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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

DE HERÓI DO MENGÃO A SALVADOR DE VIDAS NO CAPARAÓ









O que você queria ser quando crescer? Para muitos, principalmente entre os meninos, jogador de futebol e bombeiro, com certeza estão na lista. Já imaginou uma única pessoa realizar estes dois sonhos de criança? Foi o que aconteceu com Helder Moratti Dalmonech. Atualmente no Corpo de Bombeiros de Guaçuí, ele já brilhou nos gramados e usando nada mais nada menos, do que a camisa do flamengo.
Natural de Guaçuí e morador de Ibatiba, na região do Caparaó, Helder foi, ainda menino, para o Rio de Janeiro com um único objetivo: seguir carreira como jogador de futebol no Clube de Regatas do Flamengo. A família, apesar de ser tricolor, vibrava a cada conquista do garoto. Esse sonho não foi adiante, mas Helder tinha outro, que também fazia dele um herói, ser do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar.
Helder conta que começou no futebol muito novo. Jogava em um time de Ibatiba, pelo qual disputou a Copa A Gazetinha, uma das principais competições de base do Espírito Santo. O ingresso em um clube profissional aconteceu quando ele estava com 13 anos. Foi descoberto durante um “Peneirão”. “Lembro que teve uma seleção de jovens talentos aqui no Espirito Santo, e, depois de disputar com vários outros garotos, eu passei. Pensei que já estava dentro do time infantil do Flamengo, mas, chegando ao Rio, ainda tive que passar por outra seleção. Foi muito difícil mas, criança quando gosta é assim. Quando vi, já tinha dado certo”, lembrou Helder.
Ele foi então morar longe dos pais, em um alojamento, na concentração do clube, onde ficavam todos os jogadores que eram de fora do Rio.A concorrência era grande, já que o número de vagas era limitado a cerca de 40. Helder conta que o alojamento era muito bom, com boa alimentação, escola particular e acompanhamento de assistente social e psicóloga. Em contrapartida, ele tinha que jogar bem e dar resultados, porque o time tinha expectativa de vê-lo chegar ao profissional. “Se você tiver numa fase ruim e chegar um garoto melhor, você tem que sair do alojamento para dar espaço pra ele”, recorda.
Morattificou nove anos no Flamengo, de 1999 a 2009. Em 2006 e 2007, jogou no profissional. “Fui para o profissional em 2006, com o Ney Franco, e, em 2007, com o Joel Santana como treinador. Praticamente duas temporadas no time principal”, relembrou o zagueiro. Na memória, guarda várias histórias daquela época. “Foram quase dez anos de história que pude viver muito intensamente. Aos quinze anos, comecei a viajar. Participei de um campeonato no México, depois viajei para outros países também”, fala.
O ex-zagueiro do Flamengo destaca que foi uma mudança de vida drástica para um garoto que saiu do interior e só conhecia aquele mundo pela televisão.
VIRADA
Dos tempos do futebol, a ida para o profissional foi o que mais marcou Helder. “Eu era do júnior e, em 2006, tive a oportunidade de ir para o último jogo do Brasileirão daquele ano. Eu já tinha estreado contra o Paraná e joguei poucos minutos. Mas, nesse último jogo, contra o São Caetano, meu time estava perdendo de 1x0 e eu entrei no intervalo. Zagueiro já não é muito de fazer gol e foi muito rápido, em questão de 15 minutos eu fiz dois gols e viramos o jogo. Então, aquele fim de ano, pra mim, parecia como se eu fosse o principal jogador do Flamengo. Jornais falavam muito de mim, do próximo ano, porque criou uma expectativa em mim, por isso foi muito marcante”, explica.
Por ser zagueiro, Helder contou que seu objetivo maior naquela partida era não deixar o São Caetano marcar, e que apenas aproveitou as oportunidades que teve para fazer os dois gols que deram a vitória do Flamengo. “Aconteceu! Foi um momento mágico que uniu tudo isso. Eu estava bem preparado, aproveitei a oportunidade, mas é um conjunto mesmo de vários fatores que levou até aquele momento tão especial e que se tornou marcante”, garante.
Além do Flamengo, antes de deixar os gramados Helder jogou no Tombense, em Minas Gerais. Ele saiu de campo, definitivamente, em 2010.
A mudança de carreira
O contrato de Helder com o Flamengo acabou em 2007. Naquele ano, ele disputou apenas duas partidas com a camisa do time. De acordo com o ex-zagueiro, naquela época, a política do clube era diferente. Apostava-se muito nas categorias de base.
Em 2007, por exemplo, o Flamengo chegou a ter nove zagueiros no elenco. Isso tornou ainda mais competitiva a disputa entre os atletas. “Eu, como fiz esses dois gols, não fui emprestado para outro time, como o Egídio do Palmeiras e o Renato Augusto do Coríntias, que tiveram a oportunidade de jogar em outros clubes profissionais e ganhar experiência. Mas, como teve todo um apelo da torcida, por ser um garoto da base que se destacou, tive que disputar espaço com grandes profissionais”, contou. “Acredito que ali foi o início do fim da minha carreira”, completou. Mas, ele faz questão de dizer que foi um momento muito especial e que, apesar de ter sido muito difícil tomar a decisão de parar, acredita ter feito a coisa certa e na hora certa. Com incentivo do irmão, que já era militar, o ex-zagueiro ingressou no Corpo de Bombeiros do Espírito Santo.
O prazer em ajudar
Ao se tornar bombeiro, Helder passou a ser conhecido pela patente e o sobrenome. O jogador Helder passou a bola para o soldado Moratti. Hoje, Moratti diz estar feliz com profissão que escolheu e pretende seguir carreira. Além de ter o privilégio de trabalhar perto de casa, em um quartel que, segundo ele, tem um clima de trabalho muito bom. “Sem contar que a profissão é muito bem vista pela sociedade. Então, me sinto muito honrado em ajudar as pessoas, salvar vidas. E, ao ver minha trajetória de vida, vejo que minha família tem orgulho e eu também me orgulho de hoje, estar nos bombeiros, e, de ter sido jogador do Flamengo, que é o sonho de qualquer criança”, afirma.
Moratti se considera realizado. Ele descreve que fez o caminho contrário da maioria dos jovens. Porque saiu de casa muito cedo, viveu longe de casa e, agora, tem a oportunidade de voltar a curtir mais a família. Ele entrou para os bombeiros em 2013. Nesse tempo de experiência, o militar destaca que o mais importante, para ele, é saber que está ajudando pessoas. Ele diz que conta com orgulho, suas vivências para a família.
Outro fator marcante para Moratti, na vida como bombeiro militar, são as amizades. “Aqui,nós trabalhamos aquartelados, não estamos na rua, então, temos um convívio de família. Quando a sirene toca, todo mundo se prontifica. Às vezes é uma ocorrência do caminhão, mas a outra viatura vai pra dar um apoio. Então, somos uma equipe e levamos isso para fora do quartel também. Com certeza, vejo estas amizades como muito importantes em minha vida” destacou.
As amizades que ficaram
Sobre amizade, aliás, Moratti tem muito o que falar. Várias, que ele fez no campo, na época do Flamengo, continuam, sobrevivendo ao tempo e à distância. “É um pessoal muito alegre, muito animado, então, é uma rotina de vida muito bacana. Você pode ficar dez anos sem ver a pessoa, mas, quando a encontra, o assunto continua o mesmo”, brincou.
Ele destacou que, daquele time em que jogou, cada um seguiu a vida. O goleiro do Flamengo, Paulo Vitor, é um dos amigos com que Moratti mantém contato mais frequência. “Por várias vezes o Paulo Vitor esteve aqui em Ibatiba. A família dele é de Assis, em São Paulo, um pouco mais longe, então, sempre que tínhamos uma folga no fim de semana, vínhamos para a minha casa”, recordou.
Cléberson, que já disputou várias partidas pela Seleção, e o atacante Kayke, também se tornaram amigos de Moratti, na época em que jogaram juntos no Flamengo.
Paixão que continua
Mesmo mudando de profissão, Moratti não abandonou por completo os gramados. Ele faz parte de um time de futebol society, composto por bombeiros do quartel onde trabalha. “Participamos de partidas entre equipes do município e região. É um momento de descontração que temos juntos”, comentou.

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