento foi realizado na unidade de rebeneficiamento da Cooperativa de Café do Norte Fluminense. O café foi avaliado nos quesitos eficiência, por meio da adoção de tecnologias e práticas sustentáveis; e qualidade, com a degustação da bebida. O primeiro lugar nas duas categorias ficou com João Batista Rodolphi.
- Devo muito ao Rio Rural, que me beneficiou com a implantação de máquinas na minha lavoura, fundamental para essa conquista - destacou.

Ascom Emater
Blog do Jailton da Penha

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